terça-feira, 4 de outubro de 2022

Kassab intensifica aposta em Tarcísio de Freitas, mas faz mistério na disputa entre Lula e Bolsonaro, OESP

 

Reconhecido até pelos adversários como um hábil articulador dos bastidores da política, o ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, de 62 anos, assumiu um papel central nos bastidores da campanha do candidato bolsonarista ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e foi o responsável por organizar politicamente um palanque que tinha a retaguarda de Jair Bolsonaro (PL), mas nenhuma estrutura política no Estado.

Após o desempenho surpreendente do ex-ministro da Infraestrutura no 1° turno, que ficou em primeiro lugar com 42,3%, ante 35,7% de Fernando Haddad (PT) – contrariando as pesquisas de intenção de votos que davam o petista na liderança –, Kassab vai intensificar ainda mais sua atuação na campanha nas próximas semanas e será, segundo aliados de Tarcísio, um personagem influente no governo em caso de vitória.

Apesar de ser filiado ao Republicanos e ser apoiado pelo PL, Tarcísio, que é carioca e morava em Brasília, não tinha conexão com prefeitos e lideranças políticas da sociedade civil de São Paulo. Além de promover mais tempo no horário eleitoral da TV e rádio no 1° turno, a aliança com o PSD abriu portas com os sindicalistas da União Geral dos Trabalhadores (UGT), associações comerciais e lideranças evangélicas.

“Por mais que o cenário em São Paulo tenha reproduzido a polarização nacional, sem Kassab o Tarcísio não chegaria ao 2° turno”, disse o presidente da UGT, Ricardo Patah, integrante da executiva do PSD. Filiado ao partido, o ex-ministro Guilherme Afif Domingos assumiu o programa de governo de Tarcísio e tornou-se o principal formulador econômico da campanha.

Aliado no passado do governador Rodrigo Garcia, que não conseguiu votos suficientes para seguir para o segundo turno, e de seu antecessor, João Doria, ambos do PSDB, Kassab percorreu o Estado para fortalecer a rede de apoio ao candidato bolsonarista, mas sempre tomando cuidado de manter uma distância regulamentar da disputa presidencial.

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) vão disputar o segundo turno das eleições presidenciais no dia 30 de outubro.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) vão disputar o segundo turno das eleições presidenciais no dia 30 de outubro. Foto: NELSON ALMEIDA and EVARISTO SA / AFP

Segundo turno

O ex-prefeito manteve pontes com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Bolsonaro no 1° turno e deve seguir a mesma linha na segunda etapa. O PSD vai dialogar com quem vencer a disputa e deve ajudar na governabilidade do próximo presidente, seja ele qual for.

Ao Estadão, Kassab deu uma longa e inconclusiva resposta quando foi questionado sobre quem vai apoiar na disputa presidencial. Lembrou que o PSD se esforçou para ter um candidato próprio viável à Presidência para fugir da polarização, mas o senador Rodrigo Pacheco (MG), presidente do Senado, preferiu se concentrar em outra missão. Sem um nome na arena, o partido, que se classifica “de centro”, se dividiu regionalmente entre preferências mais à esquerda ou à direita.

”Qualquer decisão no 1° turno poderia gerar uma divisão. No 2° turno vamos ter uma deliberação. Qualquer manifestação minha neste momento iria provocar tensão no PSD. Eu, como presidente do partido, vou dar liberdade (nos Estados), Mais para frente vou anunciar minha decisão pessoal, que será desvinculada do partido”, concluiu Kassab.

Candidato à reeleição, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), foi derrotado nas eleições.
Candidato à reeleição, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), foi derrotado nas eleições. Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Cenário

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Ao fazer uma avaliação sobre a estratégia adotada por Tarcísio na campanha, Kassab disse que o ex-ministro acertou ao deixar claro a lealdade e o reconhecimento dele ao presidente da República. “Tarcísio manteve a lealdade com um estilo moderado que agrada São Paulo. Essa lealdade causa boa impressão porque existem muitas traições e deslealdades na política.

