Fonte: Portal Brasil - 30.11.2015
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Distrito Federal - O Ministério de Minas e Energias (MME) prevê que até o fim de 2015 as energias renováveis correspondam a 42,5% de toda matriz energética brasileira em 2015. O destaque fica para o crescimento da participação das energias renováveis alternativas à geração hidrelétrica, como a eólica, a solar e a biomassa.
Em dez anos esse tipo de energia renovável cresceu 30%, passando de 2,8% de toda a oferta de energia interna em 2004 para 4,1% em 2014. A matriz energética do País é composta por diversas fontes, que também incluem, por exemplo, o petróleo e seus derivados, como a gasolina, e o gás de cozinha. O secretário de Planejamento Energético do MME, Altino Ventura, explica que esse cenário faz parte da política do Ministério de diversificação da matriz energética brasileira, que considera uma forma mais eficiente do uso de recursos naturais do planeta. “Essa composição de diferentes fontes faz com que o País tenha uma matriz mais limpa, porque ela tem uma participação pequena de emissões do chamados gases de efeito estufa, que contribuem para as mudanças climáticas no planeta”, disse. Quando se considera apenas a geração de energia elétrica, a participação das energias renováveis é ainda maior. Até o final de 2015, espera-se que mais de 84% da energia elétrica gerada no País seja de fontes renováveis. As hidrelétricas ainda fazem parte de mais da metade da geração, mas outras fontes vão representar cerca de 16% de toda energia elétrica brasileira. Segundo Ventura, a incorporação efetiva de outras formas de produzir energia, como a solar e a eólica, tem também uma necessidade de suprir o consumo de eletricidade de acordo com o cenário mundial de energia limpa. “A partir dos anos 70 até o 2000, o Brasil priorizou muito a hidreletricidade. Já temos uma indicação nos próximos 30 anos de que esgotaremos esse potencial. Então é importante que o Brasil desenvolva novas fontes para a produção de energia elétrica dentro da política de diversificar a matriz, o que temos feito nos últimos 15 anos”, explica. O incentivo às energias renováveis pode ser considerado uma meta coletiva, não só do Ministério de Minas e Energia. O governo federal, através do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), investiu mais de R$ 155 bilhões em forma de financiamento para 769 inciativas de energias renováveis no período de 2003 a 2015. Somente na energia eólica, foram mais de R$ 18 bilhões em financiamento. Energia dos ventos Um dos maiores destaques das formas alternativas de geração de energia é a eólica. Neste ano, o País se tornou o 10º maior gerador de energia eólica no mundo, superando países como Portugal e Suécia, segundo Ranking Mundial de Energia e Socioeconomia. Até o final de 2015, o setor terá expansão de 62% em relação ao ano passado e irá representar 8,3% da oferta de energia elétrica no país. A região nordeste é a principal geradora de energia eólica no País. Segundo o secretário, o principal motivo para esse destaque, além do investimento, é a situação privilegiada do Brasil em recursos naturais. “Nós temos vento de janeiro a dezembro. Isso faz com que a nossa usina eólica se torne mais competitiva, porque o custo da energia é menor. A mesma instalação no Brasil produz mais energia do que os países europeus, por exemplo”. Ele ainda destaca que não só o Brasil está se tornando gerador de energia, como fabrica a maior parte dos equipamentos utilizados. Segundo a presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Melo, o setor foi responsável pela criação de mais de 40 mil postos de trabalho em suas 270 instalações. Outras fontes Ainda em crescimento, a energia solar também vem conquistando seu espaço na matriz energética. Em agosto deste ano, o País fez o primeiro Leilão de Energia de Reserva com projetos solares fotovoltaicos, contratando 1.043,7 MWp (megawatts-pico) de potência de 30 projetos diferentes. A estimativa da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que até 2050, 13% de todo o abastecimento das residências no País seja feita pelas placas fotovoltaicas que aproveitam a energia solar. No campo, Ventura destaca o pioneirismo do Brasil no uso da cana-de-açúcar como geração de energia. Os derivados da planta, como o etanol e a queima do bagaço, são hoje a segunda maior fonte energética brasileira, perdendo apenas para o petróleo. No período de 2004 a 2014, o país aumentou em 75% a produção de energia elétrica através do bagaço de cana. “O aproveitamento da cana de açúcar dessa forma só existe no Brasil, é tecnologia nacional. Podemos plantar essa energia no campo e produzir alimentos, sem competir um com outro, e preservando nossos ecossistemas”, pontua. |
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
30.11.15 | Energia renovável representa mais de 42% da matriz energética brasileira
A matemática traduzindo o cérebro, por Karina Toledo | Agência FAPESP
01 de dezembro de 2015
– O sistema nervoso humano e as mídias sociais, como o Facebook, possuem uma característica em comum: são redes complexas formadas por inúmeros componentes que interagem entre si e cujo comportamento futuro depende da história passada do sistema.
