O Estado de São Paulo
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Ao final do primeiro semestre, não existem mais dúvidas de que temos um governo precocemente enfraquecido e uma economia em franca recessão. Ainda não chegamos ao fundo do poço e o desemprego deve se elevar até o final do ano.
Na verdade, o que está por trás de tudo é a implosão de duas grandes apostas, interconectadas:
– A tentativa de hegemonia e eternização no poder de um grupo político que comanda o País desde 2003.
– A tentativa de fazer com que o Estado dominasse e conduzisse, em aliança com certos grupos campeões, todas as fontes de crescimento da economia.
A implosão dessas apostas foi espetacular: afinal, como diz a sabedoria popular, quanto maior a escada, maior é o tombo. Ao final de 2014, ficou evidente o desastre macroeconômico, expresso na inflação elevada (a despeito dos grandes esforços de repressão do câmbio e de itens relevantes, como a gasolina e a energia elétrica), no déficit externo em conta corrente (que cresceu para US$ 105 bilhões em 2014, na nova metodologia do Banco Central), na elevação dos juros (que foram de 10,50% em janeiro de 2014 para 12,25% em janeiro deste ano), na piora fiscal (o déficit nominal subiu de 2,6% do PIB em 2011 para 6,2% no ano passado) e na desaceleração do crescimento até a recessão atual.
Há também o maior desastre microeconômico dos últimos tempos: existem grandes problemas nos setores elétrico, de etanol, na Petrobrás e seus fornecedores, em todos os componentes da construção civil (residencial, comercial, industrial e construção pesada), nos bens de capital e na indústria em geral.
Aliás, o Brasil fez de tudo nos últimos anos em matéria de política industrial: protecionismo, exigências de conteúdo nacional, margens de preferência em compras públicas, crédito subsidiado, incentivos fiscais, etc.
Entretanto, nunca a indústria representou tão pouco frente ao PIB: algo como 11% em 2014. Está aí algo que deve ser explicado ao distinto público, naturalmente, sem colocar a culpa na crise internacional.
Teremos um deserto para atravessar, que vai durar pelo menos dois anos. Projetamos queda do PIB de 2,1% e de 0,6% em 2015 e 2016, respectivamente, devendo ser destacado que esses números têm viés de baixa.
Do ponto de vista das empresas, o grande desafio é como atravessar este deserto sem destruir o seu futuro. Até porque, quando voltarmos a crescer, eventualmente a partir de 2017, o modelo de crescimento terá de ser bem diferente do passado.
No curto prazo, a receita é a usual: defender a liquidez, reduzir custos (como o que está acontecendo na questão do aluguel, cujos contratos estão sendo revisados fortemente para menos, tendo em vista a imensa oferta de lojas, escritórios e galpões fechados, todos na busca de novos inquilinos) e observar os ajustes da sua demanda, tanto para encolher a produção como para aproveitar nichos e novas oportunidades
Por exemplo, os consumidores estão adiando compras de itens caros e que exigem tomada de crédito, como é o caso de carros e imóveis. Entretanto, isso abre oportunidades para a venda de itens do lar, uma espécie de compensação para as famílias que ficarão mais tempo em casa.
Acredito que as empresas têm de dar atenção, nesta travessia, a quatro elementos chave na reorganização da economia:
1) Uma das poucas coisas inequívocas quanto ao futuro é que o real vai continuar se desvalorizando nos próximos meses. Daí porque será necessário retomar ou reforçar as linhas de exportação e investimentos complementares na internacionalização das empresas (escritórios de representação, centros de distribuição, etc). Na mesma linha, será preciso aproveitar a maior competitividade da produção nacional com as importações e as eventuais oportunidades de nacionalização de produtos e componentes, que se tornaram caros demais quando trazidos do exterior.
2) É indispensável um grande esforço na direção das melhores práticas e de redução de custos. Será preciso também fazer uma revisão na política de crédito para clientes e fornecedores. Finalmente, nesta nova fase do País, é imperioso elevar a produtividade e passar a inovar de fato. A propósito, a comparação com a experiência exitosa do agronegócio, sobre a qual tenho escrito frequentemente, é algo a ser copiado.
3) Haverá necessariamente consolidação na maioria dos setores, nos quais empresas com balanço forte irão adquirir bons ativos, pertencentes a companhias em dificuldades a bons preços.
4) É indispensável diminuir a dependência de favores fiscais e de créditos subsidiados, uma vez que está evidente para todos o total esgotamento das possibilidades do Tesouro Nacional, pelo menos nos próximos anos. Muitos modelos de negócios terão de ser rapidamente reajustados a este respeito.
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A redução das metas fiscais para este ano e os próximos não foi surpresa. Inesperada foi sua magnitude, muito maior que o imaginado. Assim, o ajuste mesmo foi relegado para os últimos dois anos do governo.
Não é, pois, de surpreender a forte reação dos mercados. O medo de perder o grau de investimento voltou a ser bem concreto.
Cada dia está mais claro que não cresceremos sem reformas e avanços mais profundos em três áreas:
1) As despesas públicas correntes crescem sempre mais do que a receita. Enquanto deu, a elevação de impostos fechou as contas. Agora, é impossível seguir adiante sem reformas mais profundas em regras do gasto público, especialmente em itens como a previdência.
2) Há muito tempo os custos de produção sobem de forma independente da atividade econômica, por conta de burocracia, impostos, logística e custo direto e indireto da mão de obra, sem grandes ganhos de produtividade que possam fazer uma compensação. Ou isto é revertido ou os investimentos e o crescimento não voltarão.
3) Nosso sistema educacional é lamentavelmente fraco, embora os gastos com o mesmo estejam no padrão internacional em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Ou isto é revertido além dos discursos ou não teremos chances no mundo do conhecimento.
O resto são apenas paisagens.
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