segunda-feira, 22 de abril de 2013

O consumo dos brasileiros ultrapassará a marca dos R$ 3 trilhões, em 2013, diz estudo


Esta perspectiva revela significativa expansão na potencialidade de consumo entre os brasileiros, já com os reflexos de uma segunda onda migratória no extrato das classes sociais.

A escalada ascendente de domicílios da classe B, nos últimos anos, fica evidenciada, bem como a ampliação da classe media, com a migração entre as classes C, D e E – tanto na participação
do consumo como em domicílios familiares. Nota-se que o Sudeste mantém a liderança nacional, seguido por um Nordeste em crescimento e com destaques nas presenças do Sul,
Centro-oeste e Norte. O País passa por uma acentuada interiorização setorial apesar do ganho de participação das Capitais no bolo da economia.

É o que aponta a IPC Marketing Editora, empresa especializada no cálculo de índices de potencial de consumo, ao concluir o cálculos do estudo IPC Maps para 2013, i
ndicador da potencialidade de consumo nacional, com detalhamento para cada um dos 5.565 municípios.
Consumo mais de R$ 3 tri - O consumo dos brasileiros irá registrar a cifra de R$ 3,001 trilhões (três trilhões e um bilhão de reais), em 2013, apresentando um crescimento próximo de R$ 276 bilhões quando comparado com o IPC Maps 2012 (cerca de R$ 2,73 trilhões). Em termos reais, os cálculos do IPC Maps 2013 mostram que as despesas das famílias crescerão acima do PIB, equivalente a 3,8% , indicando um aumento populacional da ordem de 0,84%. O estudo foi feito com base em dados secundários, atualizados e pesquisados através de fontes oficiais de informação, utilizando uma metodologia própria.

