domingo, 20 de março de 2016

A culpa é do Zé - EUGÊNIO BUCCI


REVISTA ÉPOCA

Fulano critica a imprensa com sangue nos olhos e disciplina férrea – e se sente tocado, predestinado


O companheiro Fulano de Tal não perdoa os meios de comunicação. Para ele, “a grande mídia” move um combate cerrado “contra as conquistas da classe trabalhadora”. Ninguém lhe tira da cabeça que foi “a grande mídia” que levou milhões de manifestantes às ruas para gritar contra o governo no domingo passado, dia 13 de março.

Implacável, critica a imprensa com sangue nos olhos e disciplina férrea. Não que seja um profissional do ramo. Ao contrário de uns aí que ganham dinheiro agenciado por autoridades para atacar repórteres e redações inteiras nas redes sociais, ele não fatura nada. Se faz seus discursos contra o “quarto poder”, ele os faz por militância. “A luta de classes é hoje travada no interior dos meios de comunicação”, ele avalia.

Há uns dois anos, leu um livro sobre a Escola de Frankfurt e, pelo que entendeu, todo mundo que ocupa um cargo de editor para cima num jornal ou numa emissora de TV é pau-mandado “dos patrões”. Os repórteres, não. “O repórter também é explorado.” Já o editor e seus chefes são capachos da “direita” e destilam “preconceito contra a esquerda”. “É assim que a propaganda reacionária funciona.”

Fulano fica indignado quando vê tanta gente acreditando em notícias de jornais, de revistas e de emissoras de rádio e televisão. “São uns alienados!” Chega a sentir raiva do povo, mas rapidamente se lembra de que o povo não é vilão, mas “vítima”. Esse pensamento o acalma, a raiva passa, e ele repete para si mesmo: o que falta ao povo é “conscientização”. A palavra “conscientização” é pura dialética a seus ouvidos.

Coerente, o companheiro Fulano se dedicar a sua missão de “conscientizar” os telespectadores oprimidos. Esse é o combate prioritário, ele tem certeza, reconfortado em sua autoimagem de detentor de portentosa capacidade intelectual e admirável compromisso de classe.

O companheiro se acha muito “de esquerda”, é claro. Com a mesma convicção, ele se acha também muito inteligente, mas não esquece a modéstia, a sua modéstia politicamente corretíssima. Seguro de que enxerga mais longe que os demais, não precisa se gabar quando percebe com nitidez cortante os truques de ilusionismo ideológico que enfeitiçam a massa ingênua. Sente-se tocado, predestinado, vocacionado, escolhido pela História (com H maiúsculo, é lógico). Sente-se ligeiramente superior, numa ponta de soberba que o incomoda, mas ele logo se perdoa por isso. Sendo tão solidário e tão desapegado de dinheiro, tão desprovido de “ambições materiais”, empenha sua perspicácia combativa para “resgatar” os “excluídos” da “alienação” e assim se purifica de sua vaidade contrarrevolucionária.

Mesmo compreensivo e fraternal, às vezes não pode evitar sua impaciência com a credulidade dos “alienados” que nem desconfiam das estratégias montadas pela burguesia para engrupi-los. Ele costuma advertir: não é somente pelos veículos jornalísticos que a burguesia engana as massas, não é só pelo jornalismo que ela constrói “hegemonia” (ele também gosta de citar Antonio Gramsci). Os piores golpes, ele pressente com sua clarividência materialista, são perpetrados pelos programas de entretenimento. Pelas novelas, principalmente. As novelas são “o ópio do povo”.

Dia desses, num churrasco, o companheiro Fulano de Tal conversava de lado com o companheiro Beltrano e o companheiro Sicrano quando, num insight, descobriu a mais nova e perversa jogada da “grande mídia” para neutralizar a “mobilização popular”. Arregalando os olhos, bateu com o fundo do copo na mesa e pontificou.

– A culpa de tudo isso aí é do Zé.

– Também acho! – emendou o Beltrano, que seguiu em tom de desabafo: – O Zé Dirceu foi longe demais...

O companheiro Fulano de Tal logo enquadrou o outro:

– Não, não é o Zé Dirceu. A culpa é do Zé de Abreu.

– O ator?

– Ator nada, companheiro. O Zé de Abreu era um agente infiltrado nas fileiras do partido só para nos desmoralizar.

Então, ele explicou sua teoria. O Zé de Abreu era o único astro de TV que apoiava publicamente Lula e o PT. Era tão escancaradamente petista que simbolizava a própria identidade do PT. Zé de Abreu e PT tinham virado sinônimos. Aí, “as elites” o escalaram para fazer papel de bandido, corrupto, ladrão e assassino na novela A regra do jogo. E o capítulo final foi ao ar justamente nas vésperas da grande manifestação.

– Foi uma jogada da mídia tucana para desconstruir a imagem de Lula e convencer o povo de que todo petista é bandido.

O companheiro Fulano de Tal não existe, evidentemente. Por isso, precisava ser inventado. E ele não perdoa os meios de comunicação.

