terça-feira, 8 de outubro de 2019

O que esperar dos filhos adotivos?, FSP

Dormimos mais tranquilos quando uma criança é adotada

Minha mãe foi adotada já na maternidade, assim que nasceu. Adoção “à brasileira”, como se diz, através de um médico amigo, que sabia que meus avós não conseguiam ter um filho.
Algum tempo depois, minha avó engravidou, vivendo uma situação que não é rara, na qual o casal, depois da chegada da criança adotiva, se descobre esperando um filho biológico. Para completar a cena, comum em sua época, foi mantido o segredo a fim de “não traumatizar a criança”.
Mas, como se sabe, o que traumatiza a criança não é a adoção em si, mas a impossibilidade de ter reconhecida, por si e pelos outros, sua história. Toda história tem traços de sofrimento, mas também de dignidade, que merecem ser contados.
Vale lembrar o livro “Corpos que Gritam: psicanálise com bebês” (Ática, 1995), no qual Caroline Eliacheff relata seus bem sucedidos atendimentos psicanalíticos com bebês abrigados, cujas histórias são de causar insônia em marmanjo.
Em São Paulo, o Instituto Fazendo História realiza um belíssimo trabalho com essas crianças e seus pais —com os adotantes e com os que entregaram em adoção.
Lar Novo Acolher, que abriga crianças retiradas das famílias pela justiça por causa de maus tratos
Lar Novo Acolher, que abriga crianças retiradas das famílias pela justiça por causa de maus tratos - 24.nov.2010 - L.C. Leite/Folhapress
Relatos de adoções sempre emocionam. Quanto mais risco ou sofrimento a criança tiver passado antes de ser adotada, mais nos dá satisfação saber que ela encontrou um lar para chamar de seu. Seja porque se trata de um bebê —imagem acabada do desamparo—, seja porque são crianças mais velhas, negras ou doentes —com poucas chances de serem escolhidas—, tudo é motivo para que fiquemos com os olhos marejados.
A partir de agora: cama quentinha, comida, escola, roupa limpa, casa protegida, uma família. Dormimos todos mais tranquilos quando uma criança é adotada.
Ao contrário das décadas anteriores, as adoções se tornaram motivo de orgulho e exibição. O desejo de engravidar pode ser considerado banal, mas a intenção de adotar pode causar comoção. Quanto desprendimento e amor para cuidar de alguém gerado por outra pessoa! Diante de pais tão magnânimos, cabe ao filho adotivo a eterna gratidão, é claro!
O que nem todo mundo sabe, é que existe um contingente de crianças “devolvidas” durante a guarda provisória ou abandonadas, depois da guarda permanente —há penalidade prevista no segundo caso.
Sugiro “A Devolução de Crianças Adotadas: um estudo psicanalítico” (2015) de Maria Luiza Ghirardi, “La Adopción” (1996) e “La Adopción y Silencios” (1996) ambos de Eva Giberti.
Muitas vezes, o fracasso das adoções se revela um grande mal-entendido. Os candidatos a pais esperam gratidão das crianças, mas gratidão não é o forte das crianças. O forte dos filhos —qualquer um— é testar o amor dos pais até o limite, na esperança de que eles não respondam com violência e nem com abandono. 
E haja saco para aguentar as investidas e sintomas das crianças até que se sintam confiantes. A criança adotiva, por motivos óbvios, precisará testar os pais ainda mais.
Um pouco de humildade nas expectativas dos candidatos a pais adotivos e menos idealização ajudaria a diminuir a devolução dessas crianças. 
Afinal, adotar ou gestar um filho é um ato que responde, acima de tudo, aos desejos egoístas de cada um de nós.
Passados 92 anos, não sabemos nada sobre as tristes circunstâncias que fizeram meus avós biológicos entregarem minha mãe na maternidade.
Mas sabemos que meus avós adotivos aguentaram toda encheção de saco que uma criança tem o direito de causar; não desistiram da filha depois da chegada do filho biológico; tampouco esperaram mais gratidão do que os pais em geral deveriam esperar.
Vera Iaconelli
Diretora do Instituto Gerar, autora de “O Mal-estar na Maternidade”. É doutora em psicologia

