terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

SIMON KUPER - Franceses se aposentam aos 62: entenda por que eles estão certos, FSP (definitivo)

 

Simon Kuper
FINANCIAL TIMES

A rota das marchas de protesto em Paris percorre o nosso bulevar. O ciclo da vida francesa é que, a cada poucos anos, o governo tenta fazer todo mundo trabalhar mais, até que uma revolta popular elimina o plano.

Com Emmanuel Macron querendo aumentar a idade mínima da aposentadoria de 62 para 64 anos, a revolta recomeçou. Outro dia, me espremi para sair de nosso prédio, passando pela barraca do Partido Comunista em frente à porta, para a rua lotada de manifestantes, e li as faixas: "Dar a vida para o patrão, não!"

Eu costumava adotar a ideia padrão anglo-saxã de que os franceses deveriam aceitar a realidade. Os franceses de 62 anos agora podem esperar viver até os 85, criando o que está próximo da aposentadoria média mais longa da história global. Trabalhe até 65 anos e ainda terá 20 anos de bocha, foi o que sempre pensei.

Mas minha vida aqui tem sido uma série de percepções de que nas questões mais importantes –a guerra do Iraque, energia nuclear, queijo– os franceses tendem a estar certos. Mudei de ideia sobre a aposentadoria. Os franceses lideraram o mundo ao criar uma nova fase da vida gloriosa: a primeira década de ouro da aposentadoria. Seu sistema permanece quase exequível. Todos os outros deveriam aprender com eles.

 Movimentação em estação de metrô em Paris na véspera de greve geral convocada contra reforma da Previdência
Movimentação em estação de metrô em Paris na véspera de greve geral convocada contra reforma da Previdência - Gonzalo Fuentes - 18.jan.2023/Reuters

O Valhalla para aposentados franceses é uma invenção recente. Em 1970, Simone de Beauvoir escreveu que a sociedade tratava o idoso como um "lixo", com padrões de vida "miseráveis". Mas em 1981 François Mitterrand tornou-se presidente promovendo uma nova visão da aposentadoria: "Finalmente viva!" Ele cortou a idade da aposentadoria de 65 para 60 anos.

Ainda hoje, muitos trabalhadores franceses deixam o emprego antes de chegarem aos 60. À medida que as empresas expulsam os funcionários mais velhos, a França está "próxima do recorde mundial de taxa de inatividade de pessoas com mais de 55 anos", diz a economista Claudia Senik.

A aposentadoria francesa se divide em duas fases distintas. A fase dois é brutal: decadência, viuvez, lar de idosos e, finalmente, bem, o fim. Mas o ideal francês é a década de ouro de liberdade que vem antes. Aos 60 anos, seu trabalho está feito, os filhos criados, os pais geralmente mortos e, pela única vez na vida, você pode fazer o que quiser.

Quando os franceses se aposentam, sua saúde inicialmente melhora, observa Senik, presumivelmente porque eles se exercitam mais. Poucos caem no vazio: em 2003, apenas 9% descreveram a passagem para a aposentadoria como um período ruim, informou o instituto nacional de estatística Insee. Os aposentados franceses desfrutam de padrões de vida medianos mais altos do que os trabalhadores, se levarmos em conta o fato de que os aposentados normalmente não estão financiando filhos ou hipotecas.

Uma aposentada que conheço me diverte com histórias de seus invernos na Índia, onde ela e seus amigos festejam como mochileiros adolescentes. Danièle Laufer, em "L'année du Phénix" [O ano da fênix], cita outras aposentadorias felizes: começar o dia com um café da manhã de duas horas no jardim, ir duas vezes a uma exposição de museu para relembrar, ou localizar antigos namorados. Muitas vezes os homens se reinventam como voluntários e as mulheres como avós.

Grande parte da vida adulta francesa é estruturada a serviço da década de ouro. Muitas pessoas começam a sonhar com a aposentadoria aos 20 anos. Apenas 21% dos franceses dizem que o trabalho ocupa um lugar "muito importante" em suas vidas, muito abaixo dos 60% de 1990, informa a Fundação Jean-Jaurès.

