segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Como tirar esse traçado do papel, IstoÉ


Os usuários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) que embarcam em estações como a da Luz e a da Barra Funda, duas das mais movimentadas de São Paulo, já estão habituados a encontrar vagões com a logomarca da empresa de logística MRS estacionados nos trilhos vizinhos aos dos trens de passageiros. Com 1.643 km de malha ferroviária, a companhia carioca transporta cargas de gigantes como a Votorantim Metais, a BASF e a MMX. Por utilizar os mesmos trilhos do transporte público, que são prioridade da CPTM, a MRS, que faturou R$ 801 milhões no terceiro trimestre, tem o seu trabalho prejudicado.
A situação, no entanto, seria diferente caso a obra do Ferroanel, enfim, saísse do papel. Em uma terceira tentativa, o governo federal quer incluir o projeto nas negociações com as concessionárias de ferrovia, por meio da renovação antecipada das concessões. Em contrapartida, prolongaria as datas dos contratos por 30 anos e exigiria novos aportes. Parte do programa de investimento em ferrovias, orçado em R$ 99,6 bilhões, o Ferroanel é dividido em dois trechos: o Norte, com 52 km de extensão e custo estimado em R$ 2 bilhões, e o Sul, com 58 km e valor ainda indefinido.
Por enquanto, os estudos para viabilidade do projeto foram feitos apenas para o trecho Norte, que fará a ligação entre a região de Campo Limpo Paulista e Engenheiro Manoel Feio. Uma análise feita pela Empresa de Planejamento e Logística (EPL), do governo de São Paulo, aponta que a ferrovia poderá movimentar 40 milhões de toneladas de carga até 2040, tendo como principal demanda os produtos da indústria siderúrgica, de minério de ferro e de granéis vegetais.
Para o sócio da consultoria Macrologística, Olivier Girard, o fato do Ferroanel não dividir trilhos com a CPTM será fundamental para a logística desses produtos. "Hoje em dia, poucas cargas passam pela cidade de São Paulo”, diz Girard. "Com a abertura do Ferroanel, a locomoção poderá ser feita o dia todo”. A construção do anel ferroviário voltou a ser discutida depois de duas tentativas frustradas. O projeto foi apresentado em 2003 pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que previu a sua conclusão em três anos.
No entanto, a primeira tentativa concreta de tirar o plano do papel ocorreu apenas em meados de 2008, com uma parceria frustrada entre o governo federal e o estadual, em conjunto com a companhia MRS. Já a segunda tentativa, em 2012, veio com a inserção da obra na primeira versão do Programa de Investimento em Logística (PIL I), que também não obteve avanços por rejeição dos investidores. Agora, o governo federal quer propor uma renovação nas concessões de ferrovias atuais. A intenção é que, antecipando a renovação dos contratos, as concessionárias invistam direta e indiretamente em obras já acordadas com a União.
A abertura das negociações para a renovação das concessões foi anunciada em junho, com o lançamento do PIL II, porém, apenas ao final de outubro foi criada uma comissão na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para oficializar os pedidos contratuais. Além de proporcionar um frete logístico 25% menor que o rodoviário, o transporte sobre trilhos reduz o fluxo de caminhões. De acordo com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), cada composição de trem de 50 vagões retira aproximadamente 195 caminhões de circulação.
No caso do Ferroanel Norte, a EPL projeta que a redução seria de 4,2 mil caminhões por dia. Segundo o coordenador do curso de engenharia civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, Luiz Figueiredo, se concretizado, o Ferroanel trará um ganho não apenas à logística nacional, mas à competitividade das empresas, que terão menos perdas de produto e, consequentemente, menos gastos. "Os caminhões passam por estradas esburacadas e parte da carga é deixada pelo caminho”, diz Figueiredo. Especialistas ressaltam ainda que o Ferroanel será um dos principais estimuladores do Porto de Santos, o mais movimentado da América Latina.
Atualmente, a dificuldade de acesso ao porto por rodovias acaba tornando-o ineficiente. No entanto, com a opção da ferrovia, isso pode mudar. Do total de cargas movimentadas nos terminais, 25% são feitas por trilhos, um crescimento de 80% nos últimos oito anos. A tendência, com o anel ferroviário, é que o movimento fique ainda maior. "O Ferroanel fará com que o Porto de Santos opere com mais eficiência”, diz Carlos Cavalcanti, diretor do departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Hoje os terminais estão ociosos, esperando pelas cargas, que têm dificuldade de chegar.”