A população ultrapassará 195 milhões de pessoas, cálculo atualizado com os Resultados do Censo 2010. O número de mulheres permanecerá maior que o dos homens (51% contra 49%). A população urbana representará 84,6%, apontando um consumo urbano per capita anual de R$ 16.875,96.
Neste ano, o consumo da população residente na área rural chegará a R$ 199,5 bilhões, significando uma participação de 6,6% na economia nacional. Serão 29,6 milhões de pessoas, representando R$ 6.737,46 por habitante.
Maior desempenho - O IPC Maps de 2013 revela que tanto as classes B como a classe média vêm respondendo cada uma, em qualquer análise e a exemplo do ano anterior, pela metade de tudo o que é consumido no País, observa Pazzini. A classe B (segmentada em B1 e B2) ainda é a que apresenta maior poder de compra e crescimento entre os brasileiros. Responde isoladamente por R$ 1,359 trilhão, chegando a representar 48,5% do consumo nacional, neste ano. Em 2012 a participação da classe B foi ligeiramente superior a 50%. A população desta categoria compreende o universo de 16,2 milhões de domicílios familiares, ou 32% dos existentes no País. Os dados ainda apresentam um crescimento de 6,6% a mais em valor, contra os 15 milhões de domicílios registrados no ano passado. (gráficos IPC Maps 2013, em anexo, com o Retrato do Brasil).
Se a análise for pela ótica da nova classe média, que se identifica pela proximidade e migração entre as classes B2 e C1, o IPC Maps 2013 estima que este agrupamento social puxe uma fatia de 43% do consumo nacional. Basta verificar que ele soma os R$ 685,9 bilhões, da classe B2, com os R$ 518,760 bilhões da classe C1, ampliando o poder de compra da classe média para R$ 1,205 trilhão, numa faixa populacional de 24,4 milhões de domicílios familiares = 48,2% dos domicílios brasileiros em 2013. Em 2012, os dados do IPC Maps pontuavam que os desembolsos da classe média eram de R$ 1,089 trilhão, com 24 milhões de domicílios.
A classe A que se situa no topo da pirâmide social demonstra expansão nos gastos, chegando a R$ 539,6 bilhões (19,3% do País), com 4,6% de domicílios brasileiros (cerca de 2,33 milhões). A exemplo da classe média, esta categoria se caracteriza pela similaridade com a classe B1, com seus R$ 673,2 bilhões de consumo, que somados ultrapassam a marca de outro R$ 1,212 trilhão, perfazendo 7,5 milhões de domicílios. No ano passado, os valores foram de R$ 1,110 bilhão, com 7,3 milhões de domicílios.
Mobilidade social - A classe D sinaliza uma projeção de consumo da ordem de R$ 116,7 milhões (10% mais que 2012), com menos domicílios familiares – cerca de 7,068 milhões contra os 7,1 milhões registrados em 2012, confirmando um processo migratório ante o resultado das demais categorias. Tal constatação se aplica à classe E, com menor consumo 3,509 milhões, em 368 mil domicílios – contra os R$ 3,596 milhões consumidos no ano passado, nos 374 mil domicílios verificados.
Cenário Regional - A região Sudeste lidera o ranking do consumo nacional, com uma participação de 50,5% em 2013, ante os 50,4% obtidos em 2012. A região Nordeste continua em crescimento representando uma fatia de 18,2%, ante os 17,7% registrados no ano passado. O Sul do País se mantém na terceira posição com uma fatia de consumo da ordem de 16,9%, menor que o registrado no ano passado, que foi de 17,5%. Centro Oeste e Norte mantém o patamar das projeções de consumo do ano anterior, 8,59 e 5,78, respectivamente para 2013.
Interiorização estabilizada - Entre as inúmeras variáveis do cenário nacional, o IPC Maps 2013 indica a interrupção do processo de perda de participação das 27 capitais no potencial de consumo, revertendo ligeiramente a tendência descentralizadora do consumo para o interior. A participação das capitais em 2013 será de 32,9%, ante os 32,5% registrados em 2012. Em valor, a participação das 27 capitais brasileiras se aproxima de R$ 1 trilhão ( R$ 989,5 bilhões). Já os demais municípios brasileiros, que participaram em 2012 de 67,5% do consumo brasileiro, responderão em 2013 por 67,1% = R$ 2,0 trilhões.
