domingo, 16 de novembro de 2014

Um bilionário por quem se torceu em vão - ELIO GASPARI


FOLHA DE SP - 16/11

Livro mostra quanto houve de cobiça e leviandade na ascensão e queda do fenômeno Eike Batista


Está chegando às livrarias "Tudo ou Nada - Eike Batista e a verdadeira história do grupo X", da repórter Malu Gaspar. Quem quiser sapeá-lo numa livraria pode ler as duas primeiras páginas do prólogo. Depois disso será impossível parar. Ali está a história do circo de Eike Batista, o "Indiana Jones brasileiro". Com uma fortuna de US$ 27 bilhões em 2010, ele foi o homem mais rico do Brasil, oitavo do mundo. Quebrou três anos depois.

Depois do colapso do Império X pode-se pensar que a explicação está na personalidade megalomaníaca, espetaculosa e excêntrica de Eike. É pouco. Ele encomendava mapas astrais das almas alheias. O banqueiro Siegmund Warburg não contratava diretor sem que uma grafóloga estudasse sua caligrafia. Cornelius Vanderbilt fez a maior fortuna dos Estados Unidos e, na velhice, aconselhava-se com uma vidente. Nenhum dos dois quebrou.

"Tudo ou Nada" mostra a confluência de inter$e$ que geraram o mito. Não saiu ouro suficiente de suas minas gregas, nem petróleo dos campos da OGX. A mineradora que vendeu à Anglo não valia US$ 5,5 bilhões. Tudo bem, mas os bancos ganharam centenas de milhões de dólares intermediando suas operações (R$ 268 milhões só no lançamento das ações da OGX). Sempre houve quem avisasse que os negócios eram radioativos, mas ouvi-los seria duvidar do mundo e do Brasil de Lula.

Quando as ações da OGX caíram para 23 centavos, tendo valido R$ 23,27, a festa acabou. Ninguém quis lembrar que a história terminara como começara: 13 anos antes, no Canadá, as ações da TVX, que chegaram a valer US$ 74, caíram para US$ 0,27. O mérito de "Tudo ou Nada" está em mostrar que a curva da fortuna de Eike Batista era acompanhada por condutas lineares e previsíveis. Ele dizia que seus negócios eram "a prova de idiotas". Dava-se o oposto, mas era preciso que houvesse também ganância.

Malu Gaspar destrinchou as operações e fantasias do império de Eike e de sua "guarda pretoriana". Expôs quanto dinheiro se ganhou à sua custa, a sonolência da Comissão de Valores Imobiliários ("xerife sem pistola") e a manipulação dos mitos de celebridades. Numa época em que a Petrobras está debaixo de chumbo, faça-se justiça ao seu corpo técnico, ali nunca se acreditou nas mágicas do Mr. X.

A narrativa de "Tudo ou Nada" e a qualificação profissional de Malu Gaspar concedem-lhe crédito. Ainda assim, o livro tem um problema. Suas referências bibliográficas são insuficientes para amparar as descrições de cenas e diálogos que conta. Elas se baseiam em 106 entrevistas com personagens do serpentário X, mas não há uma lista dos entrevistados. Além disso, fica esclarecido que uma conversa de duas pessoas não foi necessariamente contada por uma delas. Eike Batista não quis falar.

USINA DE ENCRENCAS

A doutora Dilma já conseguiu:

Demitiu o ministro da Fazenda no exercício do cargo sem ter substituto.

Permitiu que circulasse a informação segundo a qual convidou o presidente do Bradesco, e ele não aceitou. Podia tê-la desmentido prontamente, se fosse o caso.

Pediu aos seus 39 ministros que colocassem os cargos à disposição. Uma redundância, porque os cargos são dela. Mesmo assim, Marta Suplicy foi-se embora sem lhe conceder período de carência.

Isso tudo e mais a proposta de um plebiscito para fazer uma reforma política que não se sabe qual é. Existe um projeto para discussão na Câmara. Vem sendo sistematicamente travado pelo PT.

O DITO FOI DITO

Onze em dez pessoas que conhecem a mecânica das agências de cotação de risco asseguram que o rebaixamento da posição brasileira é apenas uma questão de tempo.

Quem acompanha o desempenho dessas agências sabe que a confiabilidade de suas análises é mínima. (A crise de 2008 mostrou isso.) O problema está no fato de Nosso Guia ter festejado a promoção do risco brasileiro, em 2008, como se fosse uma vitória de Copa do Mundo.

EREMILDO, O IDIOTA

Eremildo é um idiota e soube que empresários apanhados nas petrorroubalheiras estão soprando uma outra modalidade de purga para seus delitos. Ofereceriam ao governo fartos recursos para que se construíssem presídios, para os outros.

O idiota pensou o seguinte: os doutores constroem presídios para a Viúva com o luxo dos hotéis dos Emirados Árabes e, neles, pagam o que porventura devam. A grande virtude do "efeito Papuda" é que encarcera gente que achava que presídio era coisa do andar de baixo.

