sábado, 4 de fevereiro de 2023

Maconha aumenta desejo sexual e intensidade do orgasmo, sugere estudo, FSP

 

SALVADOR (BA)

Um estudo conduzido nos Estados Unidos aponta que o uso de cannabis antes do sexo ajuda a aumentar o desejo e a intensidade do orgasmo. Além desses benefícios, mulheres também reportaram maior incidência de orgasmos múltiplos com a experiência.

O estudo foi feito com 811 pessoas entre 18 e 85 anos. A maior parte da amostra foi composta por mulheres brancas com ensino superior. Os participantes preencheram um questionário sobre satisfação, desempenho e a maneira como usam a planta antes do sexo.

Especialistas ouvidos pela Folha, porém, desaconselham o uso com o objetivo de melhorar relações sexuais. De acordo com eles, há alternativas mais eficientes como terapia. O uso recreativo não ser liberado no país também é motivo de alerta, pois não há segurança em plantas vendidas em rotas de tráfico.

No questionário utilizado pelos pesquisadores, os autores usaram o termo maconha para se referir a qualquer tipo de cannabis sativa. A técnica utilizada para encontrar os participantes foi a chamada "bola de neve", na qual os integrantes convidam novos respondentes em sua rede de contatos.

mulher branca atrás de desenho de folha de cannabis
Marcelle Louzada, 41 anos, usa a maconha para relaxar. Segundo ela, a substância aumenta o prazer e melhora os sentidos. Ela é uma das fundadoras do segurando as pontas, coletivo de mães que usam cannabis - Karime Xavier/Folhapress

O estudo "The influence of cannabis on sexual functioning and satisfaction" (A influencia da cannabis no funcionamento e na satisfação sexual, em português), foi publicado em janeiro no Journal of Cannabis Research.

Mais de 70% relataram aumento de desejo sexual e intensidade do orgasmo após consumir a maconha antes da prática sexual. A maioria estava em relação monogâmica, e 25% da amostra era LGBTQIA+. Os participantes relataram que a substância melhorou sentidos como toque e paladar, além de aumentar a satisfação durante a masturbação.

Além desses benefícios, as mulheres citaram o aumento da chance de terem orgasmos múltiplos na relação. Por causa dos resultados, os estudiosos sugerem que essa pode ser uma alternativa para tratar a desigualdade de orgasmo, termo criado pela psicóloga e terapeuta sexual Laurie Mintz no livro "Becoming Cliterate".

Segundo literatura apontada no estudo, 90% dos homens afirmam chegar usualmente ao orgasmo nas relações sexuais, enquanto menos de 50% das mulheres vivem a experiência regularmente. O número de mulheres que sempre chega ao orgasmo é de 6%.

"Os resultados desse estudo sugerem que a cannabis pode potencialmente fechar a lacuna de desigualdade de orgasmo", afirmam os estudiosos, que apontam que mulheres com vaginismo ou com pouco desejo podem aproveitar os benefícios.

Com vontade de relaxar, a consultora de vendas Alexandra Francisco, 26, que não participou do estudo, quis experimentar como seria usar maconha antes de ter relações sexuais. Segundo Francisco, a experiência a ajudou a se conhecer melhor e intensificou seus sentidos.

"Quando usava, ficava mais à vontade com o meu corpo. Consegui entender onde era e qual era o movimento que me deixava mais confortável", diz. Ela também afirma que o uso da planta facilitou e intensificou o orgasmo, além de tornar as preliminares mais prazerosas.

A psicóloga e arte-educadora Marcelle Louzada, 41, que também não fez parte do trabalho, diz que o uso da cannabis antes do sexo proporciona uma experiência sexual mais fluida e relaxada. "Ainda é um tabu enorme para nós, mulheres, gozarmos e falarmos do nosso gozo, desejarmos mais do que sermos desejadas. A maconha facilita o gozo de si", afirma.

Em abril de 2021, ela fundou com outras mulheres o coletivo de mães antiproibicionistas "Segurando as Pontas, cujo foco é maternidade, pós-parto e o consumo de cannabis. Segundo Louzada, as mães que participam do grupo citam com frequência o poder terapêutico da masturbação e da maconha.

De acordo com Carolina Ambrogini, sexóloga e ginecologista na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o efeito positivo da maconha na sexualidade se dá em decorrência no THC, substância psicoativa da maconha, que é responsável pelo relaxamento.