50 maiores - Os 50 maiores municípios brasileiros responderão por 43,33% do consumo nacional, em 2013, revelando um ligeiro aumento sobre os 43,30% registrados no ano passado. No topo do ranking, destacam-se quatro principais mercados: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte - devido ao fortalecimento do potencial de consumo da classe A e crescimento da classe C.
O maior mercado continua sendo São Paulo, respondendo por 9,24% do total do consumo nacional, seguido pelo Rio de Janeiro, com 5,26% – ante os 8,68% e 4,98%, respectivamente verificados em 2012. Brasília ganhou participação no período, mantendo-se na 3ª posição, com o índice de 2,251% (contra os 2,248% registrados no ano passado). Na 4ª posição, Belo Horizonte é outro destaque positivo, subiu para 2,02% sua participação ante o consumo de 1,94% de 2012.
Salvador passou Curitiba, ocupando a 5ª posição, evidenciando a força do potencial de consumo da região Nordeste. Curitiba (6ª posição) e Porto Alegre (7ª posição) perderam participação no potencial de consumo entre 2012 e 2013. Nas posições seguintes, apenas Fortaleza (8ª posição) ganhou potencial de consumo entre 2012 e 2013, Goiânia (9ª posição) e Recife (10ª posição) perderam participação no potencial de consumo nacional.
Por esse ranking, o IPC Maps 2013 constata ainda que os 11 primeiras maiores mercados consumidores são predominantes nas Capitais dos Estados. (gráfico dos 50 maiores, em anexo, ou os 500 maiores municípios no site www.ipcbr.com).
Para onde vão os gastos - Através do IPC Maps é possível detectar o perfil dos consumidores por classe econômica e onde gastarão seu dinheiro. Os itens básicos liderarão os gastos, como manutenção do lar , que incorporam despesas com aluguéis, impostos e taxas, luz-água-gás (25,5%), alimentação (16,9% sendo 10,5% no domicílio e 5,2% fora dele e bebidas 1,1%), saúde, medicamentos, higiene pessoal e limpeza (8,6%), transportes (7,5%, sendo 5% veiculo próprio e transporte urbano 2,5%), materiais de construção (5,1%), vestuário e calcados (4,7%), seguidos de recreação e viagens (3,5%), educação (2,5%), eletrônicos-equipamentos (2,2%), móveis e artigos do lar (1,8%), e fumo (0,5%). Gráfico específico, em anexo
Faixas etárias - O viés do consumidor mostra que a sociedade brasileira conta atualmente com 165,5 milhões de pessoas na área urbana - exatos 91,5 milhões, na faixa etária dos 20 aos 49 anos economicamente ativa –, e outros 43,2 milhões já estão com 50 anos ou mais. A população de jovens e adolescentes vem em seguida, com uma população de 33,6 milhões de pessoas na faixa etária de 10 a 19 anos. A população infantil, compreendida pelas faixas etárias de 0 a 4 anos e de 5 a 9 anos indica 27,4 milhões de crianças e adolescentes em 2013, correspondente a 14% da população estimada para 2013.
Setores da Economia x população - Em 2013, o Brasil conta com 15,2 milhões de empresas. A maior quantidade está na região Sudeste, onde se encontram pouco mais de 49% das empresas brasileiras, totalizando 7.506.756 unidades instaladas. A região Sul desponta em 2º lugar, com participação de quase 19% (2.875.348 unidades), onde há maior quantidade de empresas por habitante: é uma empresa para cada 9,7 habitantes, enquanto na região Norte há uma empresa para cada 20 habitantes. O IPC Maps 2013 permite, ainda, análise setorial da economia com a apresentação dos segmentos empresariais por localidade segundo o principal ramo de atividade, ou seja, Indústria, Comércio, Serviços e Agribusiness. – há gráfico específico.
O IPC Maps 2013 permite, ainda, análise setorial da economia com a apresentação dos segmentos empresariais por localidade segundo o principal ramo de atividade, ou seja, Indústria, Comércio, Serviços e Agribusiness. – gráficos específicos: “Retrato do Brasil/Faixa Etária”, “Como o brasileiro gastará seu dinheiro”, “Crescimento populacional X Empresas”,

