terça-feira, 12 de novembro de 2019

Convoquem o inspetor Clouseau, FSP

Investigação do caso Marielle lembra os filmes da Pantera Cor de Rosa. A diferença é que neles o crime é desvendado

Já lá se vão mais de 600 dias, mas você há de lembrar. Logo depois dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes, a desembargadora Marília de Castro Neves Vieira, do Tribunal de Justiça do Rio, escreveu no Facebook que Marielle havia sido eleita pelo Comando Vermelho, a facção de criminosos. Da postagem caluniosa, fez parte a seguinte frase: “A verdade é que jamais saberemos ao certo o que determinou a morte da vereadora, mas temos certeza de que seu comportamento, ditado pelo seu engajamento político, foi determinante para seu trágico fim”.
Ao expressar a certeza, imediatamente após o fato, de que a morte jamais seria esclarecida, a desembargadora mostrava a vontade consciente de uma parte da sociedade —o caso deveria ser enterrado. 
Até agora, a atuação da polícia e do Ministério Público parece articular a mesma verdade —o caso deve ser enterrado. A maneira pela qual as investigações têm sido conduzidas envergonharia o inspetor Clouseau, interpretado por Peter Sellers na série de filmes “A Pantera Cor de Rosa”. A diferença é que Clouseau, no fim de suas trapalhadas, sempre desvenda o crime.
O ex-policial Ronnie Lessa e o comparsa Élcio de Queiroz foram presos em março de 2019, acusados pelas mortes. A polícia descobriu que, no dia fatídico, Queiroz esteve no condomínio Vivendas, na Barra da Tijuca, e disse ao porteiro que iria à casa 58, onde morava o então deputado federal Jair Bolsonaro —mas só descobriu isso um ano depois do atentado. Entre muitas outras dúvidas, cabe perguntar ao Ministério Público por que tanta demora em analisar os áudios da portaria e por que uma foto do livro de visitas do condomínio foi parar no celular de Lessa, o matador de aluguel.
Antiga expressão popular tem sido ouvida, lida e comentada com frequência nos últimos dias: tem caroço nesse angu.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Clube do US$ 1 bilhão de compradores de alimentos do Brasil chega a 13 países, FSP

Exportações brasileiras totais desse setor somaram US$ 63,1 bilhões no ano

 Brasil chega a outubro com 13 países importando mais de US$ 1 bilhão cada um em alimentos no ano. As exportações brasileiras totais desse setor somaram US$ 63,1 bilhões no período.
O importante para o Brasil é que ocorre uma diversificação não só nos países importadores mas também nos produtos importados por eles.
O caso mais curioso é o da China. Principal motor da produção e das exportações de soja do Brasil, a China reduziu em 26% os gastos com as compras da oleaginosa brasileira neste ano.
Navio carregado com soja no Porto de Paranaguá; China reduziu em 26% os gastos com a compra da oleaginosa
Navio carregado com soja no Porto de Paranaguá; China reduziu em 26% os gastos com a compra da oleaginosa - Folhapress
Apesar dessa queda nas compras de soja, a participação chinesa na pauta de importações de alimentos do Brasil subiu para 42% do total comercializado no exterior. Em 2018, a participação era de 32%.
Os chineses compensaram a redução nas compras de soja com uma diversificação da pauta de compras, impulsionadas tanto pela guerra comercial com os Estados Unidos quanto por problemas na produção de proteínas no país asiático.
Dois produtos brasileiros foram bastante beneficiados na relação comercial do Brasil com a China neste ano: carnes e, fora do ramo de alimentos, o algodão.
As importações chinesas de algodão dispararam, atingindo US$ 487 milhões até outubro deste ano, 309% mais do que em igual período de 2018.
O aumento se deve à maior disponibilidade de produto no Brasil e à redução de compras da China nos Estados Unidos.
De janeiro a setembro deste ano, as exportações de algodão dos Estados Unidos para a China recuaram 30%, de acordo com dados do Usda (Departamento de Agricultura dos EUA).
Quanto às carnes, a peste suína africana forçou os chineses a elevar as importações de proteínas. Com preços competitivos, uma vez que o produto norte-americano recebe uma taxa pesada nas importações pelos chineses, os brasileiros aumentaram em 43% as vendas de carnes para o país asiático neste ano.
O Brasil ganha espaço na China, mas perde em mercados importantes. Presentes nos anos anteriores nessa lista, Rússia, Itália, Argélia e Índia ficaram de fora neste ano.
Os russos, que em 2014 chegaram a importar o correspondente a US$ 3,5 bilhões de janeiro a outubro, reduziram as compras para US$ 976 milhões neste ano. A Rússia vem reduzindo sua dependência das carnes brasileiras.
A Índia, um mercado com grandes possibilidades para os produtos brasileiros e que já esteve dentro do clube dos que importam mais de US$ 1 bilhão em alimentos do Brasil, também ficou fora neste ano.

Mais por menos
O Brasil exportou uma quantidade recorde no setor do agronegócio neste ano. De janeiro a setembro, foram 6% mais do que em igual período de 2018. As receitas obtidas em dólares, no entanto, caíram 4% no mesmo período, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
A queda ocorre porque os preços médios dos produtos exportados tiveram redução de 8% em dólar. Essa queda e o comportamento da moeda dos EUA em relação ao real provocaram recuo de 10% no faturamento em reais.

Café O Brasil colocou o recorde de 41,9 milhões de sacas de café no mercado externo no período de novembro do ano passado a outubro último. Nos dez primeiros meses do ano, as vendas somaram 34 milhões.
Qualidade Os dados são do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), que indica um avanço das exportações do produto diferenciado. Foram 6,4 milhões de sacas no ano.
Mercado externo O preço das carnes está em alta no exterior e segue direção contrária à dos demais produtos do agronegócio. A carne suína, devido à forte demanda da China, vale 27% mais do que há um ano. A bovina tem alta de 21%, e a de frango, 4%.
Em queda Entre as quedas no agronegócio, a mais significativa é a da celulose, cujo preço recuou 22% na comparação deste mês com novembro de 2018, diz a Secex.
Vaivém das Commodities
A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.