Laranja indigesta, Opinião FSP

Sem dar explicação para suspeitas investigadas pela PF, Bolsonaro ataca a Folha

O presidente Jair Bolsonaro, ao lado do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio - Pedro Ladeira - 11.abr.19/Folhapress
Em fevereiro, pouco mais de um mês depois da posse de Jair Bolsonaro, esta Folha publicou a primeira de uma série de reportagens que trariam sinais de que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, envolveu-se em um esquema de candidaturas de fachada no PSL, partido ao qual o presidente da República é filiado. 
O ministro, que na campanha comandava a sigla em Minas Gerais, patrocinou o repasse de R$ 279 mil a quatro supostas postulantes à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa do estado.
Nenhuma delas, na realidade, disputava o pleito para valer —apenas serviam como laranjas para o esquema de desvio de verbas eleitorais. Basta dizer que juntas obtiveram pouco mais de 2.000 votos.
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Além disso, parte do dinheiro foi empenhada em serviços fictícios de empresas ligadas a Álvaro Antônio e assessores seus.
Logo a seguir, o jornal revelou que uma candidata a deputada federal do PSL por Pernambuco havia recebido R$ 400 mil para sua campanha, a quatro dias da votação. O aparente esforço de fortalecer a postulante na última hora resultou em minguados 274 votos.
Com o passar dos meses, outras informações vieram à tona e o escândalo acabou por derrubar o ministro Gustavo Bebbiano, da Secretaria-Geral da Previdência.
Não obstante, Álvaro Antônio manteve-se em seu cargo. Tal situação chama mais atenção por se tratar de um ministro político, sem maior qualificação técnica, a ocupar uma pasta decorativa —candidata natural à extinção no processo de enxugamento administrativo promovido pelo governo.
Nos últimos dias o auxiliar deu mais motivos de preocupação ao Planalto. Uma planilha de gráfica e um depoimento colhido pela Polícia Federal sugerem que dinheiro da fraude promovida no PSL pode ter vazado, por meio de caixa dois, para as campanhas de Bolsonaro e do próprio Álvaro Antônio.
Haissander Souza de Paula, então assessor parlamentar do atual ministro, disse à PF que “acha que parte dos valores depositados para as campanhas femininas, na verdade, foi usada para pagar material de campanha de Marcelo Álvaro Antônio e de Jair Bolsonaro”.
Sem nenhum dado objetivo para embasar suas palavras, o presidente da República reagiu ao noticiário de maneira destemperada. Acusou a Folha de descer “às profundezas do esgoto”. Paralelamente, a área de comunicação do governo fez acusações descabidas e pregou retaliação à imprensa.
Já o ministro da Justiça, Sergio Moro, apressou-se em defender de público o chefe do Executivo, dando razão a quem vê incongruências entre sua atuação no primeiro escalão e o discurso moralizador que anteriormente pregava.
Cabe à PF —como está fazendo— prosseguir nas investigações, bem como à imprensa continuar cumprindo seu papel de informar. Do presidente, do ministro do Turismo e de outras áreas do governo esperam-se apenas esclarecimentos.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Gasolina e álcool se misturam?, Noticias Automotivas,


Gasolina e álcool se misturam?
Ele são dois combustíveis bem diferentes. O primeiro é derivado do petróleo e um dos subprodutos do mesmo, mais valorizados, que abastece a maior parte da frota mundial de veículos. O segundo é de origem vegetal e é conhecido por ser limpo e renovável, mas abastece apenas uma pequena parcela dos automóveis do mundo, já que seu uso é intensivo apenas no Brasil, sendo usado de forma misturada em alguns países do mundo.

Estamos falando de gasolina e álcool, que também recebe o nome de etanol. O interessante nesses dois combustíveis é que passaram 25 anos separados em motores diferentes, não sendo jamais utilizados juntos em automóveis e outros veículos do tipo. Apenas com a tecnologia flex, foi possível misturar no mesmo tanque os dois produtos, que movem uma boa parte da frota nacional de veículos. Mas, será que gasolina e etanol se misturam?
Gasolina e álcool se misturam?
Sim, os dois combustíveis se misturam. Eles formam a chamada mistura homogênea, já que são substâncias apolares. Mas o que significa isso? No caso do álcool etílico, as moléculas possuem uma parte apolar e outra polar. Como de sua fórmula química C2H5OH, a parte C2H5 é apolar, ela acaba interagindo com as moléculas apolares da gasolina, que é essencialmente desse tipo.

Dessa forma, os dois combustíveis acabam sendo misturados naturalmente tanto no tanque de combustível quanto na própria refinaria, quando a gasolina pura recebe até 27% de álcool (etanol anidro). A mistura é tão boa que outros países, em especial de clima frio, passaram a adotar o combustível vegetal, mas misturado com o derivado de petróleo, a fim de reduzir as emissões de poluentes desse último. Nos EUA, o percentual de álcool – obtido do milho, diferente do brasileiro, que é extraído da cana-de-açúcar – chega a 85%. Ou seja, é quase como etanol com 15% de gasolina apenas para facilitar na partida a frio.
Gasolina e álcool se misturam?
A vantagem da gasolina é que ela suporta melhor os climas frios, o que ajuda carros com E85 a sobreviver ao rigoroso inverno do hemisfério norte ou do sul, já que a Argentina utiliza um percentual de 10% de álcool em sua gasolina, dita pura. No mundo, em torno de 60 países já utilizam essa mistura de gasolina e álcool em seus carros.
A tendência é que esse número aumente devido às pressões ambientais para cortar as emissões de poluentes. Mesmo motores de ciclo diesel já foram testados com 95% de etanol e um aditivo de detonação de 5%, já que não existe ignição por centelha, mas por compressão. Tecnologia com processo semelhante, a HCCI leva o nome da mistura de gasolina e álcool, sendo Homogeneous Charge Compression Ignition, capaz de permitir a ignição dos dois combustíveis sem a centelha das velas. Esse pode ser o último estágio dos motores de combustão interna.
Gasolina e álcool se misturam?
Geralmente, quando se pergunta sobre se gasolina e álcool se misturam ou não, outra automaticamente é feita: álcool se mistura com a água? A resposta é sim. Na fórmula química do etanol, a parte OH é polar e é uma das partes da água (H2O), que é totalmente polar. Por isso álcool e água se misturam.
Já a gasolina não se mistura com água, pois uma é apolar e a outra polar. Isso é o que se obtém no teste da gasolina para ver se está adultera, já que sua parte em álcool se desprende da mesma e mistura-se com a água, indicando o percentual de mistura. Nesse caso, uma tecnologia automotiva ainda em testes, tal como a HCCI, promete revolucionar o mercado de carros híbridos com células de combustível.
A tecnologia SOFC (Solid-Oxide Fuel Cell) utiliza células de combustíveis como aquelas usadas com hidrogênio, mas o processo químico é realizado com álcool, mas pode-se admitir até 55% de água misturada em sua composição. Assim, o resultado é eletricidade que, após armazenada em baterias de lítio, alimenta o motor elétrico do carro. Esse sistema está sendo testado pela Nissan, que já prometeu sua introdução futura no Brasil, devido à infraestrutura consolidada.