Retrato em nºs - Além destes destaques, o banco de dados do IPC Maps 2013 revela informações através de softwares de geoprocessamento, oferecendo um perfil de cada uma das 5.565 cidades brasileiras e detalhes dos distritos de 21 capitais e principais cidades (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Fortaleza, Belém, Maceió, Natal, Recife, Vitória, Cuiabá, Campo Grande, Florianópolis, Porto Alegre, Manaus, Goiânia, Campinas, São José dos Campos e São José do Rio Preto). Tais cidades contam com a segmentação por ramo de atividade, incluindo quantidade e tipo de empresas, indústrias, serviços (saúde, agências bancárias, educação, etc.), agronegócios, comércio – varejista e atacadista, por exemplo, além de informações demográficas e o potencial de consumo da população local.

Visite o site: www.ipcbr.com/Imprensa/IPC Maps 2013 – contato: ipc@ipcbr.com (11) 2219-0321.

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“O conceito de monogamia vem mudando com o tempo”



08.abril.2013 | 10:18
Para a psicóloga belga Esther Perel, um bom casamento precisa ter espaço para o indivíduo.
Foto: Luciana Golcman
O conceito de fidelidade e monogamia está mudando. Essa é a teoria sustentada por Esther Perel, psicóloga belga radicada nos EUA. As traições atuais, segundo ela, têm pouca relação com frustrações no casamento – e, sim, com questões individuais. “Parte das motivações que levam uma pessoa a ter um caso fora do casamento não é proveniente de ausências em casa. Às vezes, sim. Mas, na maioria das vezes, um caso tem mais a ver com a descoberta de outras partes de nós mesmos”, afirmou a terapeuta, em conversa com a coluna por telefone, de Nova York.
Autora do livro Sexo no Cativeiro e uma das vozes mais respeitadas na área de terapia conjugal do mundo, Esther teve, recentemente, uma de suas conferências – parte do TEDxTalks – vista por mais de 1 milhão de espectadores. Em sua palestra, explica a contradição entre amor e desejo e os muitos desafios dos casais contemporâneos, entre eles a junção de duas necessidades paradoxais que buscam no outro: a segurança e a aventura. “Atualmente, o casamento, como um empreendimento romântico, tornou-se consagrado. É como pedir a uma pessoa que lhe dê o que toda uma comunidade costumava fornecer. É um nível irreal de expectativa”, explica.
A psicóloga afirma que é, sim, possível manter no casamento tanto o desejo quanto a segurança – desde que seja cultivada uma certa “distância” entre os parceiros.
Abaixo, os principais trechos da entrevista.
Na sua conferência, você faz a diferenciação entre amor e desejo. Como funciona isso nos casais contemporâneos?
Esther Perel: Acho que um dos desafios mais interessantes dos casais é o desejo de reunir duas necessidades fundamentais humanas – que, historicamente, não caminhavam juntas. Pelo menos, não nos relacionamentos conjugais. É como se afirmássemos que um “casamento apaixonado” é uma contradição em si. O casamento, antigamente, era um contrato de companhia para a vida familiar, para a reprodução, apoio financeiro, status social. Entretanto, atualmente, queremos que a pessoa com quem nos casamos seja nosso melhor amigo, confidente e também nosso amante apaixonado.
É muito para um parceiro.
Esther Perel: Não é fácil para o casal. Trouxemos o amor para o casamento, e esse acordo romântico está cada vez mais centrado na confiança, intimidade e afeição. Daí acrescentamos sexualidade a essa porção de amor. Sexualidade não como questão de reprodução, mas como força enraizada na ligação com o prazer. É a sexualidade que vem do desejo, não da obrigação. Temos hoje um casamento que precisa ter amor, sexualidade e o desejo de felicidade.
Mas amor e desejo são realmente contraditórios?
Esther Perel: Convivemos com a ideia de que, se amamos, desejamos. No entanto, as forças que alimentam o amor – que têm a ver com proteção, responsabilidade, mutualidade – não são necessariamente as mesmas que alimentam o desejo. O desejo nunca é alimentado pela responsabilidade ou pela necessidade de proteção. São duas experiências distintas. Relaciono a experiência do amor com a segurança. E o desejo com a aventura. Sempre digo que amar caminha com o verbo “ter”, e desejar, com o verbo “querer”. E assim, a questão sempre se torna: “Você pode querer o que já tem?”
É difícil de responder.
Esther Perel: Na verdade, você nunca possui o seu parceiro. É apenas um “empréstimo”, com a possibilidade de ser sempre renovado. Entretanto, é muito difícil tolerar essa ansiedade. Quando você ama, vive com o medo do amor. É uma forma existencial. A incerteza faz parte do amor, mas o fato é que nós não gostamos da ideia de que é necessário um mínimo de imprevisibilidade. Apenas o bastante para que exista um espaço para a novidade, a surpresa, o mistério.
Por isso a senhora defende uma mudança de percepção do que é considerado casamento?
Esther Perel: Na minha pesquisa, indagando às pessoas sobre quando elas se sentiam mais atraídas pelos parceiros, ninguém respondeu “quando olhamos nos olhos a cinco centímetros um do outro”. As pessoas respondem: “Eu me sinto atraído pelo meu parceiro quando estamos longe”. Isso significa que a imaginação precisa ter espaço para acontecer. Muitas situações descritas como de atração representam momentos em que o parceiro está sozinho, como, por exemplo, tocando algum instrumento, apaixonado por algo, seduzindo outros.
Acha que a atração está relacionada com admirar o outro?