Criar modelos matemáticos capazes de representar o funcionamento dessas redes complexas, e prever seus comportamentos, é um grande desafio para cientistas de diversas áreas. Num quadro conceitual mais amplo, esses modelos fazem parte daquilo que se chama teoria dos grafos aleatórios.
“Há um esforço mundial para usar esse tipo de ferramenta na modelagem do funcionamento cerebral, mas as bases matemáticas para isso ainda são pouco sólidas. Nosso objetivo é desenvolver uma nova matemática, que sirva de linguagem para expressar os problemas da neurobiologia”, contou Antonio Galves, professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) e coordenador do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (NeuroMat), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.
Galves coordenou entre os dias 23 e 27 de novembro, na USP, o encontro “Random Graphs in the Brain” (Grafos Aleatórios no Cérebro), que reuniu colaboradores do NeuroMat de diversos países, incluindo especialistas e estudantes de áreas como neurofisiologia experimental, neuroanatomia, imagem funcional, probabilidade, estatística e ciência da computação. O objetivo foi discutir os desafios computacionais, matemáticos e estatísticos que precisam ser vencidos para avançar na compreensão do cérebro.
Conforme explicou Galves, os grafos são formados por um conjunto de vértices e por um conjunto de arestas ligando pares de vértices. Na aplicação em neurociência, os vértices podem representar neurônios ou regiões do cérebro.
“É possível usar grafos, por exemplo, para analisar séries temporais de dados cerebrais registrados por meio de eletroencefalograma (EEG). Eletrodos são colocados no couro cabeludo de um voluntário, enquanto este recebe estímulos visuais ou auditivos. Os eletrodos registram as ondas geradas durante a estimulação. Grafos são usados como descrições globais dos dados coletados”, explicou Galves.
Segundo Remco van der Hofstad, professor da Eindhoven University of Technology, na Holanda, e coorganizador do evento, seria impossível descrever a interação entre os 100 bilhões de neurônios existentes no cérebro humano de maneira determinística, ou seja, apontar com precisão, um a um, quem está conectado com quem e como se dá a interação entre eles.
“Um grafo aleatório é uma forma de descrever a conectividade entre esses neurônios no sentido probabilístico. Podemos supor que os neurônios têm em média mil conexões uns com os outros. Tentamos então construir um modelo com essa propriedade com base em princípios probabilísticos”, explicou.
Para Hofstad, o uso de grafos para analisar dados cerebrais poderia permitir, no futuro, diagnosticar de modo mais econômico, eficiente e precoce doenças como Alzheimer por meio de um exame como EEG.
“Mas o que eu gostaria, no longo prazo, é ser capaz de construir um modelo, o mais simples possível, para entender como os neurônios estão conectados. E a próxima pergunta seria: podemos modelar a funcionalidade? Descrever não apenas o que está acontecendo no cérebro como também a forma como ele responde a estímulos?”, disse Hofstad em entrevista à Agência FAPESP.