A vida profissional é agora concebida como 172 trimestres (para os nascidos a partir de 1973) pagando contribuições para uma pensão completa do Estado. A quantia que você paga se correlaciona apenas modestamente a quanto o Estado lhe dará no final. Na França, as previdências privadas são raras e a aposentadoria visa igualar.

Entendo os argumentos de Macron a favor da reforma. Mas a generosidade atual é apenas modestamente insustentável: a França está envelhecendo mais lentamente do que os países vizinhos, sua relação dívida/PIB de 112,5% está abaixo da dos Estados Unidos e os pagamentos totais de pensões devem permanecer estáveis como porcentagem do PIB, pois as pensões não continuarão acompanhando os salários.

Algumas reformas fazem sentido –por exemplo, incentivar os idosos a trabalhar pelo menos meio período, como cerca de 400 mil persistentes já fazem. Mas é desagradável assistir a ministros, economistas e líderes empresariais exortando todo mundo a continuar trabalhando. Os exortadores são as pessoas mais longevas e que mais ganham na França. Ao contrário da maioria dos empregados, eles obtêm status e prazer em seus empregos.

Aqui está minha proposta preliminar para a reforma da previdência francesa: fazer que os 10% mais ricos trabalhem até, digamos, 67 anos. Como eles são os maiores contribuintes, isso deve ajudar a reabastecer o sistema. Deixem as pessoas comuns se divertirem enquanto podem.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Deirdre Nansen McCloskey Em quem você acredita?, FSP

 


Antes era fácil. Quando você era pequeno, acreditava em sua mãe, depois em seus amigos, depois nos padres e nos professores.

E houve um tempo antes da internet em que você acreditava em tudo o que um colunista da Folha dizia ou no que era dito no telejornal.

Nos Estados Unidos, até a invenção do noticiário a cabo e depois a explosão da internet, havia três redes e meia, ABC, NBC, CBS e a Public Broadcasting Network, a que poucas pessoas assistiam. Naquela época, sabíamos o que era Verdade. Observe a letra maiúscula. Não era apenas a verdade do dia a dia, em letras minúsculas.

O grande âncora do noticiário nacional da CBS, Walter Cronkite, terminava seu breve noticiário todas as noites dizendo em sua voz autoritária: "Foi assim que aconteceu em..." e citava a data. Quando ele se voltou contra a Guerra do Vietnã, milhões de americanos de repente souberam que foi assim que aconteceu. Era Verdade.

O ex-presidente Bill Clinton em encontro com o ex-âncora da CBS Walter Cronkite - Mike Theiler - 13.mar.97/Reuters

Depois da internet não. Você provavelmente conhece pessoas que acreditam que Bolsonaro ganhou a última eleição. E essa não é a única coisa impossível em que elas acreditam. A democratização das notícias corroeu a autoridade. Bom. No entanto, a autoridade responsável e autocrítica não é de todo ruim. A ciência tenta ser assim, embora imperfeitamente. Mas pelo menos os cientistas e Walter Cronkite, sua mãe e seu padre estão comprometidos com a verdade. No mínimo, eles tentam sinceramente não contar mentiras para você. Grandes Mentiras, com G e M maiúsculos.

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Nenhum compromisso desse tipo fundamenta uma mídia totalmente democrática. Nunca foi assim. Qualquer tolo com uma caneta podia, antigamente, espalhar boatos sobre bruxas. Qualquer tolo com um jornal podia começar guerras. Qualquer idiota com uma estação de rádio podia, e ainda o faz, espalhar Mentiras. Hoje em dia qualquer idiota, ou vilão, com um computador pode dizer que Bolsonaro ganhou ou que o Partido Democrata dos EUA é uma conspiração de pedófilos trabalhando numa pizzaria em Washington.

Como corrigir isso? Não envolvendo o Estado, eu disse a você recentemente. Tentamos isso nos EUA sob a "doutrina da justiça" para rádio e TV.

Não, a responsabilidade é nossa, não do STF. Não podemos voltar a crer, como crianças, em qualquer coisa que é dita. Fique esperto sobre o que os antigos chamavam de "retórica". Essa é a verdade adulta, em letras minúsculas.