Esther Perel: Acho que o desejo pode nascer dessa observação do outro. A sensação de confiança, suficiência, quando meu parceiro está em seu mundo. Quando ele não precisa de mim. Assim, não sou responsável, não estou protegendo e posso admirar. E posso desejá-lo.
A senhora afirma que, para o casamento sobreviver, é necessário existir uma distância.
Esther Perel: Sim. Precisa de espaço. Mas, para isso, é preciso estar confortável com o fato de ele não estar perto de mim, me protegendo. Preciso ficar tranquila que ele esteja falando com outras pessoas. Preciso ser capaz de permitir que ele cresça. E isso é difícil. Em um casal, sempre tem um que precisa de mais espaço e outro, de mais proteção.
Acredita que os filmes produzidos por Hollywood contribuem para que o amor/casamento seja muito idealizado?
Esther Perel: Hollywood apenas reflete o que as pessoas querem. Atualmente, o casamento, como empreendimento romântico, tornou-se consagrado. É como pedir a uma pessoa que lhe dê o que toda uma comunidade costumava fornecer. É um nível irreal de expectativas.
É daí que nasce o divórcio?
Esther Perel: O divórcio é a expressão do verdadeiro idealismo. As pessoas não pensam que escolheram o modelo errado; acreditam, sim, que erraram na pessoa. E o modelo representa a expectativa de que o parceiro forneça todas as necessidades de segurança e de empolgação.
E como se resolve essa contradição tão complicada?
Esther Perel: Eu sempre digo que não é um problema que você resolve: é um paradoxo que você gerencia.
E quanto à infidelidade? É um grande desafio, certo?
Esther Perel: Ah, sim. Historicamente condenada e universalmente praticada (risos).
Quais são as maiores queixas que a senhora ouve?
Esther Perel: É o que chamo de “infidelidade moderna”. Trata-se de uma visão geral, em um mundo igualitário, de que a infidelidade representa um problema no casamento. Ou seja, um bom casamento não tem infidelidade. Se você tem tudo em casa, não existe necessidade de procurar fora. Mas não acredito nisso.
Então, quais são as verdadeiras razões modernas para a infidelidade?
Esther Perel: Na maioria das vezes, um caso fora do casamento – não estou falando apenas de sexo – tem mais a ver com a descoberta de outras partes de nós mesmos. As pessoas não procuram outros parceiros, procuram um outro “eu”. Buscam a possibilidade de serem diferentes, de se conectarem com outras partes de si mesmas. Em um casamento de 20 anos, existe uma estabilidade que permite pouco uma renovação pessoal.
Quais são os maiores desafios? Esse pensamento pode ser muito narcisista, não?Esther Perel: A fidelidade tem, hoje, um significado bem diferente do que tinha antigamente. Era uma imposição às mulheres. Representava patrimônio, e a infidelidade era um privilégio dos homens. As mulheres infiéis podiam ser apedrejadas. O romantismo mudou isso. A fidelidade, hoje, é um sinal de amor. É parte do culto sagrado do ideal romântico. Nunca precisamos tanto da fidelidade como hoje. Aí existe outro paradoxo: nessa sociedade individualista, dependemos muito de uma única pessoa, mas também estamos tentados a satisfazer nossos desejos pessoais.
Acredita em fidelidade?
Esther Perel: Claro. A monogamia é um exercício, uma escolha. E também está mudando de significado, o conceito vem mudando com o tempo. Era exclusividade sexual. Hoje, as pessoas questionam isso. Você está traindo quando pensa em outros? Começa na mente? A monogamia é um compromisso emocional? Essa é uma boa questão. As pessoas podem ser fiéis sexualmente e trair emocionalmente.
E em relação a casamentos e relacionamentos abertos?
Esther Perel: Através da história, o significado da sexualidade e as fronteiras sexuais mudam. Assim, para entender os relacionamentos abertos, é preciso entender que as pessoas, hoje, estão negociando limites.
Mas a traição não é uma forma de ter tudo?
Esther Perel: A infidelidade é um mecanismo interessante. Porque quem trai não desiste da segurança. Joga dos dois lados. Possui o entusiasmo, o perigo de perder tudo, mas não deixa o casamento realmente.
Falando de gêneros, na sua opinião, todos esses paradoxos são diferentes para homens e para mulheres?
Esther Perel: Em todos os níveis. Sociopolítico, socioeconômico e biológico. Vivemos com hormônios diferentes. Vivemos com órgãos distintos. Através da história, todas as sociedades tentam controlar a sexualidade. E os “regulamentos” para os homens são diferentes dos das mulheres. O que eu observo é que muitas mulheres são igualitárias até o nascimento do primeiro filho. Daí, elas percebem que sua história não é tão diferente da de suas mães e avós. O desafio dos homens – criados para serem autossuficientes – é experimentar a intimidade. E o desafio das mulheres – que são criadas para serem mais relacionadas – é experimentar sua independência.
Em uma conferência recente, a senhora leu uma carta que Obama escreveu para Michelle como exemplo de uma relação que sabe cultivar esse espaço. Acha que o casal Obama representa um modelo?
Esther Perel: Obama falou sobre isso, e o poeta Rilke também. Da necessidade de ver o outro com maturidade, diferença, distância. É um mistério que você pensa conhecer, mas você sabe que nunca vai conhecer.
É muito difícil manter isso em um casamento?
Esther Perel: Para algumas pessoas, sim. Por isso eu digo que não é um problema que você resolve, mas, sim, um paradoxo que você gerencia. E nem todo mundo quer viver com a tensão que é exigida pelo erotismo. Porque vem com o que é mais oculto, misterioso e transgressivo. A paixão anda junto com a quantidade de incerteza que você consegue tolerar./MARILIA NEUSTEIN