UMA BILIONÁRIA POR QUEM VALE TORCER

A mais jovem bilionária americana chama-se Elizabeth Holmes, tem 30 anos e aos 19 abandonou a Universidade de Stanford, onde estudava engenharia química. Com a poupança das anuidades fundou sua empresa para levar adiante a pesquisa que começara no laboratório da escola. Ela inventou um processo pelo qual podem-se fazer dezenas de exames com apenas algumas gotas de sangue, a um preço equivalente a uma fração do que cobram os laboratórios. Sua empresa chama-se Theranos, vale US$ 9 bilhões e no conselho senta-se o ex-secretário de Estado Henry Kissinger.

Grandes laboratórios tentaram comprar sua patente ou associar-se a ela. Educada numa casa onde o pai se dedicara a trabalhos de assistência humanitária, resolveu ficar bilionária com um sentido de missão. Recusou todas as ofertas a associou-se à cadeia de farmácias Walgreen no Arizona e na Califórnia. Seu objetivo é construir uma rede onde o freguês vai ao balcão, toma uma picada (sem a temível agulha), deixa algumas gotas de sangue e em poucas horas recebe o resultado pela internet. Tudo isso sem esperas ou intermediação de médicos. Os exames custam de 25% a 50% do que cobram os laboratórios e de 10% a 25% dos preços nos hospitais. Uma senhora que fizera uma bateria de exames ao preço de US$ 876 cobrados ao seu plano de saúde, picou-se na Theranos e pagou US$ 34.

Um dia essa boa notícia chegará ao Brasil. Aqui as operadoras privadas de saúde gastam em torno de R$ 7,5 bilhões com exames de análises clínicas, e ai de quem cair nas tabelas dos laboratórios ou de hospitais do Padrão Lula.

Comparando-se os preços da Theranos com os do mercado brasileiro resulta que em todos os casos aqui os planos de saúde pagam mais caro. Nas tabelas do Padrão Lula, a diferença é de chorar. Por exemplo: um hemograma pode custar R$ 80 no andar de cima de Pindorama e, na Theranos, R$ 20. O velho e bom exame para medir o colesterol custa R$ 143 no Padrão Lula. Na Theranos, US$ 2,99, ou R$ 7,80.

Uma das preocupações de Elizabeth Holmes é dar transparência aos custos da saúde. No site da Theranos estão os preços de cerca de mil exames. A outra preocupação é de quem sabe que dinheiro não aceita desaforo: 50% das ações da Theranos são dela.

De onde vêm os factoides, do OI


Por Luciano Martins Costa em 13/11/2014 na edição 824
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 13/11/2014
 
Não há nada mais interessante nos jornais de quinta-feira (13/11) do que a reportagem doEstado de S.Paulo revelando que os delegados federais responsáveis pela Operação Lava-Jato compunham uma espécie de comitê informal do candidato Aécio Neves à Presidência da República enquanto vazavam seletivamente para a imprensa dados do inquérito. A repórter Julia Duailibi teve acesso a perfis restritos do Facebook, nos quais autoridades da Superintendência da Polícia Federal do Paraná agem como os mais fanáticos ativistas da polarização política que marcou a campanha eleitoral. 
O texto não explica como a jornalista teve acesso ao material, nem quando, o que autoriza o leitor a considerar que o jornal podia já saber, na ocasião, que a fonte das especulações publicadas pela revista Veja na véspera da eleição era o próprio núcleo de investigações, atuando a serviço do candidato do PSDB. Segundo o relato, praticamente todos os agentes envolvidos na apuração, inclusive o chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários e a titular da delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e Desvios de Recursos Públicos do Paraná, onde estão os principais inquéritos da operação, agiam como cabos eleitorais na rede social.
Entre as manifestações coletadas pela repórter há xingamentos vulgares à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula da Silva, e elogios de todo tipo a Aécio Neves – entre eles uma página em que o ex-governador de Minas aparece em montagem de fotografias na companhia de mulheres atraentes. Nessa página, o responsável pela Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, a quem estão vinculados os delegados empenhados na Operação Lava-Jato, escreveu: “Esse é o cara!”
Os policiais citados participam de um grupo fechado autointitulado Organização de Combate à Corrupção (OCC), cujo símbolo é uma caricatura da presidente da República com dois grandes dentes incisivos e coberta por uma faixa onde se lê: “Fora, PT!” O conteúdo repete factoides, mitos, boatos e todo o arsenal usado durante a campanha eleitoral contra a reeleição da presidente.
Inquérito contaminado
A página inicial da organização ainda pode ser acessada (ver aqui) no Facebook, embora a participação seja exclusiva para inscritos sob convite, e apresenta a OCC como “um instituto de orientação da cidadania, da democracia, da promoção do desenvolvimento econômico e social e de outros valores universais”.
Ela remete ao blog da suposta entidade (ver aqui), onde se desenvolvem campanhas em defesa da ditadura militar, teorias conspiratórias e textos que procuram desacreditar alguns profissionais da imprensa – num deles, os autores expõem os repórteres Gustavo Uribe, da Folha de S.Paulo, e Ricardo Chapola, do Estado de S.Paulo.
A OCC tem todas as características de outra organização de extrema-direita que atuou como força auxiliar da repressão nos tempos da ditadura militar: o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) também começou como uma entidade da sociedade civil preocupada com a defesa de supostos “valores universais” e acabou transformado em milícia terrorista, praticando ações extremas como a depredação de uma emissora de rádio, atentados a bomba e o assassinato de um padre católico no Recife.
A reportagem inclui entrevistas com especialistas em Direito Administrativo e Penal para os quais o posicionamento político de delegados na condução de uma investigação pode colocar em xeque a neutralidade e conduzir até mesmo à nulidade de um inquérito. Alguns dos consultados citam a Operação Satiagraha, que levou à destituição e condenação do delegado federal Protógenes Queiroz por vazamento de informações sigilosas. Como se sabe, com essa justificativa a Operação Satiagraha foi esvaziada por decisão do Supremo Tribunal Federal, deixando livre o principal acusado, o banqueiro Daniel Dantas.
A revelação feita pelo Estado de S.Paulo e o que se pode apurar sobre os personagens dessa história compõem um escândalo dentro do escândalo da Petrobras e expõem a perigosa contaminação de toda uma superintendência regional da Polícia Federal por interesses externos ao da atividade policial, o que coloca em dúvida a qualificação de seus agentes para conduzir essa investigação, e, por consequência, de todo o noticiário que se seguiu.
Além disso, revela de onde vêm os factoides utilizados pela imprensa para exercer sua influência em questões importantes para a sociedade brasileira, como a eleição para a Presidência da República.