Se o modelo for robusto o suficiente, disse o cientista, poderia ser usado para prever comportamentos ou efeitos. Isso abriria caminho para uma teoria matemática que permitiria compreender a plasticidade do cérebro.
“Seria possível prever, por exemplo, as chances de uma determinada região cerebral assumir uma função que antes era desempenhada por uma área danificada por um acidente vascular cerebral. Claro que tudo isso está muito no futuro, mas poderia ser possível algum dia”, acrescentou.
Em constante transformação
Segundo a coorganizadora do evento, Claudia Domingues Vargas, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora principal do NeuroMat, um dos principais desafios de criar modelos que descrevam o funcionamento cerebral é o fato de que ele está constantemente sendo modificado por novas experiências ao longo do desenvolvimento.
“Na neurociência estudamos a interação de bilhões de unidades neuronais, de diferentes áreas cerebrais, para gerar propriedades como linguagem, pensamento, emoções, movimento e tudo que representa nosso ser no mundo. A formalização dessa passagem, que vai dos elementos interagindo para o comportamento em si, é uma das missões do NeuroMat”, disse Vargas.
Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e um dos palestrantes do encontro, tem usado grafos para compreender o padrão de pensamento de pacientes e voluntários em experimentos.
“Gravamos o discurso e então transformamos o relato inteiro de um sonho em uma trajetória de palavras. Cada nó é uma palavra e cada aresta é uma sequência entre palavras. Isso permite entender o padrão de pensamento e determinar, por exemplo, se o paciente é portador de transtorno bipolar ou esquizofrenia. O que o psiquiatra aprende a reconhecer por treinamento subjetivo podemos medir e representar com um grafo e então fazer uma análise de suas propriedades”, contou.
Outro participante do encontro foi Wojciech Szpankowski, professor de Ciência da Computação na Purdue University, Estados Unidos, e diretor do Center for Science of Information – uma organização financiada pela National Science Foundation em um modelo semelhante ao do CEPID-FAPESP.
“Nosso objetivo é estudar a informação em todos os sentidos, incluindo os fluxos de informação no cérebro. Somos filhos de Claude Shannon, criador da Teoria da Informação [ramo da teoria da probabilidade e da matemática estatística que lida com sistemas de comunicação, transmissão de dados, criptografia, codificação, teoria do ruído, correção de erros, compressão de dados, entre outros fatores]”, contou Szpankowski, que também é um dos integrantes do Comitê Internacional do NeuroMat.
Em sua palestra intitulada “Emerging Frontiers of Science of Information” (Fronteiras Emergentes da Ciência da Informação), o cientista abordou os novos desafios da área, como segurança em redes, e apresentou modelos de informação teórica interessantes para estudar sistemas biológicos.
Outros palestrantes do evento foram: Almut Schütz (Max Planck Institute for Biological Cybernetics, Alemanha), Audrey Mercer (University College London, Reino Unido), Christophe Pouzat (Université Paris Descartes, França) e Anderson Winkler (University of Oxford, Reino Unido). Os slides das apresentações já estão disponíveis no site do evento e, em breve, também estarão os vídeos das palestras.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Delcídio para nós
As dúvidas sobre a propriedade da prisão de Delcídio do Amaral, decretada por cinco ministros do Supremo Tribunal Federal, vão perdurar por muito tempo. Assim como a convicção, bastante difundida, de que a decisão se impôs menos por fundamento jurídico e equilíbrio do que por indignação e ressentimento com a crença exposta pelo senador, citando nomes, na flexibilidade decisória de alguns ministros daquele tribunal, se bem conversados por políticos.
Às dúvidas suscitadas desde os primeiros momentos, estando o ato do parlamentar fora dos casos de prisão permitida pela Constituição, continuam tendo acréscimos. O mais recente: Delcídio planejou a obstrução judicial que fundamentou a prisão, mas não a consumou. E entre a pretensão ou tentativa do crime e o crime consumado, a Justiça reconhece a diferença, com diferente tratamento.
