segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Plano de recuperação dos Estados prevê privatizar empresas, OESP




Equipe econômica finalizou texto que estabelece vendas em energia, saneamento e setor financeiro; medida ainda determina a elevação de alíquotas previdenciárias para, no mínimo, 14%


Lorenna Rodrigues, Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli ,
O Estado de S.Paulo
20 Fevereiro 2017 | 20h52
BRASÍLIA - O governo federal delimitou que ativos os Estados vão ter que privatizar para ter acesso ao novo regime de recuperação fiscal, cujo principal benefício é a suspensão do pagamento das dívidas com a União por até três anos. 
Os Estados em dificuldades financeiras terão que aprovar nas assembleias legislativas leis autorizando a privatização de empresas dos setores financeiros, de energia e de saneamento. Os recursos obtidos deverão ser destinados para a quitação de dívidas.

Foto: Dida Sampaio/Estadão
Meirelles diz que reforma da Previdência é prioridade nº 1 em 2017
Recuperação fiscal dos Estados foi discutida durante todo o dia pela equipe econômica; na foto, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles
A primeira versão falava apenas da criação de um programa de desestatização pelos Estados que aderirem, sem especificar as áreas pretendidas. A União quer que os Estados em pior situação vendam estatais como a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), do Rio de Janeiro, a companhia de energia mineira Cemig e o banco gaúcho Banrisul, mas muitos resistem. O Rio Grande do Sul, por exemplo, não quer abrir mão do banco estadual e ofereceu outros ativos, como a distribuidora de energia CEEE.
No caso de Minas Gerais, o governador Fernando Pimentel disse ao Estado que não vê motivos para privatizar a Cemig. No Rio de Janeiro, a assembleia legislativa aprovou a venda da Cedae em meio a protestos de servidores e da população.
O novo projeto de lei que deve ser enviado para o Congresso Nacional ainda nesta terça-feira. O novo texto traz ainda outras mudanças em relação ao projeto apresentado no fim do ano passado - que acabou sendo desfigurado durante a tramitação no Congresso Nacional e vetado pelo presidente Michel Temer.
Outra alteração é a determinação de uma redução ainda maior nos incentivos concedidos a empresas em que houve renúncia fiscal, de pelo menos 20% ao ano. O novo projeto autoriza a contratação de financiamentos em casos específicos, como para refinanciar dívidas com instituições financeiras e para antecipar receitas de privatizações.
Foi mantida no texto a previsão de elevação da alíquota de contribuição para o Regime Próprio de Previdência Social para, no mínimo, 14%. O texto prevê que o prazo de vigência do plano de recuperação será limitado a 36 meses, podendo ser prorrogado pelo mesmo período.
O texto foi discutido nesta segunda-feira, 20, durante todo o dia em reuniões da equipe econômica, inclusive com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que capitaneou a retirada das contrapartidas quando a Casa analisou a criação do regime pela primeira vez, em dezembro. Na época, ele disse que os deputados federais não precisavam dizer "amém" ao Ministério da Fazenda.
Desta vez, Maia sinalizou que apoiará o projeto - inclusive com as contrapartidas exigidas dos Estados - e prevê a aprovação do texto até a primeira quinzena de março na Câmara. "Se essa é a linha do Ministério da Fazenda e da Advocacia Geral da União para termos condições para assinar um contrato como o do Rio, vamos tentar trabalhar para que esse projeto possa ser aprovado o mais rápido possível", disse.
Garantias. O novo projeto prevê que os entes deem como garantia para a União a receita de tributos estaduais, como ICMS, e do Fundo de Participação dos Estados. O texto inclui entre as condições para que os Estados possam aderir o programa que as despesas liquidadas com pessoal e com juros e amortizações representem 70% da Receita Corrente Líquida - no projeto original, a previsão era que as receitas correntes deveriam ser menores do que as despesas com custeio.
O governo retirou do projeto a proibição de adesão no último ano do mandato dos governadores. Foi mantido, porém, a vedação para Estados cujo governador já tenha requerido o regime mas não cumpriu o plano.
O projeto prevê ainda a criação de um conselho de supervisão específico para o regime de recuperação fiscal. O conselho será formado por dois representantes do Ministério da Fazenda e um do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria -Geral. Havia a previsão de que houvesse um membro do Estado no conselho, que não foi incluída no projeto.
Os integrantes do conselho poderão acompanhar a conta do Estado, inclusive com acesso direto por senhas a todos os sistemas de execução e controle, o que foi visto como uma espécie de "intervenção branca" da União nos entes endividados.
O projeto prevê a suspensão de dispositivos da Lei de Resposabilidade Fiscal (LRF) durante a vigência do plano para os Estados que aderirem. A intenção é possibilitar que esses Estados obtenham financiamentos mesmo tendo ultrapassado limites previstos na lei.
Entre as suspensões previstas no texto está a da necessidade de comprovar que está em dia com o pagamento de empréstimos e dentro dos limites das dívidas consolidadas para o recebimento de transferências voluntárias. Também ficam suspensas as determinações de reenquadramento, quando ultrapassados os limites da LRF, da despesa com pessoal em dois quadrimestres e da dívida consolidada em um ano.