Opportunity responde 
Prezados senhores,
O artigo “Polícia e Bandidos” publicado em 13/11, cita Daniel Dantas.
Por isso, é preciso esclarecer que:
Desde o início da Operação Satiagraha, as ilegalidades foram identificadas pelo Ministério Público Federal (MPF). Por duas vezes, o MPF pediu a descontinuidade da investigação, “já que dos autos não consta nada de concreto que sequer surgira a prática de crime por quem quer que seja”.
Ainda em 2008, ano da deflagração da Satiagraha, o Supremo Tribunal Federal (STF) – primeiro de forma liminar, depois em mérito – concluiu que as prisões foram ilegais.
Em 7 de junho de 2011, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), acatou o parecer do MPF e anulou a ação penal, originada pela operação Satiagraha, em razão de suas ilegalidades.
O Opportunity e seus executivos foram vítimas de uma operação policial encomendada para atender interesses privados.
São Paulo, 13 de novembro de 2014
Atenciosamente,
Elisabel Benozatti / Assessoria de Comunicação do Opportunity 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Cinco medidas que podem aliviar a falta de água no Cantareira


ALEXANDRE BAZZAN - O ESTADO DE S. PAULO
11 Novembro 2014 | 09h 52

Com a maior seca em mais de 80 anos, o governo de São Paulo pode ser obrigado a lançar mão de várias alternativas para solucionar a crise hídrica

O baixo nível de um dos principais sistemas de abastecimento de água do Estado de São Paulo tem batido recordes de forma recorrente. O volume morto, que inicialmente era visto como solução, já está em uso e a chegada das chuvas não serviu para amenizar as reservas paulistas. O governador Geraldo Alckimin já fala em outras possibilidades como o tratamento de água do esgoto para evitar possível racionamento. Veja cinco opções que podem amenizar o problema.
1. Uso de água do mar - Francisco Lahóz, secretário executivo do Consórcio PCJ (Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) sugeriu a dessalinização e bombeamento de água do mar do litoral para a capital. Ele explica que essa tecnologia já é usada em outros lugares, inclusive áreas costeiras do nordeste brasileiro. 
2. Tratamento de esgoto é feito em outros países e já está em processo de implantação em São Paulo. A estação que vai produzir água de reuso deve estar pronta somente no fim de 2015 e gastará o dobro do preço do métodoconvencional de captação.   
Márcio Fernandes/Estadão
Centro de tratamento de esgoto da Sabesp
3. Aquífero Guarani tem água de excelente qualidade e servirá para desafogar o Sistema Cantareira. Entretanto, a solução servirá apenas para cidades abastecidas no interior do Estado, na região de Piracicaba. 
4. Transposição da água da Bacia do Rio Paraíba do Sul para as represas do Sistema Cantareira está próxima de sair. O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA) Vicente Andreu disse que o projeto é tecnicamente viável. Falta apenas a avaliação do governo federal e o aval dos governos de Minas Gerais e Rio de Janeiro. O governador do Rio Luiz Fernando Pezão disse que vai acatar a decisão do Planalto. 
Wilton Junior/Estadão
Rio Paraíba do Sul também tem nível abaixo do esperado para a época
5. Poços artesianos – O prefeito Fernando Haddad pretende lançar licitações para perfurar poços em caso de uma possível falta d’água. A medida, porém, é vista como emergência e visa solucionar apenas racionamento dentro da cidade de São Paulo. 
SECA NO CANTAREIRA
Nilton Fukuda/Estadão
Há um ano, o volume do Cantareira era de 40,1%