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Nordeste desponta como polo da energia eólica brasileira, do Portal Brasil

INFRAESTRUTURA


Energia limpa

Em 12 de outubro, a geração eólica nordestina atingiu a marca histórica de 3.689 megawatts (MW) de potência
por Portal BrasilPublicado13/11/2015 09h24Última modificação13/11/2015 15h15
Foto: Marcos Santos/USP ImagensOs ventos do Nordeste possuem características ideais para a atividade eólica
Os ventos do Nordeste possuem características ideais para a atividade eólica
A energia eólica está revolucionando o Nordeste brasileiro. Em 12 de outubro, a geração eólica nordestina atingiu a marca histórica de 3.689 megawatts (MW) de potência. No dia, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a fonte chegou a atender por volta de 46% de toda a demanda regional.
A Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeoólica) informa que há 234 parques eólicos no Nordeste. A região detém 84% de toda a capacidade instalada em território nacional, o equivalente a uma potência de 6,1 gigawatts (GW) --em setembro, o Brasil alcançou uma capacidade eólica total instalada de 7,8 GW.  E isso é bom para todo o País, pois ajuda a equilibrar o fornecimento de eletricidade dos brasileiros das mais diferentes regiões.
"A rede elétrica brasileira é como se fosse um grande condomínio: ela junta todos os geradores naquelas grandes linhas de transmissão que atravessam o País", comparou. "Então, a energia eólica que é gerada no Nordeste é dividida para todos os brasileiros, quando acendem uma luz", ressaltou o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB) Rafael Shayani.
Atualmente, a energia elétrica gerada pelos ventos responde por 5,1% da matriz energética nacional. A Abeeólica estima que, em 2020, a fonte venha a representar 13% de toda a produção energética nacional. No 22º leilão de energia nova promovido pelo governo neste ano (A-3/2015), a fonte eólica atendeu 80% da demanda total, comercializando 538,8 MW. Isso significa mais de R$ 2 bilhões de investimento no setor e 8 mil empregos. Além disso, significa que a partir de 1º de janeiro de 2018, a energia eólica abastecerá 1 milhão de lares brasileiros.
"A fonte eólica nos atrai nesse momento”, disse o presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape), Mário Menel. Os autoprodutores, inclusive, focam em investimentos no Piauí, disse.
Questão ambiental
Rafael Shayani coloca o Brasil como referência internacional na luta pela conservação do planeta por já utilizar energia renovável das hidrelétricas.
"A questão energética é um tema que aflige todos os países. A maioria deles utiliza carvão ou derivados do petróleo, o que aumenta a emissão de gases de efeito estufa, causando muitos problemas climáticos", lembra. "O Brasil agora está tendo um destaque muito especial na energia eólica, o que é muito positivo", diz.
Por que o Nordeste?
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), os ventos do Nordeste possuem características ideais para a atividade eólica: são unidirecionais, constantes e sem rajadas, além de manterem, por 80% do tempo, em velocidades superiores a 8 metros por segundo.
O geógrafo da UnB Telmo Amand Ribeiro explicou os motivos climáticos de o Nordeste ter se afirmado como polo produtor de energia eólica. Segundo ele, as chapadas do sertão brasileiro não permitem que os ventos que incidem sobre o litoral sigam para o interior do País.
"Isso é devido aos ventos alísios, que só atingem o litoral nordestino, do Maranhão ao Rio Grande do Norte, mas no Ceará, principalmente", explicou. "Esses ventos sopram do Equador para os trópicos", concluiu Ribeiro.