Mudanças no setor de turismo recebem críticas, OESP


Entidades empresariais são contra criação de nova agência e Itamaraty critica isenção de vistos
Eliane Cantanhêde / BRASÍLIA ,
Impresso
20 Fevereiro 2017 | 05h00
O presidente Michel Temer recebeu duas cartas poderosas contra o pacote de turismo em gestação no governo: uma do Itamaraty, contra a suspensão de vistos de turistas, e outra de 15 representantes de entidades, encabeçados pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, condenando a intenção de financiar com recursos do Sebrae uma nova agência de promoção do turismo voltada para o exterior. Com o nome de Agência Brasileira de Promoção do Turismo (Abratur), ela seria criada a partir da atual Embratur.
O pacote de turismo será discutido amanhã, em Brasília, pelos ministérios da Fazenda, Planejamento e Turismo, sob a coordenação da Casa Civil. Foram convidados o ministro José Serra (Relações Exteriores) e o presidente do Sebrae nacional, o ex-ministro Guilherme Afif Domingos.
Na carta contra o desvio de recursos do Sebrae para a Abratur, as entidades advertem: “Fica claro que a ideia de subtrair recursos do orçamento do Sebrae para estimular o desenvolvimento do segmento turismo, caso implementada, comprometerá seriamente o papel exercido pela entidade”. O texto foi subscrito até por representantes da Caixa e do BNDES.
As entidades empresariais alegam que o Sebrae já atende 225 mil empresas de turismo, segundo dados de 2016, e que, para 2017, estão previstos 149 projetos, com investimentos diretos de R$ 78 milhões no setor.
Vistos. Já o Itamaraty e Serra são frontalmente contrários à suspensão de exigência de vistos para turistas dos EUA, Canadá, Austrália e Japão, por dois anos, como forma de atrair visitantes desses países, que ficam em média de 18 a 23 dias no Brasil e são os que mais gastam, per capita, por dia: US$ 64,59 (australianos), US$ 62,39 (americanos), US$ 49,50 (japoneses) e US$ 48,38 (canadenses).
O Itamaraty reclama, na carta, que “nenhum país do porte e da expressão política do Brasil adota a dispensa unilateral de vistos de turista, medida que implica tratamento assimétrico a seus nacionais”. Há, ainda, uma questão financeira. Segundo o Itamaraty, os consulados perderiam um terço de sua renda auferida com vistos, “com impacto sobre o orçamento da União”.
O Ministério do Turismo, porém, tem apoio do Planalto e da área econômica para o pacote, que inclui ainda a abertura de 100% das empresas aéreas ao capital estrangeiro. O ministro do Turismo, Marx Beltrão, disse que “há um consenso na cúpula do governo de que é preciso uma política agressiva de estímulo ao turismo, que oferece resposta rápida no reaquecimento da economia e na geração de empregos”.
Ele defendeu os pontos principais do pacote. Sobre a suspensão dos vistos, comparou valores: a perda de arrecadação dos consulados é estimada em R$ 18 milhões por ano, enquanto a previsão de entrada de recursos com o aumento de turistas desses quatro países é de R$ 4 bilhões. Além disso, diz, “o Planejamento se dispõe a cobrir as perdas consulares”.
Quanto à criação e financiamento da Abratur, ele usa uma comparação contundente de valores. Em 2015 (último dado consolidado), o Brasil gastou apenas US$ 18 milhões em promoção de turismo, ante US$ 490 milhões do México, US$ 100 milhões da Colômbia, US$ 90 milhões do Equador e US$ 60 milhões da Argentina.
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Favorável à venda de terras, ministro da Agricultura quer restrições para áreas de soja e milho


