quarta-feira, 9 de março de 2022

EUA rejeitam caças da Polônia para a Ucrânia e fazem patrulha com bombardeiro nuclear. FSP

 Igor Gielow

SÃO PAULO

Os Estados Unidos rejeitaram a oferta feita pela Polônia de transferir sua frota de caças MiG-29 para uma base americana na Alemanha e, daí, para reforçar a Força Aérea da Ucrânia como havia pedido o presidente Volodimir Zelenski.

Caça MiG-29 ucraniano escolta um bombardeiro B-52 americano durante exercício conjunto em 2020
Caça MiG-29 ucraniano escolta um bombardeiro B-52 durante exercício conjunto em 2020 - Forças Armadas da Ucrânia - 4.set.2020/Reuters

Ao mesmo tempo, Washington manteve nesta semana as patrulhas com quatro bombardeiros estratégicos B-52 no Leste Europeu, mandando um sinal à Rússia, que está em alerta nuclear máximo desde o domingo seguinte à invasão do país vizinho, 27 de fevereiro.

E o Pentágono anunciou que enviará duas baterias antiaéreas Patriot para território polonês, visando garantir que não haja um transbordamento do conflito ucraniano para fronteiras de membros da Otan, a aliança militar comandada pelos EUA.

Os três movimentos estão interligados. A proposta polonesa pegou o Pentágono de surpresa na segunda (8). "Simplesmente não está claro para nós se há uma racionalidade substantiva nela", disse francamente o porta-voz John Kirby.

Varsóvia queria, com a ideia, que os EUA fossem os guardiões e executores do plano de fornecer caças para Zelenski. Antes da guerra, a Ucrânia tinha 37 modelos de caças soviéticos MiG-29 e 34 Su-27. Muitos foram abatidos, segundo os relatos disponíveis.

Na Otan, a Polônia tem a maior frota de caças leves MiG-29, herança do tempo em que o país era comunista e fazia parte do Pacto de Varsóvia: 28 aviões. Um dos mais famosos aviões soviéticos, eles foram adaptados ao longo do tempo para serem integrados a armamentos e sistemas de comunicação e dados padrão Otan.

Os poloneses entraram na Otan em 1999, na primeira expansão da aliança após a Guerra Fria, algo que até hoje não foi perdoado pela Rússia. O "casus belli" central de Vladimir Putin na Ucrânia é justamente o avanço dela a leste, que já abarcou 14 países que foram socialistas, incluindo 3 repúblicas ex-soviéticas no Báltico.

Outro país vizinho da Ucrânia, a Eslováquia, que entrou na grande expansão de 2004, tem 11 MiG-29. A Bulgária (também da classe de 2004), mais distante, tem 15, mas são aviões em fase de desativação. Em tese, pilotos ucranianos podem pilotar todos esses modelos.

Desde o começo da guerra, a União Europeia e os EUA falam em enviar caças para Zelenski. Assim como na questão da zona de exclusão aérea pedida pelo ucraniano à aliança, contudo, a ideia parece esbarrar no temor de passar a impressão de envolvimento excessivo no conflito com os russos.

Não há uma linha desenhada no chão. Zona de exclusão aérea implicaria pilotos e operadores de defesa aérea ocidentais na Ucrânia. Putin alertou sem sutileza sobre "consequências nunca vistas" se alguém se intrometesse em sua operação. Em outras palavras, Terceira Guerra Mundial, nuclear.

Aparentemente, a Otan percebeu que enviar caças talvez seja aceitável quanto o fornecimento até aqui de cerca de 20 mil mísseis antitanque e antiaéreos para Kiev. "Nós continuamos as consultas com a Polônia e outros aliados da Otan sobre a questão e os difíceis desafios logísticos dela", disse Kirby.

O avião poderia ser voado para a Ucrânia, mas isso poderia ser lido como uma violação do espaço aéreo que os russos buscam dominar, mesmo com pilotos de Zelenski. A alternativa seria desmontá-los e enviar por caminhões, o que os exporia a bombardeio e eventual escalada se houvesse pessoal da Otan envolvido.

Ao mesmo tempo, os EUA precisam mostrar prontidão, e aí que entram os B-52, mamutes voadores que desde os anos 1950 são o esteio da força de bombardeiros americana. Eles podem lançar armas convencionais ou nucleares, como mísseis de cruzeiro. São um recado em si.

No início de fevereiro, com a invasão sendo chamada de iminente pelo Ocidente, quatro desses aviões foram deslocados para a base aérea britânica de Fairford. São exercícios rotineiros, mas o momento, não é. De lá, têm conduzido missões semanais de patrulha na Europa, a mais recente sobre a Romênia na segunda (7).

Além disso, a instalação dos Patriot na Polônia visa deixar bem clara a linha divisória entre as ações russas e o espaço aéreo da Otan. Até aqui, Moscou foi bastante cautelosa, tanto que opera de forma bastante leve no oeste ucraniano, onde se concentram os refugiados da guerra na cidade-chave de Lviv.

Tanto é assim que há uma linha de comunicação de emergência estabelecida entre Rússia e EUA sobre operações na região, para evitar que eventuais mal-entendidos virem uma declaração de guerra. Mas isso pode mudar, basta um caça russo sair do caminho e ser abatido na Polônia ou um míssil de Moscou cair do outro lado da fronteira.

Agora, a coisa ficou séria - The News

 


(Foto: Tatyana Makeyeva | Reuters)

Depois de muitas ameaças e temores do mercado, os EUA saíram do disse-me-disse e anunciaram a proibição das importações de fontes de energia da Rússia — como petróleo e gás natural.

  • Nas palavras de Biden, a intenção foi não fazer parte do subsídio à guerra da Rússia, tentando afetá-la ainda mais economicamente pela invasão à Ucrânia.

Isso porque as sanções econômicas até então não foram poucas, mas as exportações de petróleo ainda eram a boia salva-vidas do país liderado por Putin.

Mas não serão só os russos que vão sentir… Os próprios EUA vão ser impactados pelo aumento de preços do petróleo, mas devem procurar se blindar elevando a produção nacional e, até mesmo, importando da Venezuela e do Irã.

Putin foi rápido e já reagiu ao boicote, dizendo que vai divulgar uma lista de matérias-primas que terão a venda proibida ou limitada, além de ameaçar interromper o fornecimento de gás à Europa.

Enquanto isso, quem faltava saiu do mercado russo 🍟

Criticadas por manterem suas operações na Rússia com tantas empresas fechando suas portas, Starbucks, Coca-Cola e McDonald's também suspenderam temporariamente seus negócios no país — nem BigMac os russos têm mais.

A relevância: Colocar-se de um lado da guerra terá um grande impacto econômico para essas empresas. A companhia dos arcos amarelos, por exemplo, tem 9% de sua receita global vindo do país, com 850 estabelecimentos e 62 mil trabalhadores.

O que mais é bom saber mundialmente falando?