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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Sandra, um primor de Gilberto Gil


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Gilberto Gil

Maria Aparecida, porque apareceu na vida
Maria Sebastiana, porque Deus fez tão bonita
Maria de Lourdes
Porque me pediu uma canção pra ela

Carmensita, porque ela sussurou: "Seja bem-vindo"
(No meu ouvido)
Na primeira noite quando nós chegamos no hospício
E Lair, Lair
Porque quis me ver e foi lá no hospício

Salete fez chafé, que é um chá de café que eu gosto
E naquela semana tomar chafé foi um vício
Andréia na estréia
No segundo dia, meus laços de fita

Cintia, porque, embora choque, rosa é cor bonita
E Ana, porque parece uma cigana da ilha
Dulcina, porque
É santa, é uma santa e me beijou na boca

Azul, porque azul é cor, e cor é feminina
Eu sou tão inseguro porque o muro é muito alto
E pra dar o salto
Me amarro na torre no alto da montanha

Amarradão na torre dá pra ir pro mundo inteiro
E onde quer que eu vá no mundo, vejo a minha torre
É só balançar
Que a corda me leva de volta pra ela:
Oh, Sandra

© Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo)

"Em 94, eu estava dando uma entrevista coletiva em Curitiba, quando uma moça entrou e disse: 'Não se lembra de mim?' Eu fiquei olhando, olhando, e ela então gritou: 'Andréia na estréia!' E eu: 'Claro!' Andréia era a menina que eu tinha conhecido, em 76, na passagem do show dos Doces Bárbaros pela cidade (antes de seguirmos para Florianópolis, onde eu fui preso por porte de maconha e posto em tratamento ambulatorial numa clínica, episódio em que a canção é baseada). Tínhamos ficado juntos na ocasião, e ela que me levou a um armarinho para comprar as fitas com que me enlaçou os cabelos trançados. Desde então nunca mais tínhamos nos reencontrado."

*

"Todas as meninas mencionadas em Sandra foram personagens daqueles dias que eu vivi entre Curitiba e Florianópolis. Maria Aparecida, Maria Sebastiana e Maria de Lourdes me atenderam no hospício durante o internamento imposto pela justiça enquanto eu aguardava o julgamento. A de Lourdes me falava a toda hora: 'Você vai fazer uma música pra mim, não vai?' 'Vou'. Carmensita: essa - foi interessantíssimo -, logo que eu cheguei, ela veio e me disse, baixinho: 'Seja bem-vindo'. Lair era uma menina de fora, uma fã que foi lá me visitar. Salete era de lá: 'Meu café é muito ralo', me falou. 'É exatamente como eu gosto, chafé', respondi. Cíntia: também de Curitiba, como Andréia. Quando passamos pela cidade, me levou ao sítio dela uma tarde; foi quem me deu uma boina rosa com a qual eu compareceria ao julgamento mais adiante, em Florianópolis, e com a qual eu apareço no filme Os Doces Bárbaros. Ana: ficou minha amiga até hoje; de Florianópolis. E Dulcina, que era a mais calada, a mais recatada de todas na clínica, a mais mansa - era como uma freira -, foi a única que um dia veio e me deu um beijo na boca.

"Sandra, citada no final da letra, era minha mulher, que preferiu não ir a Florianópolis e com a qual eu associei a idéia do hexagrama da torre, tirado no I Ching, um dos meus livros de cabeceira naquele período: a que tomava conta de tudo; onde eu estivesse, o seu olhar espiritual me acompanharia; seu ente se espraiaria, estendendo-se por todas as mulheres com quem eu convivesse. A ela as mulheres citadas na letra remetiam por representarem o feminino, a minha sustentação naquele momento.

"Mas o que ninguém sabe, e que não se revela de nenhuma maneira na canção - o seu lado oculto -, é que há duas Sandras, a que é mencionada no fim e a do título, que não se refere à Sandra com quem eu era casado, mas a uma menina linda, maravilhosa, também chamada Sandra, que tietava o Caetano em Curitiba, amiga da Andréia - que me tietava."