Ele deixou isso claro, mas tem a sua identidade e uma maneira muito conciliadora e moderada de agir. Isso o ajudou a avançar no centro”, disse Kassab. Outros aliados do ex-ministro da Infraestrutura concordam com essa análise do presidente do PSD e acreditam que Bolsonaro escolheu Tarcísio justamente por ter esse perfil em um Estado refratário ao discurso mais radicalizado.

O governador Rodrigo Garcia, que tentava a reeleição, também adotou um discurso moderado em busca do eleitor conservador e pragmático que, durante 28 anos, deu a vitória ao PSDB em São Paulo. Garcia, no entanto, acabou sendo emparedado pela polarização entre os candidatos de Lula e Bolsonaro.

Direita

“A polarização diminuiu o espaço do Rodrigo. Ele teve dificuldade em entrar no voto do Haddad e do Tarcísio. Quando ele acordou, o Tarcísio e o Bolsonaro tinham mais de 30%. E faltou um projeto nacional em uma eleição onde se discutiu a disputa presidencial”, disse.

Sobre o resultado geral das eleições no 1° turno para a Câmara, Senado, governos estaduais e assembleias legislativas, o presidente nacional do PSD disse acreditar que, independente do resultado final, um legado já foi estabelecido no Brasil: a direita, cujo eixo de sustentação atual é o PL, está mais organizada e vai permanecer forte por um tempo razoável. ”Essa direita tem 200 deputados, somando PL, PP, Republicanos e outros partidos”, contabilizou o ex-ministro.

Energia solar cresce, mas frustra quem esperava 'corrida do ouro', FSP

 Fernanda Brigatti

SÃO PAULO

Um crescimento acima de 50% em pouco mais de seis meses não é exatamente um resultado ruim, mas é considerado frustrante por quem esperava mais do que dobrar o volume de negócios. Para distribuidores e instaladores de equipamentos de energia solar no Brasil, a expectativa era viver, em 2022, uma espécie de corrida do ouro pelos sistemas.

Ao fim do terceiro e penúltimo trimestre do ano, o quadro se desenhando é mais modesto.

Além do que o setor considera ser a grande vantagem do sistema —o uso de fonte gratuita e abundante no Brasil, o sol–, há o calendário: instalações registradas a partir de 7 janeiro de 2023 passarão a pagar uma taxa pelo uso da rede de distribuição.

Operários instalam painéis solares fotovoltaicos no telhado de um motel na periferia de Boa Vista (RR) - Lalo de Almeida-28.jul.22/Folhapress

Para quem já tem um sistema de geração de energia local e para aqueles que fizerem o pedido de acesso até o dia 6 de janeiro de 2023, essa taxa, chamada de Tusd B (tarifa de uso dos sistemas de distribuição), ou fio B, ficará isenta até 2045.

A alta de juros e a elevação do endividamento são vistos como dois fatores que contribuíram para o crescimento abaixo das projeções.

O financiamento dos sistemas de energia solar são considerados fundamentais ao acesso aos sistemas, uma vez que ele tem um custo inicial elevado, entre R$ 16,6 mil e R$ 22 mil, segundo simulações do Portal Solar para um sistema residencial que substitua um gasto mensal de R$ 500 com a conta de luz.

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Com juros maiores (a Selic está em 13,75% ao ano), o crédito fica mais caro. Ao mesmo tempo, o aumento do endividamento eleva o risco e reduz as condições de as famílias acessarem as linhas.

Ronaldo Koloszuk, presidente do conselho de administração da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), diz que houve aumento na procura nos últimos 30 a 60 dias, melhorando as expectativas para o encerramento de 2022. "Todo o mercado esperava um ano inteiro muito acelerado e errou neste sentido", diz.

De janeiro a agosto, a média de crescimento mensal, em megawatt, está 57,2% maior do que o mesmo período do ano passado. A potência acumulada está em 12,7 gigawatts. Um ano antes, estava em 7,4 gigawatts, um crescimento de 71%. A projeção feita pelo setor em janeiro, porém, era acumular 25 gigawatts até dezembro.

