Francisco Ribeiro Telles
Nesta quarta-feira (5) comemora-se pelos quatro cantos do mundo o Dia Mundial da Língua Portuguesa. A data foi instituída pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 2009 e consagrada pela Unesco, no final de 2019, como o dia internacional da língua.
Recordo que a CPLP teve um impulso decisivo em 1989 quando, a convite do então presidente brasileiro José Sarney, teve lugar em São Luís do Maranhão o primeiro encontro de chefes de Estado e de governo dos países de língua portuguesa —Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Nessa reunião, decidiu-se criar o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e, em 1996, em Lisboa, nasceu a CPLP, organização intergovernamental que assenta numa língua comum, que foi e continua a ser a sua matriz identitária, permanecendo até hoje como pilar fundamental e elemento congregador de todos os países e povos que a partilham.
A língua portuguesa é, acima de tudo, um patrimônio de todos os que a usam e que a foram alimentando e valorizando ao longo dos séculos, apropriando-se dela, recriando-a e vivendo-a hoje como elemento central da sua própria identidade.
O português, com mais de 260 milhões de falantes em todo o mundo, é a quinta língua mais falada no planeta e a primeira no hemisfério Sul —graças ao Brasil. É também uma das línguas mais faladas na internet e nas redes sociais. De acordo com estimativas das Nações Unidas, poderá atingir, no final deste século, 500 milhões de falantes, tendo em conta o crescimento demográfico dos países africanos que integram a CPLP, nomeadamente de Angola e de Moçambique.
A declaração do Dia Mundial da Língua Portuguesa pela Unesco, comemorado pela primeira vez no ano passado, representa o reconhecimento do valor do português como língua global de comunicação, cada vez mais presente na inovação, na investigação, no conhecimento científico e tecnológico, nos negócios, na arte, na literatura e também na diplomacia, apresentando-se como língua oficial e de trabalho de dezenas de organizações internacionais, incluindo o Mercosul, a União Europeia e a União Africana.
Para que tudo isso acontecesse, o Brasil teve um papel central. Não apenas pela sua dimensão demográfica, mas também pela influência que projeta à escala global, nos mais diferentes domínios, conservando uma unidade linguística invulgar. E que melhor simbiose entre o passado, o presente e o futuro do nosso idioma do que o Museu da Língua Portuguesa, erigido em São Paulo, naquela que é a maior e mais dinâmica cidade de língua portuguesa no mundo!
A nossa língua é pluricêntrica, torna-nos simultaneamente diversos e unos e herdeiros de uma história e vivência em comum deixada pelos nossos antepassados.
Como dizia Guimarães Rosa: “Meu lema é: a linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho da sua personalidade não vive; e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir constantemente”.