A sonhadora reunião de Delcídio até apressou a delação premiada de Nestor Cerveró, buscada sem êxito pela Lava Jato há mais de ano. Ali ficou evidente que seu advogado Edgar Ribeiro estava contra a delação premiada. Isso decidiu o ex-diretor da Petrobras, temeroso, a encerrar aceitá-la, enfim.
Em contraposição às dúvidas sem solução, Delcídio suscitou também temas e expectativas que tocam a preocupação ou a curiosidade de grande parte da população. Sabe-se, por exemplo, que Fernando Soares, o Baiano, ao fim de um ano depositado em uma prisão da Lava Jato, cedeu à delação premiada. O mais esperado, desde de sua prisão, era o que diria sobre Eduardo Cunha e negócios com ele, havendo já informações sobre a divisão, entre os dois, de milhões de dólares provenientes de negócios impostos à Petrobras.
Informado dos depoimentos de Baiano, eis um dos comentários que o senador faz a respeito: ele “segurou para o Eduardo”. Há menções feitas por Baiano que não foram levadas adiante pela escassa curiosidade dos interrogadores. Caso, por exemplo, de um outro intermediário de negociatas citado por Baiano só como Jorge, sem que fossem cobradas mais informações sobre o personagem e seus feitos. Mas saber tudo o que há de verdade ou de fantasia em torno do presidente da Câmara é, neste momento, uma necessidade institucional e um direito de todo cidadão.
Se Fernando Baiano “segurou para Eduardo Cunha”, a delação e os respectivos prêmios -a liberdade e a preservação de bens- não coincidem com o que interessa às instituições democráticas e à opinião pública. E não se entende que seja assim.
Entre outras delações castigadas de Delcídio, um caso esquisito. Investigadores suíços confirmaram, lá por seu lado, que Nestor Cerveró tinha dinheiro na Suíça. Procedente de suborno feito pela francesa Alstom, na compra de turbinas quando ele trabalhava com Delcídio, então diretor Gás e Energia da Petrobras em 1999-2001, governo Fernando Henrique. A delação do multipremiado Paulo Roberto Costa incluiu o relato desse suborno. Mas a Lava Jato não se dedicou a investigá-lo e o procurador-geral da República o arquivou, há oito meses. Os promotores suíços foram em frente.
Na reunião da fuga, Delcídio soube com surpresa, por Bernardo, que Cerveró entregara o dinheiro do suborno ao governo suíço, em troca de não ser processado lá. É claro que a Lava Jato e o procurador-geral da República estiveram informados da transação. E contribuíram pela passividade. Mas o dinheiro era brasileiro. Era da Petrobras. Foi dela que saiu sob a forma de sobrepreço ou de gasto forçado. Não podia ser doado, fazer parte de acordo algum. Tinha que ser repatriado e devolvido ao cofre legítimo.
A Procuradoria Geral da República deve o esclarecimento à opinião pública, se fez repatriar o dinheiro do suborno ou por que não o fez. E, em qualquer caso, por que não investigou para valer esse caso. Foi ato criminoso e os envolvidos estão impunes. Com a suspeita de que o próprio Delcídio seja um deles, como já dito à Lava Jato sem consequência até hoje.
Mas não tenhamos esperanças. Estamos no Brasil e, pior, porque a ministra Cármen Lúcia, no seu discurso de magistrada ferida, terminou com este brado cívico: “Criminosos não passarão!” [toc-toc-toc, esconjuro] Foi o brado eterno de La Passionaria em Madri, que não tardou a ser pisoteada pelos fascistas de Franco. De lá para cá, em matéria de ziquizira, só se lhe compara aquele [ai, valei-me, Senhor] “o povo unido jamais será vencido”, campeão universal de derrotas.
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