SELIC EM ALTA E ELEIÇÕES AFETAM RESULTADOS, AFIRMAM EMPRESAS

Rodolfo Meyer, do Portal Solar, acredita que o ano eleitoral também afetou a decisão sobre investimentos. Depois de um primeiro trimestre que indicava aceleração, a guerra da Ucrânia, a antecipação da campanha eleitoral e a elevação da Selic foram freios relevantes.

Por isso, aposta em uma alta de pedidos em novembro e dezembro, com os quadros eleitorais já definidos. "Parece que está esquentando. E claro que 57% de crescimento não é mal."

Na WIN Solar, que distribui equipamentos solares, a diretora Camila Nascimento contabiliza, no primeiro semestre, resultado superior a todo o ano passado. "Infelizmente, pelo aumento da Selic, houve queda no interesse pelo financiamento. Se não tivesse ocorrido isso, teria havido corrida maior."

Enquanto em 2021 os preços dos equipamentos preocupavam o setor, neste ano há estabilidade. Os fretes marítimos, que passavam de US$ 10 mil (cerca de R$ 54 mil) há dois meses, já recuaram para o patamar de US$ 5.000 (cerca de R$ 27 mil).

O setor também está isento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e, com isso, fica dispensado de pagar ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços). Praticamente todas as partes do sistema fotovoltaico é importado –e quase tudo vem da China.

SISTEMA AINDA SERÁ VANTAJOSO APÓS 6 DE JANEIRO

O início da cobrança pelo uso da rede de distribuição foi previsto pelo marco legal da geração distribuída, a lei nº 14.300, publicada no Diário Oficial da União no dia 7 de janeiro de 2021. A regra diz que solicitações de acesso nos 12 meses seguintes à publicação da lei manteriam a isenção da taxa pelo uso do fio até 2045.

Depois que o sistema para geração de energia solar é comprado, o consumidor, em geral por meio do integrador contratado para o serviço, solicita à distribuidora de energia o acesso à rede. Para usufruir da isenção da Tusd B, é necessário ter o protocolo desse pedido registrado até o dia 6, mesmo que o sistema não esteja instalado ainda.

Rodolfo Meyer, do Portal Solar, e Ronaldo Koloszuk, da Absolar, defendem que a geração distribuída continuará vantajosa, mesmo com o início da cobrança. A Tusd B corresponde a um percentual médio de de 28% da tarifa convencional.

A partir do ano que vem, a cobrança será escalonada até chegar à integralidade (os cerca de 28% da tarifa convencial) em 2029. Koloszuk diz que o impacto médio deve ser de 4% a cada ano. Com isso, a energia excedente que vai para a rede distribuidora passa a gerar um abatimento menor, pois haverá a cobrança do fio.

"Deixa de ser atrativa? Não, especialmente se você comparar com qualquer aplicação bancária", afirma Koloszuk. Para Meyer, a inflação da energia elétrica convencional também joga a favor do sistema de geração solar.

"Em sete anos, a cobrança vai ser de aproximadamente 4,2% ao ano para quem não tiver o benefício [da isenção por mais tempo]. A inflação está acima disso. Se você comparar com uma inflação da energia de 5% ano ainda valeria a pena", afirma. Ele defende também que a cada ano os sistemas ficam mais eficazes e, com isso, mais baratos.

Atualmente, a energia elétrica residencial acumula queda de preço (recuo de 12,86% em 12 meses até agosto, segundo o IPCA), após uma combinação de fatores conjunturais, sazonais e políticos. O nível dos reservatórios subiu a partir do fim do primeiro trimestre do ano e a bandeira de escassez hídrica, que cobrava R$ 14,20 por cada 100 kWh (quilowatts-hora) desde setembro do ano passado, foi encerrada.

Em junho, uma lei também definiu a devolução do ICMS sobre o PIS/Cofins na conta de luz que deve resultar em ajustes menores pelas concessionárias.