Prefeito sinaliza que poderá remover barracas de moradores de rua em SP, FSP

 Carlos Petrocilo

SÃO PAULO

Incomodado com as barracas de moradores em situação de rua espalhadas pela cidade, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), sinalizou que a sua gestão poderá removê-las.

Para isso, Nunes deverá contar com o novo subprefeito da Sé, o coronel Álvaro Batista Camilo, que foi empossado nesta terça-feira (7).

"Existe legislação, as pessoas não podem ter barraca montada em nenhum lugar, na Sé ou não. Houve uma exceção por conta da pandemia [de Covid]", afirmou Nunes durante a cerimônia de posse de Camilo, na prefeitura, região central.

"A partir do momento em que ofereço condições da pessoa ir para um abrigo, ou hotel, ou receber o auxílio-aluguel, por que vai ficar na rua? Não podemos permitir que as pessoas montem barracas para fazer mendicância na rua."

Barracas sob o viaduto do Glicério, no centro de São Paulo, em abril do ano passado - Zanone Fraissat - 13.abr.2022/Folhapress

A reportagem observou, na manhã desta terça, o momento em que uma equipe da Guarda Civil Metropolitana preparava a remoção de uma delas na avenida Sumaré, zona oeste da capital.

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O argumento de Nunes é que a prefeitura tem oferecido condições para a população deixar de morar nas ruas. De acordo com ele, 9.800 pessoas deixaram as ruas entre janeiro e novembro do ano passado.

O último censo da população de rua, encomendado pela prefeitura, apontou 31.884 pessoas sem-teto na capital em 2021.

"Como São Paulo é uma cidade que acolhe muito bem, recebemos gente de outros municípios, estados e muitos países", disse o prefeito.

Segundo ele, a gestão investe R$ 1,5 bilhão em assistência social. "Desse total, R$ 40 milhões vêm do governo federal, estamos fazendo com o orçamento da prefeitura."

O subprefeito da Sé disse, em entrevista à Globo, que as barracas não deverão ser montadas durante o dia. "Vamos começar um trabalho gradativo, não é simplesmente ir lá e tirar a barraca, nós vamos oferecer lar para que as pessoas tenham acolhimento", afirmou Camilo.

A fala do secretário recebeu o apoio de 11 Conselhos Comunitários de Segurança da região central: 25 de Março, Bela Vista, Bom Retiro, Brás, Cambuci, Centro, Consolação, Jardins, Liberdade, Pari e Santa Cecília.

Em nota conjunta, eles declararam que as regras de civilidade urbana devem valer para todos e pede para que Camilo "tenha todas as condições de realizar os regaste do centro de São Paulo".

"O espaço público é de todos e justamente por isso é necessário que ele possa ser usufruído por todos os cidadãos que nele estão morando, trabalhando ou em turismo, de modo livre e seguro", afirma o texto.

O decreto que veta a instalação de barracas está em vigor desde março de 2020, e foi assinado pelo então prefeito Bruno Covas.

A deputada federal Erika Hilton (Psol) entrou com representação na Comissão Nacional dos Direitos Humanos após as declarações de Camilo.

Ao tomar posse nesta terça, Camilo fez um breve discurso e se comprometeu em revitalizar o centro da cidade.

"Pretendemos trazer dignidade à vida das pessoas que moram no centro. O centro merece isso. Vamos revitalizá-lo, trabalhar para que seja um lugar de qualidade de vida para todos", afirmou o subprefeito.

Na Sé, Camilo irá suceder Marcelo Vieira Salles, que tomou posse como vereador.

A Subprefeitura da Sé reúne oito bairros —Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Santa Cecília e Sé— e cartões-postais da cidade como avenida Paulista e o Mercadão.

Também nesta terça, Nunes empossou mais cinco nomes do primeiro escalão da prefeitura. São eles, Bruno Lima (secretário de Inovação e Tecnologia), Fernando Chucre (secretário executivo de Planejamento e Entregas Prioritárias da Secretaria de Governo), Enrico Misasi (secretário executivo de Relações Institucionais da Secretaria Municipal da Casa Civil), João Cury (diretor-presidente da Cohab) e Taka Yamauchi (diretor-presidente da SPObras).