quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Janaína Paschoal pensa que vacinas são tão ineficazes quanto fio dental, Flavia Boggio, FSP

 5.jan.2022 às 17h00

A deputada estadual Janaína Paschoal causou polêmica, no início da semana, ao pôr em dúvida, nas redes sociais, a eficácia das vacinas.

Segundo a deputada, "vivemos um momento tão intrigante, que pessoas vacinadas, com todas as doses, pegam Covid e recomendam a vacinação. Parece piada! Ninguém acha, no mínimo, curioso?".

Janaina Paschoal na Assembleia Legislativa do Estado São Paulo em julho de 2021 - Carol Jacob/Alesp

Em seguida, ela justificou a obstrução intestinal do presidente Jair Bolsonaro como sendo decorrência de "olho gordo". O fato de achar que vacinas não são eficazes, mas mau olhado, sim, deixa suspeitas de que a deputada sofre também de obstrução —no caso dela, cerebral.

Janaína já havia defendido a liberdade do cidadão de se vacinar, mas tentou proibir exigência de vacinação em empresas. Para ela, liberdade é só para quem lhe interessa.

A deputada também insinuou que, já que empresas obrigam seus funcionários a se vacinarem, também deveriam exigir passaporte de vacina para "pegação" no Carnaval.

Está claro que ela está interessada em angariar votos da direita negacionista na sua tentativa de eleição ao Senado. Para isso, aproveita as redes sociais para criar teorias conspiratórias tão desmioladas quanto seu discurso de impeachment. A deputada joga para torcida usando a cabeça do brasileiro como bola.

Mas voltemos à afirmação de que pessoas vacinadas pegam Covid. Antes de fazer seu post, a deputada poderia dar um Google e conferir que a imunização não impede de contrair o vírus, mas evita a gravidade e morte pela doença.

Ilustração representando uma mulher com os cabelos longos e arrepiados vomitando um líquido verde que forma uma espécie de lago, onde se encontram algumas vacas quase totalmente submersas
Ilustração publicada em 5 de janeiro - Galvão Bertazzi

Seguindo o raciocínio da deputada, seria estranho pessoas que usam cinto de segurança e se machucam em acidente de carro recomendem, vejam só, o uso de cinto de segurança.

Ou indivíduos que escovam os dentes, usam fio dental, fazem enxágue e, mesmo assim, têm cárie, não abram mão da higiene bucal. Ou cidadãos que têm pés e pegam bicho do pé insistam em andar descalços ou, até mesmo, ter pés.

Para a aspirante a senadora, pessoas que estudam direito, fazem doutorado e falam bobagem, como ela, não deveriam nem fazer faculdade. Mas, nesse caso, ela teria razão.

Fonte solar atinge 13 GW de capacidade instalada no Brasil, por MegaWhat - 04.01.2022

 

São Paulo - A fonte solar fotovoltaica alcançou o número de 13 gigawatts (GW) de capacidade instalada no país, informou nesta terça-feira, 4 de janeiro, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). O montante equivale a quase 7,2% da capacidade total do parque gerador brasileiro.

Desse total, de acordo com a entidade, a maior parte - 8,4 GW (ou 65% do total) - é relativa a sistemas de geração distribuída . Os 4,6 GW restantes são relativos a usinas solares de grande porte, conectadas à rede básica.

Outro levantamento da entidade indica que a indústria de energia solar brasileira totaliza R$ 66,3 bilhões em investimentos e R$ 17,1 bilhões em arrecadação tributária, desde 2012. No mesmo período, a tecnologia também evitou a emissão de 14,7 milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade.

Segundo o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, a fonte solar contribui para a diversificação do suprimento de energia elétrica do país, reduzindo a pressão sobre os recursos hídricos e o risco de novos aumentos no custo da energia para a sociedade.

Chapa Lula-Alckmin prova 'teatro das tesouras' criado por Lênin, dizem bolsonaristas, FSP

 Fábio Zanini

SÃO PAULO

Os acenos mútuos entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (ex-PSDB) para compor uma chapa única na disputa presidencial reavivaram em líderes da direita a tese do "teatro das tesouras".