Gilmar, o despreocupado, da FSP por Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA - Quando o presidente Fernando Henrique Cardoso indicou Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o jurista Dalmo Dallari fez um alerta: "Se essa indicação vier a ser aprovada, não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional".
Dallari pode ter exagerado, porque a corte tem outros dez ministros para zelar pela Constituição, mas a atuação de Gilmar inspira desconfiança desde que ele vestiu a toga.
A presença constante na mídia, a agressividade em declarações contra o governo e a proximidade com políticos do PSDB lhe renderam o apelido de "líder da oposição" no STF. Gilmar não parece preocupado com isso. Desde que a crise política se agravou, ele usa todas as oportunidades para atacar Dilma e o PT.
A presidente e o partido dão muitas razões para críticas, mas espera-se de um ministro do Supremo que não tome lado na luta política e atue com imparcialidade. Gilmar não parece preocupado com isso. Em julho passado, ele foi à casa de Eduardo Cunha discutir o impeachment. O deputado já era investigado na Lava Jato por suspeita de corrupção.
Em setembro, o ministro estrelou evento na sede da Fiesp. A entidade é comandada por um afilhado político de Michel Temer e promove campanha aberta pela queda da presidente. Gilmar não parece preocupado com isso. Aproveitou o palanque para repetir ataques ao PT. Sobre o correntista suíço, nenhuma palavra.
Na última quarta, Gilmar almoçou com o tucano José Serra, segundo o jornal "O Globo". Após a sobremesa, voltou ao STF e discursou contra a nomeação de Lula para a Casa Civil, que não estava em debate.
Dois dias depois, o ministro atendeu pedido do PSDB e anulou a posse do ex-presidente. Tudo indica que ele deveria se dizer suspeito por falta de isenção para julgar o assunto, muito menos sozinho. Mas Gilmar não parece preocupado com isso. 

METRÔ DE SÃO PAULO E TRANSNORDESTINA: EM QUE ESTAS DUAS FERROVIAS SE PARECEM?, do Blog do Giesbrecht


Metrô de SP: A linha 4 é a linha amarela que, hoje, já funciona entre as estações Luz e Butantan (à esquerda da estação de Pinheiros e fora do mapa. Ela se prolonga além da estação Butantan até a Vila Sônia, mas este trecho jamais foi inaugurado por falta de estações prontas (Mapa: metrô-SP)

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo suspendeu a licitação do Metrô no final de 2015 para contratar a empresa que vai concluir a Linha 4-Amarela do Metrô. A obra inclui a conclusão das estações Higienópolis-Mackenzie, Oscar Freire e as três da extensão e até Vila Sonia e a implantação de 2 quilômetros de túnel de ligação com este pátio.

A sessão pública de recebimento e abertura de propostas, marcada para as 10h desta quinta-feira (17), foi cancelada e poderá ser remarcada para nova data caso a licitação seja retomada.

A decisão cita duas manifestações enviadas ao tribunal com possíveis erros em relação à apresentação de garantias a serem dadas pelas empresas. O Metrô informou que irá prestar os esclarecimentos solicitados no prazo determinado na decisão liminar: 48 horas.

As obras são orçadas em R$ 1,3 bilhão e têm financiamento do Banco Mundial.

Na mesma decisão, uma multa de R$ 23,5 milhões aplicada pela paralisação das obras foi suspensa (leia mais abaixo). O governo de São Paulo recorreu.

A expectativa era que as estações Higienópolis-Mackenzie, Oscar Freire e São Paulo-Morumbi deveriam ser entregues em 2017, três anos após a primeira estimativa feita pelo Metrô para a conclusão das obras: 2014.
Já a Vila Sônia (incluindo terminal de ônibus e pátio), ficaria pronta em 2019. Agora, sabe-se Deus quando.
Como sempre, caímos na seguinte dúvida (a qual já citei anteriormente em outras postagens neste blog): ou se dá ao Tribunal de Contas (e/ou Ministério Público) o dever de escrever as licitações ou se oferece um curso intensivo de como se escrevem esses editais.

As obras, como sempre, estão atrasadas e vão atrasar mais ainda. E certamente ficarão mais caras ainda. Temos dinheiro a rodo ou alguém está ganhando com tudo isto?

Notem então os senhores outro fato recente, também sobre ferrovias brasileiras: o orçamento da construção da ferrovia Nova Transnordestina deve sofrer aumento de quase 50% devido à inflação do real, é o que diz o presidente da Valec. O orçamento inicial estava previsto em R$ 7,5 bilhões em 2013 e agora poderá chegar a R$ 11 bilhões.

A Nova Transnordestina liga o Porto de Pecém, no Ceará, ao Porto de Suape, em Pernambuco, além de um ramal para o sul do Piauí, num total de 1.753 km.

56% da obra já estão concluídos, porém, já foram aplicados 80% do capital inicial. O custo para a construção de 1 km de ferrovia está orçado em R$ 6 milhões, o que elevará o custo do projeto para aproximadamente R$ 10,5 bilhões. Será necessário um novo aporte para quitar o reajuste, um acréscimo. Ele afirmou que, devido a parcerias e acordos feitos pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), o aporte inicial da Valec que era de R$ 230 milhões, subiu para R$ 980 milhões. A previsão é que, depois de concluída, a ferrovia possa transportar 30 milhões de toneladas por ano.

Dá para notar que aumentar custos é sempre causado por incompetência de nossos governos, estadual e federal, donos eles de obras como as duas citadas acima.


O texto acima foi resumido de dois textos publicados pela G1 São Paulo e Jornal Floripa em 17/03/2016.
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