"Ele tem realmente a propriedade de melhorar os sentidos, como paladar e toque", diz.

Para ela, que coordena o Projeto Afrodite, ambulatório de sexualidade feminina do Departamento de Ginecologia da Unifesp, há alternativas mais adequadas para melhorar a relação sexual, como a terapia.

"A melhor forma é entender a sua própria sexualidade, compreender como você tem orgasmo e do que gosta. A terapia sexual melhora a vida de forma global e ajuda a quebrar tabus", afirma.

Ambrogini diz que o uso da cannabis pode ser paliativo e trazer riscos ao consumidor, já que, como a maconha para fins recreativos não é legalizada no Brasil, há pouca segurança sobre que substâncias se pode de fato encontrar na droga comercializada. Ela também cita os riscos do uso, como dependência, problemas respiratórios e o desencadeamento de crises em pacientes com distúrbios mentais.

O urologista e terapeuta sexual Celso Marzano, que é membro titular da SLAIS (Sociedade Latinoamericana para o Estudo da Impotência e Sexualidade), indica que estudos menos subjetivos sobre a temática podem ajudar a compreender melhor o efeito da cannabis. No caso dos homens, há pesquisas que citam que a substância pode ter efeito prejudicial, dificultando a ereção, por exemplo.

"Eu orientaria o paciente a deixar a maconha de lado e, no consultório médico, partir para drogas cujos resultado e ação já conhecemos profundamente", afirma o médico.

BNDES tem espaço no desenvolvimento, mas não estamos nos anos 1970, FSP

 


"Me engane uma vez, e a culpa é sua. Me engane a segunda, e a culpa é minha." Essa é a potencial situação do Brasil com a ideia do presidente do BNDES de propor um projeto de lei para mudar a TLP (Taxa de Longo Prazo), que norteia os empréstimos do banco.

Baixar os juros à força só faz sentido se não há demanda pelos empréstimos do banco ou o BNDES não tem capacidade de captar mais recursos, o que está longe de ser verdade. O banco continua a funcionar como sempre o fez, recebendo pedidos e aprovando-os com cuidado. Além de colocar dinheiro diretamente no bolso dos empresários nacionais, o que o crédito subsidiado faria?

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Sede do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), na região central do Rio - Lucas Tavares - 23.out.19/Folhapress

O BNDES deveria ter sido usado mais fortemente durante o auge da pandemia, para fazer a ponte entre o período de distanciamento social e a retomada da atividade econômica. O governo de então meio que jogou o BNDES para escanteio. O banco tem espaço no desenvolvimento brasileiro, mas não estamos na década de 1970. Tentar reindustrializar o Brasil, uma das economias mais fechadas do mundo, com crédito barato vai resultar somente em transferência de renda dos pobres para ricos. O papel do BNDES é aumentar o crédito de longo prazo sem tentativas megalomaníacas de criar campeãs nacionais.

O BNDES tem fontes fixas de financiamento, como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (ao final de 2021, o saldo de recursos do FAT no Sistema BNDES era de R$ 347,3 bilhões). Antes, o banco usava essas e outras fontes baratas, inclusive com aporte do Tesouro, para emprestar muito barato, inclusive bem abaixo da Selic. Com a reforma da TJLP para TLP, o banco passa a emprestar de acordo com as taxas pagas pelos títulos públicos de longo prazo, como o Tesouro IPCA.

Recentemente, o diretor financeiro do BNDES, Alexandre Abreu, argumentou que o fato de a TLP estar maior que a Selic seria um problema. Mas isso não tem nem pé nem cabeça. Para uma empresa tomadora de empréstimo, o que importa é se ela consegue pegar dinheiro do BNDES abaixo do que ela pegaria no mercado, não se a taxa é maior ou menor que a Selic.

taxa de juros no Brasil continua absurdamente alta (as razões para isso expliquei em artigo científico premiado pela Revista Brasileira de Finanças).A demanda por crédito do BNDES continua alta. O que acontece é simples: para o banco, é muito mais confortável emprestar com juros baixos, ainda mais se o dinheiro vier subsidiado indiretamente pelo governo. O balanço do banco fica bem, assim como as operações ficam mais fáceis: quem não quer distribuir benesses com demanda infinita? A indústria adoraria a volta dos juros absurdamente subsidiados.