17/02/2017 - Estadão
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, é favorável à autorização para que estrangeiros possam comprar terras no Brasil. No entanto, ele defende a adoção de restrições no caso das chamadas “culturas anuais”, como soja e milho – dois dos principais produtos de exportação do Brasil. O receio é que fundos estrangeiros possam adquirir parcela substancial da área destinada a essas culturas e, em determinado ano, em função dos preços mais baixos no mercado internacional, decidam não plantar.
“Isso seria um caos para a economia, para os municípios, para os transportes, para todo mundo”, afirmou o ministro ao Broadcast Agro. “Acho que esse é um ponto em que a gente tem de dar uma olhada. Agora, terras para culturas perenes, como café, laranja, cana e eucalipto, você não muda de um ano para outro. Se está ruim ou se está bom, você tem de trabalhar. É na média que vai o negócio”, acrescentou o ministro, que já foi considerado o maior produtor individual de soja do mundo.
Ele cita o exemplo da celulose. “O Brasil é muito forte nisso, mas as indústrias que fazem celulose, que precisam de capital estrangeiro, não gostam de ficar nas mãos de fornecedores. Elas têm que ter um porcentual próprio de produção para atender ao empreendimento.”
Blairo acredita que a restrição em culturas específicas pode ser a solução para chegar a um acordo para aprovação da compra de terras por estrangeiros. “Não é proibir. Pode-se exigir uma produção anual ou que o produtor não pare de um ano para outro. Ou que ele tenha terras, mas arrende para brasileiros”, exemplificou. “Me parece que quem é o dono da terra é o que menos importa. A terra é brasileira, ninguém vai levar. O uso da terra é que importa nesse negócio.”
Críticas. A questão, no entanto, é polêmica e o projeto é alvo de críticas antes mesmo de ser apresentado. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Carlos Zarattini (SP), afirma que a compra de terras por estrangeiros interessa aos especuladores. “O que interessa a esses empresários do campo é a especulação do valor da terra. Evidentemente, vindo interesses de fora, o preço da terra vai aumentar e, com isso, a compra e a venda ganha outra dinâmica, com outros valores”, afirmou Zarattini.
Relator da proposta, o deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG) é filho do ex-governador de Minas Newton Cardoso, de tradicional família ruralista. O pai dele declarou em 2009 ter mais de cem fazendas, conforme apontou reportagem do Estado de novembro passado. Em 1982, seu tio, Manoel Cardoso, foi condenado como mandante do assassinato de um advogado que defendia famílias que ocupavam uma área de sua propriedade no sul do Pará. Ao Estado, o deputado disse que o fato de sua família possuir grandes extensões de terra não significa que haja conflito de interesse.
Para Zarattini, o projeto “abre a porteira completamente e permite qualquer tipo de negócio e entrada de grandes capitais no Brasil”. Segundo ele, os estrangeiros poderão usar as terras para produzir alimentos para outros países, “sem nenhum benefício para o Brasil”.
Essa também é a avaliação do coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace no Brasil, Marcio Astrini. “O Brasil já tem mecanismos bem utilizados e conhecidos para fomentar a produção agrícola. Há o Plano Safra, com bilhões e bilhões de financiamento subsidiado, e todos os programas de perdão de dívidas e do passivo ambiental dos produtores”, argumentou. “É difícil acreditar que a venda de terras para estrangeiros não seja para atender a interesses locais, para valorizar a terra e atender a certos grupos que apostam no comércio de terras na Amazônia.”