sábado, 5 de outubro de 2019

Covas negocia vaga de vice para Celso Russomanno na eleição de 2020 em SP, FSP

Vereador Milton Leite, do DEM, também disputa indicação para a chapa do tucano

Artur RodriguesGuilherme SetoLuciana Coelho
SÃO PAULO
O prefeito Bruno Covas (PSDB) se reuniu na tarde desta sexta-feira (4) com Celso Russomanno (Republicanos, ex-PRB) em meio à articulação para que o deputado federal e apresentador de TV seja seu vice na disputa eleitoral. 
O assunto vem agitando a política paulistana, uma vez que o DEM, do vereador Milton Leite, também cobiça a vaga de vice de Covas
Folha apurou que, dentro do Republicanos, há consenso para que Russomanno assuma o posto de vice de Covas. Já Russomanno vinha resistindo, mas surpreendeu parte do partido ao marcar a reunião. Oficialmente, a assessoria dele diz que a reunião foi para tratar do Procon.
Dentro da equipe de Covas, definiu-se que o tucano buscaria o vice que agregasse mais votos. Também é importante para ele buscar alguém mais à direita, uma vez que ele pretende disputar votos deste público com um eventual candidato ligado a Jair Bolsonaro (PSL). 
Muito conhecido, Russomanno costuma largar na frente nas pesquisas. No entanto, ele desidratou ao longo das últimas duas campanhas à prefeitura. 
O Republicanos faz parte da base aliada do PSDB no comando da prefeitura e também do governo estadual. Russomanno se aproximou de João Doria (PSDB) ao desistir de disputar o governo estadual e apoiar o tucano no ano passado.
A negociação entre Covas e Russomanno deverá passar por um aliado poderoso, o vereador Milton Leite.
 
Vice-presidente da Câmara, e principal figura do DEM no município, Leite diz que o partido pleiteia o cargo secundário na chapa, já que é o único que oficialmente tem compromisso de parceria eleitoral com o prefeito no momento.
"Hoje, a única aliança fechada é com o DEM que, por isso, pleiteia a vice-prefeitura. Isso é natural. Se o Republicanos deseja se unir, será bem-vindo. E então sentaremos e conversaremos e vamos ver quais as condições. Russomanno é um bom nome, respeito ele, vamos sentar e conversar com ele também. Queremos reeleger o Bruno, esse é o nosso principal compromisso", diz Leite, que se tornou presidente da Câmara Municipal em 2016 após ter sido um dos principais cabos eleitorais da campanha de Doria para a Prefeitura de São Paulo.
No DEM, os nomes mais cotados para acompanhar Covas na chapa são o do próprio Milton Leite, o de seu filho, o deputado federal Alexandre Leite, e o da ex-atleta Maurren Maggi.

, Demétrio Magnoli , O Ministério Político- FSP

Constituição de 1988 criou um poder sem controle externo e sem limites jurisdicionais

Quanto vale a palavra de Rodrigo Janot? O então procurador-geral entrou armado no STF com a finalidade de matar Gilmar Mendes e, na sequência, tirar sua própria vida. Verdade? Mentira? Delírio de um mitômano? No fundo, pouco importa. O conto deve ser lido alegoricamente, como parábola de uma colisão engendrada há três décadas, na hora em que os constituintes esculpiram o atual Ministério Público.
Nos artigos 127, 128 e 129, a Constituição criou um poder sem controle externo e sem limites jurisdicionais. O MP paira sobre o Estado, não respondendo a nenhum dos três Poderes. Nas suas próprias palavras, opera como “uma espécie de Ouvidoria da sociedade brasileira”, exercendo a “tutela dos interesses públicos, coletivos, sociais e difusos”. Dito de outro modo, o MP não seria uma Ouvidoria da aplicação das leis, mas um tradutor do “interesse geral”.
Ninguém percebeu à época, mas dava-se à luz um Partido, com “P” maiúsculo —isto é, uma entidade política singular, que supostamente representa toda a sociedade e não precisa passar pelo filtro das urnas. O MP tornou-se um recipiente perfeito para gerações de jovens promotores e procuradores engajados na reforma social por meio do sistema de justiça.
Política é a arte de explicitar e solucionar as divergências por vias pacíficas. As divergências que atravessam as sociedades coagulam-se em partidos. Nos sistemas totalitários, elas não desaparecem, emergindo sob a forma pervertida de facções clandestinas no interior do partido único.
O MP, concebido como Partido, fragmenta-se necessariamente em diferentes partidos, que refletem traduções conflitantes do “interesse geral”. 
O Ministério Político não é um, mas vários. Pela esquerda, em 1991, surgiu o chamado Ministério Público Democrático (MPD), hoje com mais de 300 associados. Pela direita, em 2018, nasceu o chamado Ministério Público Pró-Sociedade, que organiza seu 2º Congresso Nacional. “Nós dois lemos a Bíblia noite e dia, mas tu lês preto onde eu leio branco” (William Blake). Os dois leem as mesmas leis, mas cada um as interpreta segundo seu programa político particular. 
O Janot do conto, pistoleiro suicida, encontra seu lugar no Janot da história. O momento de seu propalado gesto de loucura inscreve-se numa sequência de atos políticos: no 8 de maio de 2017, o procurador-geral pediu a suspeição de Gilmar no caso Eike Batista; no dia 17, vazou o áudio do diálogo explosivo entre Joesley Batista e Michel Temer; no 23, publicou um artigo de denúncia do “estado de putrefação de nosso sistema de representação política”.
Numa “estranha aliança do sublime com o obsceno” (Octavio Paz), o cavaleiro andante da limpeza pública faria a justiça verdadeira com o projétil de uma pistola, eliminando a justiça monstruosa, corrompida, inventada pela Constituição.
A vocação dos partidos é perseguir a conquista do poder. Naquele maio, Janot construía o trampolim de sua candidatura presidencial, fincando-o sobre um pacto profano com Joesley Batista.
A politização do MP atingia um clímax, empurrando seu chefe à guerra aberta com o Executivo e à uma tentativa, no fim frustrada, de submeter a seus desígnios o Congresso e o STF.
Quatro meses depois do pedido de suspeição de Gilmar, um desmoralizado Janot ergueu a bandeira branca e, em gesto de rendição, solicitou a revogação da imunidade de Joesley
A colisão do Ministério Político com as instituições não desaparece junto com a desgraça do ex-procurador-geral. Hoje, a candidatura presidencial de Sergio Moro concentra o projeto de poder do Partido dos Procuradores. A nossa Operação Mãos Limpas, tão necessária, dissolve-se numa lagoa viscosa de ilegalidades, um pesque-pague para as defesas de corruptos e corruptores.
O conto de Janot, mais que roteiro potencial de um filme, é uma lição política. Vamos estudá-la?
Demétrio Magnoli
Sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP.