terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

‘In pectore’, por Eliane Cantanhêde, OESP


De Temer: 'Se eu tiver de pagar um alto preço, pago com o Alexandre'

07 Fevereiro 2017 | 03h00
O ministro Alexandre de Moraes foi desde o início o nome preferido do presidente Michel Temer para a vaga de Teori Zavascki no Supremo. Podia até não preencher os critérios da opinião pública, mas preenchia todos os critérios do próprio Temer: constitucionalista como ele, doutor pela USP, professor universitário, livros publicados, cioso do equilíbrio entre poderes e cuidadoso em matéria penal e em questões fiscais – algo fundamental em tempos de reformas.
Temer deixou inflar o número de candidatos e a cada um correspondia uma avalanche de críticas, enquanto ele avisava, conforme publicado neste espaço em 31 de janeiro: “Se eu tiver de pagar um alto preço, pago com o Alexandre”. Era uma senha: se fosse para apanhar com fulano ou beltrano, ele nomearia – como nomeou – a sua opção in pectore.
Um sinal do favoritismo de Moraes foi que ele subitamente se recolheu e ficou mudo, mas, quando Temer reforçou o Ministério da Justiça com a Segurança Pública, ficou a dúvida: se reforçou, é porque não vai trocar o ministro? Trocou, mas, antes, certificou-se de que os demais ministros acatariam bem o nome de Moraes, consultou os presidentes da Câmara e do Senado (que sabatina ministros do STF) e esperou Edson Fachin preencher a Segunda Turma e abrir caminho para Moraes na Primeira, que não tem a ver diretamente com a Lava Jato. O voto dele pesa, mas em plenário.
Além de falar demais, Moraes teve uma passagem particularmente infeliz na Justiça, quando disse que Roraima não tinha pedido ajuda federal e foi desmentido cabalmente pela governadora do Estado. Um vexame, que potencializou as críticas a um ministro que carrega uma curiosa ambiguidade: um currículo acadêmico exemplar e a imagem de superficial e desengonçado ao falar.
O mais delicado, porém, são as circunstâncias políticas. Moraes é filiado ao PSDB, foi secretário duas vezes nas gestões tucanas em São Paulo e é do primeiro escalão do governo Temer, deixando a impressão de que será uma extensão do Planalto no Supremo. Em sua tese de doutorado, como mostrou o Estado ontem, ele defendeu que a indicação de ministros do STF fosse vedada a quem exerça função de confiança do presidente, para evitar “demonstração de gratidão política”. Esqueçam o que escrevi?
Uma comparação inevitável é com Dias Toffoli, que também chegou jovem ao STF (42 anos, contra os 48 de Moraes). Ele foi advogado do PT em três campanhas presidenciais, assessor da liderança do PT e da CUT e advogado-geral da União com Lula. A diferença é que Moraes é considerado aluno brilhante, enquanto Toffoli não tem mestrado nem doutorado e levou duas bombas para juiz, antes de ir para a mais alta corte.
Assim como Toffoli, sete dos atuais ministros foram indicados por Lula ou Dilma, menos Celso de Mello (Sarney), Marco Aurélio (Collor) e Gilmar Mendes (FHC). Fachin, inclusive, apoiou publicamente a campanha de Dilma. Ou seja, não se pode dizer que Moraes vá desequilibrar o plenário... E mais: se os ministros indicados na era PT têm sido juristas e não petistas nos julgamentos, mesmo no do mensalão, é esse apartidarismo que se espera de Moraes. A ver.
Dos 28 nomes levados a Temer, um chegou a estremecer a vantagem de Moraes, o do presidente do TST, Ives Gandra Filho, com apoio de setores da Igreja Católica e das evangélicas, do empresariado, do tucanato paulista. Excessivamente conservador, atraiu um turbilhão de críticas. E, como avisou Temer, se é para pagar um alto preço com o candidato alheio, ele prefere pagar com o seu próprio. Que, agora, precisa usar menos sua loquacidade, mais seus conhecimentos jurídicos, e está como a mulher de César: além de ser honesto e independente, ele também precisa parecer.

Governo concede licença para Belo Sun extrair ouro na região do Xingu, do G1


Projeto mineral deve funcionar por 12 anos na região do Xingu.
Estado espera arrecadar R$ 60 milhões com royalties minerais.