Assim como nos governos anteriores do PT, é difícil frear o interesse dos empresários por dinheiro público barato combinado ao viés desenvolvimentista do partido. O problema do BNDES nunca foi corrupção. O banco é deveras criterioso juridicamente. O problema é o uso político de recursos da sociedade para setores industriais que não querem competição internacional. E o governo, com esse papo de reindustrialização, tende a mais uma vez entregar dinheiro barato sem ver resultados.

Qual o próximo passo? A volta da Lei da Informática? Mais um PND? É bem difícil que a nova gestão do BNDES saia da década de 1970, mas não é impossível. Deixem a TLP como está. Não falta demanda pelo dinheiro do BNDES. Não convém facilitar. Já vimos onde isso dá. O Brasil morre no final.

Caso 'narcovacas' espelha novas táticas do tráfico de drogas pelo Atlântico, FSP

 


GUARULHOS

A polícia da Espanha tem chamado a atenção para o que descreve como um processo de reinvenção de grupos criminosos na hora de transportar drogas da América Latina para a Europa pela rota atlântica. O episódio mais recente foi apelidado de "narcovacas".

No último dia 28, policiais espanhóis anunciaram a apreensão de 4.500 quilos de cocaína em um navio perto das ilhas Canárias com a bandeira de Togo, nação da África Ocidental, e tripulantes de países como Tanzânia, Síria, Quênia, Equador, Panamá, Colômbia e Nicarágua.

Policiais descarregam drogas do navio Orión V perto das ilhas Canárias, na Espanha
Policiais descarregam drogas do navio Orión V perto das ilhas Canárias, na Espanha - Borja Suarez - 26.jan.23/Reuters

O fator curioso do caso é o local onde a droga estava escondida: em silos que armazenavam alimentos para as cerca de 1.700 vacas que também estavam na embarcação.

Em comunicado, a polícia informou que o navio Orión V já havia sido inspecionado em outra ocasião, mas que não foi possível encontrar os entorpecentes no interior. Ainda assim, ele entrou na mira da polícia.

Em 24 de janeiro, porém, um dispositivo aéreo capturou imagens das drogas em um silo supostamente usado para alimentar o gado.

O navio era conhecido por transportar grandes quantidades de gado da Colômbia para países como Líbia, Angola, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Israel, Líbia e Qatar.

Os 28 tripulantes do Orión V foram detidos e estão sendo investigados. O barco foi apreendido e levado para um porto de Las Palmas, e as vacas, colocadas em outra embarcação para o Líbano.

Segundo o que autoridades da Colômbia informaram ao jornal El País, o navio partiu de Cartagena, mas sem as drogas, que teriam sido introduzidas na embarcação durante uma parada nas ilhas Antilhas, na América Central. Já o gado seria de propriedade de uma empresa de Barbados.

Viatura de polícia da Espanha perto de navio Orión V, no porto de Las Palmas
Viatura de polícia da Espanha perto de navio Orión V, no porto de Las Palmas - Borja Suarez - 26.jan.23/Reuters

A operação foi conduzida pela Polícia Nacional da Espanha e contou com a colaboração da Agência de Combate às Drogas (DEA, na sigla em inglês), dos EUA, além de autoridades togolesas. O caso é mais um no qual um navio procedente da América do Sul transporta substâncias ilegais até a metade do Atlântico com destino final na Europa.

Episódios do tipo têm se multiplicado na região. Seis dias antes da apreensão do Orión V, o cargueiro Blume, também com 4.500 quilos de cocaína, foi detido pelo departamento espanhol.

A Colômbia segue como o maior produtor mundial de cocaína. Em janeiro, o Ministério da Defesa do governo de Gustavo Petro disse ter apreendido um volume recorde de cocaína em 2022. Foram, ao todo, 671 toneladas.

"É preciso combater as receitas ilícitas provenientes do narcotráfico, que fazem mal ao nosso país", disse o ministro da Defesa, o jurista Iván Velásquez. A produção e o tráfico de cocaína são considerados o principal motor de um conflito armado de quase seis décadas no país.

O grupo armado Exército de Libertação Nacional (ELN), dissidentes das Farc e grupos criminosos formados por ex-paramilitares estão envolvidos nas redes de narcotráfico.