terça-feira, 4 de outubro de 2022

Partido Novo perde eleitores, vê redução de bancadas e não atinge cláusula de barreira, FSP

 Renan Marra

SÃO PAULO

Quatro anos depois de despontar como uma das maiores surpresas nas eleições, o Partido Novo amargou neste domingo (2) queda expressiva em suas bancadas na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas.

De quebra, a legenda não atingiu a cláusula de barreira, dispositivo que estabelece percentual mínimo de votos e de deputados eleitos para manter o acesso à propaganda partidária e ao fundo eleitoral.

A bancada do Novo na Câmara encolheu dos atuais 8 deputados para 3 a partir do ano que vem. Adriana Ventura (Novo-SP), Gilson Marques (Novo-SP) e Marcel van Hatten (Novo-RS) foram os representantes da legenda que tiveram êxito —os três foram reeleitos.

O candidato a deputado federal derrotado Fernando Holiday (Novo) em São Paulo
O candidato a deputado federal derrotado Fernando Holiday (Novo) em São Paulo - Greg Salibian - 26.jan.2020/Folhapress

Cinco parlamentares da sigla venceram disputas estaduais e distritais. Dr. Maurício (MG), Felipe Camozzato (RS), Leo Siqueira (SP), Matheus Cadorin (SC) e Zé Laviola (MG) ocuparão assentos nas Assembleias em 2023. O número, contudo, é menos de metade dos 12 deputados eleitos há quatro anos.

Somente na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), o Novo, que tinha 4 deputados em 2018, agora vê sua bancada reduzia a apenas 1 parlamentar.

Com resultados tímidos, o Novo não atingiu a meta estabelecida na cláusula de barreira e terá limitações nas próximas eleições. Além de acesso restrito ao fundo partidário e ao tempo na TV, a sigla poderá ficar de fora dos debates eleitorais.

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Pela regra aplicada neste ano, cada partido precisava eleger 11 deputados federais em pelo menos nove estados ou obter 2% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados. Os partidos que não atingem as metas podem formar uma federação partidária, unindo-se a outras legendas durante as eleições e a legislatura.

A vitória de maior expressão do Novo este ano foi a reeleição de Romeu Zema, em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país. Próximo do próximo do presidente Jair Bolsonaro (PL), Zema liquidou a fatura ainda no primeiro turno.

Em agosto, durante a campanha, Bolsonaro chegou a dizer que jamais seria inimigo de Zema, apesar de ter à época candidato próprio no estado: o senador Carlos Viana (PL-MG), que terminou a disputa em terceiro, com 7,23% dos votos válidos.

Zema, porém, foi exceção, e o Novo acumulou resultados decepcionantes. Nas eleições majoritárias o partido teve menos votos neste ano se comparado ao pleito de 2018.

Assim como há quatro anos, Zema foi o único representante eleito do partido para o cargo de governador –o Novo não tem candidatos no segundo turno.

Sete candidatos do partido disputaram governos estaduais neste ano. O segundo com o maior percentual de votos válidos, atrás de Zema, foi Paulo Ganime, que obteve apenas 5,31% e terminou a disputa na quarta colocação no Rio de Janeiro —o governador Cláudio Castro (PL) foi reeleito no estado.

Nas disputas do Espírito Santo, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, os representantes do partido tiveram menos de 3% dos votos.

Com disputa polarizada, o candidato derrotado à Presidência Felipe D’Avila obteve somente 0,47% dos votos válidos, com o apoio de 559.680 eleitores.

Em 2018, João Amoedo, então candidato do partido à Presidência, teve 2,5% dos votos válidos, com o apoio de mais de 2,6 milhões de eleitores.

Nas disputas ao Senado, os candidatos do partido, somados, conquistaram 479.593 votos. O número é bem menor que os 3.396.252 votos registrados em 2018. Assim como há quatro anos, o partido não terá representantes na Casa.

Outra derrota expressiva para o partido foi a de Fernando Holiday que ganhou notoriedade quando ainda era ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre) e foi o vereador mais novo a ser eleito na capital paulista em 2016, quando tinha 20 anos.

Agora, no entanto, ele teve 38.118 votos e não se elegeu para a Câmara dos Deputados.


Cristina Serra O Brasil sob a névoa da guerra, FSP

 No cenário de águas turvas que as pesquisas de opinião não conseguiram captar completamente, o eleitor deu seu recado, e o retrato do Brasil que sai das urnas neste primeiro turno não é bonito.

É verdade que Lula mantém capacidade extraordinária de liderança, a despeito do imenso investimento das forças de direita e de extrema direita para desconstruir sua trajetória desde a Lava Jato. Mas o patamar de votos de Bolsonaro zera completamente o jogo. Na guerra, é uma oportunidade de ouro.

Imagens de campanha de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva viram souvenir nas ruas de Brasília
Imagens de campanha de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva viram souvenir nas ruas de Brasília - Adriano Machado - 23.set.22/Reuters

A dianteira de Tarcísio de Freitas, em São Paulo, e as eleições para governador no Rio de Janeiro e em Minas Gerais reforçam as trincheiras de Bolsonaro. A eleição de figuras que simbolizam tudo o que seu governo fez de mais cruel (Pazuello, Salles, Damares, Tereza Cristina, Mário Frias, Mourão etc) também diz muito sobre um Brasil medonho e que é dolorosamente real.

A união das forças democráticas em torno de Lula é, agora, um imperativo de sobrevivência para o país. Ciro Gomes e Simone Tebet deveriam ter feito esse movimento no primeiro turno, mas prevaleceram seus projetos pessoais e cálculos políticos que podem custar caro ao Brasil.

Ciro já se mostrou indigno da legenda criada por Leonel Brizola. A bile que o devora por dentro parece ter desorientado sua capacidade de discernimento. Quanto a Tebet, se não quiser sumir na irrelevância política, precisa se posicionar já. É hora de compromisso férreo com a democracia.

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Nesses quatro anos, Bolsonaro estabeleceu as bases do seu projeto de erosão democrática, depauperou instituições e as relações entre os Poderes da República. Sua eventual reeleição equivaleria a uma autorização para destroçar a Constituição e os pilares do Estado democrático de Direito.

O Brasil não resistiria a mais quatro anos de domínio da extrema direita. Sob a névoa da guerra, Lula precisa avaliar erros, reajustar estratégias, reorganizar o ataque. A batalha decisiva é agora e seu desfecho é imprevisível.