Do G1 PA
Empreendimento Belo Sun pode causar danos irreparáveis a comunidades ribeirinhas e indígenas que vivem na região da volta grande do Xingu, no Pará. (Foto: Reprodução/TV Liberal)Empreendimento Belo Sun teve licença concedida pela Semas (Foto: Reprodução/TV Liberal)
A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do governo do Pará conceceu nesta quinta-feira (2) a licença de instalação para a empresa canadense Belo Sun extrair ouro por 12 anos no município de Senador José Porfírio, na região do Xingu.  A empresa já possui Licença Prévia (LP) aprovada pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema) e expedida pela Semas em 2014.
O projeto da mineradora Belo Sun é polêmico. Especialistas acreditam que ele pode causar danos irreparáveis ao meio ambiente, e a defensoria pública do estado chegou a pedir asuspensão de sua licença.
Segundo o governo do Pará, foram três anos de análises para a liberação desta licença. A expectativa é que o projeto gere 2.100 empregos diretos na fase de implantação, e 526 na fase de operação.
Ao longo dos 12 anos, a empresa deve pagar mais de R$ 60 milhões em royalties de mineração para o estado - quase R$ 5 milhões por ano. O valor pago em impostos deve ser ainda maior: cerca de R$ 130 milhões para o país, estado e município durante o período de instalação, e depois R$ 55 milhões por ano.
Condições para a licença
Uma das exigências para a emissão da licença foi que a economia paraense fosse beneficiada pelo projeto, por isso a produção de ouro no Xingu deve ser realizada no estado. A empresa se comprometeu a instalar uma refinaria, verticalizando a produção.
Para a liberação da licença, a Secretaria exigiu mudanças no projeto, impedindo a captação de água do rio Xingu e exigindo o monitoramento da qualidade do ar, nível de ruído, vibração e gerenciamento de resíduos, além da recuperação das áreas degradadas.
A Semas também solicitou que a empresa elaborasse estudos para garantir a segurança das comunidades indígenas da região, que vivem entre 12 e 16 km de distância do garimpo. De acordo com a legislação, a distância mínima entre um garimpo e uma aldeia deve ser de 10 km.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Governo Alckmin vai devolver R$ 120 milhões 'carimbados' à Fapesp



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Após a pressão realizada por cientistas e associações acadêmicas, o governo de São Paulo deve devolver ao orçamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) R$ 120 milhões que seriam destinados diretamente para institutos de pesquisa do Estado, com a finalidade de modernizá-los.
O montante representa cerca de 10% do R$ 1,116 bilhão previsto inicialmente para as atividades normais da instituição, que já envolve apoio à pesquisa científica e tecnológica.
A retirada desse recurso contrariava a constituição estadual de 1989, que afirma que o Estado destinará o mínimo de 1% de suas receitas tributárias à fundação.
A solução encontrada pelo governo para remediar a situação foi devolver à tutela da Fapesp os R$ 120 milhões –que haviam sido retirados pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp)– com a condição de que eles fossem integralmente investidos nos institutos de pesquisa do Estado.
Adriano Vizoni/Folhapress
Presidente da Fapesp, José Goldemberg; fundação vai receber R$ 120 mi 'carimbados' do governo
Presidente da Fapesp, José Goldemberg; fundação vai receber R$ 120 mi 'carimbados' do governo
Até então, segundo o presidente da Fapesp, o físico José Goldemberg, anualmente eram investidos cerca de R$ 50 milhões nesses institutos, mas alguns, como o Butantan, acabam sendo mais favorecidos.
"As razões são complexas –a própria estrutura não permite que eles acessem os recursos da Fapesp", diz Goldemberg. "Nós já estávamos fazendo um plano de expansão do apoio aos institutos, mas não é uma coisa que dá para fazer de uma hora para outra. É primeiro preciso melhorar os recursos humanos."
"Não houve um sinal amarelo por parte da Alesp. Não fui convocado para dar explicações. Não houve oportunidade de discutir melhor o assunto. Mesmo assim, acabou sendo um final feliz."
Isso porque a decisão da Alesp acelerou a implementação de planos para que a Fapesp conseguisse apoiar de forma mais eficaz os institutos estaduais –uma área que não vinha sendo coberta adequadamente, na avaliação de Goldemberg.
"Serão programas especiais, que podem envolver até infraestrutura. Além de comprar um aparelho caro, um instituto pode fazer o prédio para abrigá-lo. Isso foi o que ficou acertado com o secretário [estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Márcio França (PSB), que também é vice-governador]", diz o presidente da fundação.
Situação semelhante aconteceu em 1995, relata. "R$ 300 milhões foram destinados à modernização de instituições de pesquisa do Estado."
Apesar do susto, ele considera que a manutenção do 1% de receitas para a Fapesp é algo para se comemorar. "Nós vemos outras fundações estaduais de amparo à pesquisa sendo muito atingida pelas restrições orçamentárias. Sem inovação e pesquisa científica e tecnológica, nós não vamos sair do atoleiro."
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Mário França disse que "Eles [da Fapesp] estavam lá trabalhando nisso já há uns seis meses. O Goldemberg se reuniu com vários institutos; então estava bem encaminhado, só que no ritmo deles lá, da Fapesp, enfim. Imaginaram que isso não ia acontecer, naturalmente."
"Ou seja, a decisão da Alesp só antecipou uma certa tendência que a Fapesp já tinha de poder aumentar o valor e criar chamadas exclusivas para os institutos", disse.