quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Governador de São Paulo veta redução de imposto sobre heranças e doações, FSP

 

Alíquota no estado continua em 4%; a mais alta do Brasil é de 8%

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SÃO PAULO

O governador Tarcísio de Freitas vetou o projeto de lei aprovado em 2022 na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) que reduziria o imposto sobre heranças e doações no estado.

O ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos) passaria de 4% para 1% nas heranças e para 0,5% nas doações.

Cálculos da Secretaria da Fazenda e Planejamento de São Paulo indicam que a medida teria impacto de R$ 4 bilhões ao ano.

Na mensagem encaminhada à Assembleia Legislativa nesta quarta (8), Tarcísio afirmou reconhecer os "elevados propósitos" do legislador. Defendeu, porém, que medidas que impliquem em renúncia de receita precisam estar acompanhadas de estimativa de impacto no orçamento e de meios de compensação.

O governador Tarcísio de Freitas visita obras da linha 6 -Laranja do Metrô - Rubens Cavallari-26.jan.2023/Folhapress, Cotidiano

O projeto era de autoria do deputado Frederico d'Avila (PL-SP). Para o parlamentar, "a exacerbação da carga tributária do ITCMD incidente sobre a transmissão do patrimônio, seja inter vivos ou causa mortis, sobretudo após a pandemia, é injustificável." O Brasil, no entanto, tem uma alíquota baixa para os padrões internacionais.

O governador também cita, na mensagem de veto, que a Secretaria da Fazenda e Planejamento já tinha sido desfavorável à proposta por entender que ela esvaziava "quase completamente a arrecadação do imposto", uma vez que a nova alíquota corresponderia a 25% do patamar atual, no caso das heranças, e de 12,5%, para as doações.

O ITCMD deve ser pago por quem recebe bens ou direitos, por herança ou doação. Quem recebe dinheiro, veículos, apartamento ou outros bens precisa fazer a declaração.

Trata-se de um imposto estadual. Cada ente define os critérios e alíquotas para suas regiões. O imposto não pode passar de 8%, conforme definição do Senado Federal. Atualmente, ele varia de 1% a 8%.

Alguns estados possuem alíquota única, como São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Pará e Roraima (todos de 4%), Amazonas (2%), Rio Grande do Norte (3%) e Minas Gerais (5%).

Nos demais, geralmente, varia de acordo com o valor dos bens e com um diferencial entre herança e doação em vida. Dez estados aplicam a alíquota mais elevada, entre eles, Santa Catarina (1% a 8%), Bahia (de 3,5% a 8%) e Rio de Janeiro (de 4% a 8%).

Em alguns locais, há uma faixa de isenção, além de regras sobre imunidade.

As alíquotas atuais foram instituídas, na maioria dos casos, em meados da década passada. Em São Paulo, por exemplo, o ITCMD deve ser pago por quem recebeu herança ou doação a partir de 2001.

De acordo com a Tax Foundation, a taxa sobre herança mais alta do mundo, de 55%, está no Japão, seguida por Coreia do Sul (50%) e França (45%). Mesmo vizinhos latino-americanos têm taxas mais altas que a do Brasil, como o Chile (25%) e o Peru (10%).

Elio Gaspari A estatal do trem-bala é imortal, FSP

 Marcelo Guerreiro Caldas, ex-diretor da Infra S.A., foi afastado do conselho de administração da estatal, acusado de ter apresentado um diploma falso para assumir o cargo.

Maganos com diplomas esquisitos fazem parte da vida, mas o doutor Marcelo jogou luz sobre a existência da empresa. Em burocratês, ela é uma "empresa pública que nasce da junção da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. com a Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e é responsável por obras ferroviárias, planejamento e estruturação de projetos para o setor de infraestrutura de transportes".

Obras da ferrovia Norte-Sul, de responsabilidade da estatal Valec, em Anápolis (GO) - Pedro Ladeira - 11.mai.17/Folhapress

Traduzindo, a Infra é um avatar do trem-bala que ligaria o Rio a São Paulo em poucas horas. A ideia do trem surgiu em 1996, encorpou dez anos depois e, aos poucos, foi virando poeira. O presidente da Valec, estatal que cuidaria de sua construção, passou algum tempo na cadeia por outros malfeitos. Morto o projeto do trem, seus interesses burocráticos reencarnaram-se na EPL. Do seu casamento com a Valec, surgiu a Infra.