O ex-governador Geraldo Alckmin e o ex-presidente Lula se encontram em jantar em São Paulo no final de dezembro - Ricardo Stuckert

A expressão, também chamada de "estratégia das tesouras", foi mencionada nos últimos dias, por exemplo, pelo filósofo Olavo de Carvalho e pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

"O sistema cria suas próprias dicotomias para que você imagine viver numa democracia saudável, mas na verdade é o teatro das tesouras. Bolsonaro é a única oposição a tudo isso aí, o verdadeiro antissistema", tuitou o filho do presidente, em 18 de dezembro.

Variações destas críticas foram replicadas aos montes por bolsonaristas em redes sociais desde que o flerte entre Lula e Alckmin, ex-adversários ferozes na disputa presidencial, ganhou corpo, no final do ano passado.

A exemplo de outras expressões, como "marxismo cultural", o "teatro das tesouras" é uma imagem usada pela direita para apontar uma suposta estratégia de dominação esquerdista.

Ela teria origem numa tática elaborada por ninguém menos que Vladimir Lênin, embora não haja registro de que o pai da revolução bolchevique a tenha mencionado com esse nome. A expressão é comumente atribuída ao escritor ucraniano Anatoliy Golitsyn (1926-2008), desertor da KGB soviética.

A metáfora não é difícil de entender. Uma tesoura, quando fechada, é um objeto único. Abertas, suas lâminas parecem estar em oposição, mas na realidade cortam para o mesmo lado, e obedecendo ao mesmo comando (a mão).

Transpondo para a política, é como se forças aparentemente opostas (PT e PSDB, por exemplo) operassem de forma coordenada, avançando na mesma direção, que pode ser chamada de social-democrata, progressista ou até comunista, ao gosto do freguês.

Haveria apenas uma ilusão de competição, com o objetivo real de deixar fora do jogo os representantes da verdadeira mudança: a direita, os liberais, os conservadores, os bolsonaristas.

Como prega Olavo, Lênin inaugurou esse sistema na antiga União Soviética, estimulando uma "estratégia das tesouras" em que uma lâmina seria a de León Trótski e a outra de Josef Stálin. Inimigos mortais (literalmente), mantiveram o objetivo maior de consolidar o regime comunista e impedir a tomada de poder pela burguesia capitalista.

Mesmo a Revolução de 1917, que derrubou o regime czarista, teria sido possível a partir de uma ilusão de competição entre as facções comunistas menchevique e bolchevique, uma espécie de "teatro das tesouras" que Lênin soube muito bem explorar, segundo essa visão.

No Brasil, o termo foi popularizado em 2018 por uma série de sete vídeos da produtora conservadora Brasil Paralelo (que, aproveitando o flerte Lula-Alckmin, relançou o material, disponível no YouTube).

Cada filme, que tem de 30 a 40 minutos, trata de uma eleição presidencial entre 1989 e 2014, argumentando que nunca houve competição real fora do espectro que vai do PT ao PSDB.

"Durante algumas décadas, a maior parte dos brasileiros teve a ilusão de que podia pensar em diferentes ideias e votar em diferentes propostas. Não era verdade. Não existia campo de debate liberal, conservador etc. Todas as propostas possuíam diferenças sutis de discurso e de prática, mas encaminhavam para as mesmas políticas e valores", diz Lucas Ferrugem, produtor da série "O Teatro das Tesouras", da Brasil Paralelo.

Segundo ele, isso fica cabalmente demonstrado no movimento de aproximação entre o ex-presidente e o ex-governador de São Paulo.

"Não há oposição ideológica, moral ou de ideias concretas entre Alckmin e Lula. Eles se xingaram publicamente no passado por um único motivo: disputavam o mesmo cargo de poder", argumenta.

Para Ferrugem, "a briga era teatro das tesouras, a união política entre eles é o que corresponde de fato à realidade".

Mais do que isso, afirma, o balé entre Lula e Alckmin é prova inconteste de que petistas e tucanos são na verdade uma coisa só. "O PT é um partido socialista. E o PSDB também. A social-democracia é o socialismo democrático", afirma.

Ainda não está certo que a união entre Lula e Alckmin vá vingar. Se realmente ocorrer, oferecerá um discurso pronto para os bolsonaristas, para quem é possível enxergar uma linha de ação que parte de Lênin e chega até o picolé de chuchu.