Autossuficiência mais distante - EDITORIAL O ESTADÃO



O Estado de S.Paulo - 22/04

Sete anos depois de o ex-presidente Lula ter anunciado com estardalhaço a autossuficiência do Brasil em petróleo, o País precisa importar combustível para suprir a demanda interna. Por causa da gestão que o governo do PT impôs à Petrobrás, a autossuficiência durou pouco e sua reconquista demorará. Como admite a empresa, ela só será novamente alcançada em 2020, em termos plenos (incluindo derivados).

Como outros grandes atos do governo petista, a autossuficiência anunciada por Lula - com as mãos sujas de óleo, imitando o gesto com que, décadas antes, Getúlio Vargas comemorara a descoberta do primeiro poço da Petrobrás - no dia 21 de abril de 2006, na inauguração da Plataforma P-50, a 120 quilômetros do litoral fluminense, foi tema de intensa campanha publicitária. "Quando a Petrobrás foi criada, muitos não acreditavam que fosse viável", disse, em comunicado, o então presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli. "O fato é que, 53 anos depois, ela conquistou a autossuficiência para o Brasil."

Mas a administração que afirmou ter "conquistado" essa condição foi responsável também por "desconquistá-la", pois não conseguiu fazer a produção crescer em ritmo igual ou superior ao do aumento da demanda interna por combustíveis derivados de petróleo. Em 2012, a produção média da Petrobrás foi de 1,98 milhão de barris/dia, mas o consumo total alcançou 2,06 milhões de barris/dia de derivados, conforme dados da Agência Nacional do Petróleo. O consumo continua a subir, mas a Petrobrás continua a produzir menos. Em janeiro, a produção atingiu 1,96 milhão de barris/dia, menos do que a média de 2012, e, em fevereiro, caiu para 1,92 milhão de barris/dia.

A falta de manutenção adequada dos poços fez a produção cair mais depressa. A necessidade de reparos de maior porte, porque a manutenção não foi feita adequadamente, tem implicado a paralisação das operações por períodos mais longos, o que também contribui para fazer cair a produção global da empresa.

Do lado do refino, o que se constata é que, por terem sido definidos de acordo com critérios políticos e não técnicos, alguns projetos não saíram do papel e outros andam muito devagar, e a um custo muito maior do que o orçado inicialmente.

A construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, é uma espécie de síntese da política da Petrobrás na área de refino durante a gestão Lula. Para agradar ao então presidente bolivariano da Venezuela, Hugo Chávez, seu aliado político, o ex-presidente brasileiro colocou a estatal venezuelana PDVSA como sócia (com 40% de participação) da Refinaria Abreu e Lima. A sócia não investiu nenhum tostão na obra, que está muito atrasada e cujo custo, inicialmente orçado em US$ 2,3 bilhões, não ficará em menos de US$ 18 bilhões.

A estagnação da capacidade de refino, por causa do atraso na construção de refinarias, força a Petrobrás a importar derivados em quantidades crescentes, para atender à demanda interna. Com a produção do petróleo em queda e sem aumentar a capacidade de refino, a empresa quadruplicou seu déficit comercial no primeiro trimestre do ano, em relação aos três primeiros meses de 2012. De janeiro a março, a Petrobrás aumentou suas importações em 40,2%, mas suas exportações diminuíram 50,3%. O resultado foi um déficit comercial acumulado de US$ 7,4 bilhões.

A produção, reconhece a presidente da empresa, Graça Foster, só voltará a aumentar a partir de 2014. É possível que, no próximo ano, a produção de petróleo seja igual ou ligeiramente superior, em volume, ao consumo interno de derivados. No entanto, como a capacidade de refino não será aumentada, o País continuará importando derivados.

A autossuficiência de fato, incluindo petróleo bruto e derivados, só será alcançada em 2020, quando, de acordo com seu planejamento estratégico, a Petrobrás estará produzindo 4,2 milhões de barris de petróleo por dia, terá capacidade de refino de 3,6 milhões de barris/dia e o consumo interno será de 3,4 milhões de barris/dia.