Em quase 30 anos o Brasil teve governos de centro, de esquerda e de direita. Durante quatro anos, o ministro Tarcísio de Freitas ficou na pasta da Infraestrutura e elegeu-se governador de São Paulo. Só não conseguiu acabar com a estatal do trem-bala.

Deixem o Banco Central em paz, Elio Gaspari - FSP

Depois de quatro anos de Bolsonaro com seus destemperos de cercadinhos, era possível esperar uma distensão na vida política nacional. Lula prometeu paz, estabilidade e previsibilidade. Em pouco mais de um mês de governo, na sua relação com o Banco Central independente, com o inevitável ricocheteio na economia, entregou beligerância e balbúrdia.

A contrariedade de Lula tem dois aspectos. Num, ele e seu ministro da Fazenda acham que a taxa Selic de 13,75% ao ano é exagerada. Noutro, ele acredita que a autonomia do Banco Central é uma "bobagem". A respeito da taxa, a discussão está aberta. Quanto à "bobagem" não há o que discutir, a autonomia do Banco deriva de um ato do Congresso.

Prédio visto de baixo, com árvore seca em primeiro plano, bate sol no prédio e ao fundo céu azul
Sede do Banco Central em Brasília - Pedro Ladeira - 4.mai.22/Folhapress

Num de seus momentos de crítica, Lula formulou uma comparação:

"Eu duvido que esse presidente do Banco Central, (Roberto Campos Neto) seja mais independente do que foi o [Henrique] Meirelles."

Verdade, mas a diferença não está na figura de Campos Neto, está na de Lula. Do início de 2003 ao final de 2010, Henrique Meirelles presidiu o Banco Central e o então presidente Lula deixou-o em paz. Nunca se referiu a ele como "esse presidente" ou "esse cidadão".

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Passou o tempo e Lula entrou no seu terceiro mandato sem ao menos uma reunião protocolar com Campos Neto. Pior: durante a transição, enquanto sua equipe negociava uma Emenda Constitucional para desafogar seu primeiro ano de mandato, o presidente do Banco Central não sabia sequer para quem devia telefonar.

Na sua última investida, Lula disse que "não existe justificativa nenhuma para que a taxa de juros esteja em 13,50% [ela está em 13,75%]. É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juro".

O Copom de hoje, como o do tempo de Meirelles, fixa a taxa de juros para segurar a inflação, essa sim, uma vergonha. Lula falou que houve aumento da taxa de juros, o que não aconteceu. Ela ficou onde estava. Aumento da Selic ocorreu em janeiro de 2003, no primeiro mês do mandato de Lula, quando o Copom elevou-a de 25% para 25,5%.

À época, ele não reclamou, pois estava de olho na credibilidade de seu governo. Obteve-a. (O vice-presidente José Alencar viria a criticar os juros altos, sem chamar quem quer que fosse de "esse cidadão".)

Passados vinte anos, Lula pode até ser outro, mas, ao escolher o Banco Central, para o papel de vilão, e seu presidente para o de bode, difere do que foi e assemelha-se ao seu antecessor. Emparedado pela pandemia do Covid, transformou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta em bode, demitiu-o, e não foi a lugar algum.

Há um forte cheiro de intriga palaciana no que parece ser uma malquerença de Lula com Roberto Campos Neto. O presidente do Banco Central foi a alguns eventos onde não deveria ter aparecido, mas chamá-lo de bolsonarista é patrulha vulgar.

Num governo que teve no ministro Paulo Guedes um vendedor de sonhos, Campos Neto teve um comportamento institucional. Num sinal de novos (e velhos) tempos, além das críticas de Lula e de alguns de seus ministros, ele é envenenado na blogosfera, arma trazida para o cotidiano político pelo capitão Bolsonaro.