Blog 'A bicicleta na cidade'| Blog 'A bicicleta na cidade'
Escrito por Daniel
Guth e Renata Falzoni
Uma das principais promessas da gestão Haddad, ratificada
publicamente inúmeras vezes com os ciclistas, é a garantia de infraestrutura
cicloviária ao longo de todos os novos corredores de ônibus da cidade.
O que se vê, na prática, é o abandono total deste
compromisso. Obras importantes como o corredor da Av. Inajar de Souza, da
Radial Leste, da Av. M’Boi Mirim e Guarapiranga, além da Santo Amaro e da Av.
Aricanduva, todas previam ciclovias em seus projetos originais. Um compromisso
público e também uma exigência dos licenciamentos ambientais destas obras.
Corredores de ônibus funcionais, como BRT’s, são
fundamentais para a mobilidade urbana em grandes cidades como São Paulo. Eles
democratizam o espaço viário, encurtam tempos e distâncias, reduzem o estresse
e o sofrimento associados aos engarrafamentos e à disputa de espaço com os
automóveis. Quem usa bicicleta em São Paulo, por conseguinte, apoia plenamente
a implantação destes corredores.
Obras de grande intervenção na via, na maioria das vezes,
contam com aportes de recursos da União. É o caso dos corredores de ônibus de
São Paulo. Pela magnitude e complexidade de sua implantação, os projetos destes
corredores estão sempre integrados a requalificação de calçadas e passeios,
realocação de pontos e abrigos de ônibus para o canteiro central, nova
sinalização viária e, igualmente importante, implantação de estrutura
cicloviária para ciclistas.
Os corredores são usualmente implementados em vias arteriais
da cidade, pois necessitam de espaço mais amplo, desenho retilínio e funcional
para percorrer longas distâncias. E a cidade de São Paulo, por conseguinte,
possui desde 1935 um plano de avenidas que, além de sumir com os nossos rios – pois muitas destas avenidas estão em
áreas de várzea ou fundos de vale – também criou vias urbanas para o tráfego de
veículos em alta velocidade; gerando conflitos, estresse e violência com
aqueles que não estão se deslocando de maneira motorizada.
O compromisso
Entrevista feita pela jornalista Renata Falzoni com o
Secretário de Infraestrutura urbana e obras, Roberto Garibe, os projetos de
ciclovias nos corredores foram ratificados e apresentados seus projetos básicos.VEJAM
AQUI, entrevista na íntegra.
Em matéria da Folha de São Paulo de Janeiro de 2013, logo
após sua posse, o Prefeito Fernando Haddad foi bastante taxativo ao dizer que "todo
projeto de corredor que for feito terá também projeto de ciclovia”.
Durante
visita à Subprefeitura de Aricanduva/Formosa/Carrão o Secretário Jilmar Tattomais uma vez reforçou que os corredores da Radial Leste e da Avenida Aricanduva
teriam projeto cicloviário.
Como se não bastasse o compromisso público assumido pelos
três principais agentes públicos envolvidos – o prefeito e os dois secretários
– a implantação de estrutura cicloviária junto aos corredores é uma exigência
do licenciamento ambiental destas obras.
O corredor de ônibus da Avenida Inajar de Souza é um dos
exemplos mais gritantes deste descompromisso com o acordado publicamente e
exigido legalmente. Segundo fontes da própria Prefeitura, foram dezenas de
reuniões entre a CET e a equipe da SIURB para se chegar ao projeto de adequação
da ciclovia compartilhada que existe ali desde os anos 90 e também sua
continuidade, até o Terminal Vila Nova-Cachoeirinha. Projeto, agora,
aparentemente abandonado pela administração. Aliás, vale ressaltar, o primeiro
trecho de ciclovia do Plano de 400 km da gestão Haddad foi totalmente removido
para passagem deste corredor (vide foto abaixo), já na região central da
cidade.
Na Radial Leste, por sua vez, desde 2006 os ciclistas
aguardam a ligação da ciclovia na altura do metrô Tatuapé até a região central.
Hoje ela tem baixo uso pois sua extensão vai de Itaquera e para, abruptamente,
no Tatuapé. Em depoimento ao Jornal O Estado de São Paulo, em Outubro de 2014, o
Secretário Jilmar Tatto já havia se comprometido a fazer esta ligação, tão
importante para conectar a zona leste com o centro. Com a construção do
corredor de ônibus na avenida, esta seria mais uma oportunidade ímpar para
tirar do papel esta demanda que está completando 10 anos. Infelizmente não é o
que está acontecendo, na prática.
Pelo visto teremos de nos contentar com três quilômetros de
ciclovia no corredor da Av. Eng. Luis Carlos Berrini e só.
O outro lado
Procuramos o Secretário de Infraestrutura Urbana e Obras,
Roberto Garibe, e sua assessoria de imprensa. Até o momento não tivemos
retorno.