Coluna Econômica - 29/03/2012
O grande desafio brasileiro, nos anos 90, era a ausência de redes sociais, estruturas nacionais que pudessem ser articuladas para a implantação de grandes políticas públicas. Alguns anos antes o poder havia sido devolvido à sociedade civil, só que não havia sociedade civil de âmbito nacional, com exceção de alguns clubes de serviços e de algumas organizações empresariais e religiosas.Foi uma década fervilhante em ideias, mas que sempre esbarravam nessa ausência de redes. Os institutos de pesquisa poderiam pensar em inovações tecnológicas incrementais para pequenas empresas. Mas quem se incumbiria da sua disseminação?***Aos poucos várias redes foram se formando. O Sebrae logrou montar uma rede nacional, com variações em cada estado da União. As próprias confederações empresariais e sindicais lograram alguma abrangência. Empresas pública, como o Banco do Brasil, foram incumbidos dessa ação de disseminação de conceitos. Principalmente o SUS (Sistema Único de Saúde) tornou-se referência nacional em modelo de ação federativa.***O salto final, no entanto, está se dando no âmbito da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP). Acompanhei seu início, em fins dos anos 80, sob a liderança da então prefeita paulistana Luiza Erundina.De lá para cá o movimento ganhou musculatura. Com a Lei Geral da Pequena e Microempresa, está se formando uma rede nacional de agentes de desenvolvimento, lotados em cada prefeitura.***Durante décadas, no Brasil, academias desenhavam modelos de desenvolvimento tendo como ponto central a grande empresa. Julgava-se que fortalecendo os setores mais modernos, eles, por si, arrastariam a economia atrás, em um esforço modernizante.Foi fundamentalmente esse o modelo empreendido por Fernando Henrique Cardoso e que, de certo modo, copiava as ações de Albert Hirschmann na Colômbia, no início dos anos 50. País pobre, sem estrutura industrial, sem mercado de capitais, a única maneira de promover o desenvolvimento, segundo Hirschman, seria eleger alguns setores para serem campeões e disseminarem os novos conceitos para o restante da economia.Era essa a posição de um dos grandes economistas brasileiros, Ignácio Rangel, quando, nos anos 60, defendia o fortalecimento do setor financeiro para que se transformasse na ponta de lança da economia.***Hoje em dia, pode-se abrir mão dessas gambiarras. O país tem uma estrutura industrial e de serviços, tem organizações de cunho nacional e, agora, tem a estrutura das prefeituras podendo atuar de forma coordenada.Essa é a face sustentada do desenvolvimento, a formação de redes econômicas, de pequenos, micro empresários organizando-se em cooperativas, em arranjos produtivos, ou em torno de estruturas mais fortes.E aí o papel do prefeito é fundamental. Caberá e ele a coordenação das forças locais, a identificação das carências, a prospecção das fontes de financiamento.É um duro trabalho de construção social, até porque a maioria das prefeituras carece de quadros técnicos mínimos. Mas não existe outra maneira de construir uma nação. É através dessas redes, e não de planos econômicos mirabolantes, que o país se tornará primeiro mundo
quinta-feira, 29 de março de 2012
O papel das prefeituras na disseminação de ideias
terça-feira, 27 de março de 2012
De onde vêm as boas ideias? Do site Opinião e Notícia
De onde vêm as boas ideias? Por séculos, todo o crédito desses misteriosos presentes foi para a fé, sorte e algumas musas mitológicas. Mas presumir que a criatividade é um aspecto elevado, concedido apenas a alguns é tanto contraproducente como tolo, argumenta Jonah Lehrer em Imagine, um inteligente novo livro sobre “como a criatividade funciona”. Utilizando-se de um grande conjunto de pesquisas científicas e sociológicas– incluindo a poesia de W.H. Auden e os filmes da Pixar – Lehrer argumenta de modo convincente que a inovação não só pode ser estudado e medida, como também nutrida e encorajada.
Nos arredores de St. Paul, Minnesota, localiza-se o extenso quartel general corporativo da 3M. A empresa vende mais de 55 mil produtos,dentre os quais lâmpadas de postes e telas sensíveis ao toque, e é ranqueada como a terceira empresa mais criativa do mundo, mas quando Lehrer fez uma visita, ele encontrou funcionários fazendo toda sorte de frivolidades, como jogar pinball e passear a esmo pelo terreno. Na verdade, esses funcionários são impelidos a incluir em seus expedientes pequenos intervalos, porque o distanciamento pode contribuir para surgir um insight. Isto se dá porque interromper o trabalho com uma atividade relaxante permite à mente se voltar para dentro, onde é possível resolver um problema e criar conexões sutis em um nível subconsciente (o cérebro encontra-se incrivelmente ocupado em momentos de devaneio). “Isso explica porque tantos insights acontecem durante banhos quentes”, diz Joydeep Bhattacharaya, um psicólogo da Universidade de Londres, em Goldsmith.
Entretanto, essa é apenas uma das razões que explica a produção criativa da 3M (e a 3M é apenas um exemplo dentre muitos deste livro). A empresa também encoraja seus funcionários a se arriscar, não só investindo em pesquisa (8% de seu faturamento bruto), mas também por esperar que seus empregados dediquem cerca de 15% de seu tempo a ideias especulativas. A razão do sucesso dessa abordagem – e o porquê desta ter sido imitada por outras companhias astutas como a Google – deve-se ao fato de que muitos avanços se dão quando pessoas vão além de suas áreas de especialização. Geralmente é preciso que alguém de fora faça perguntas bobas para que uma solução pouco convencional seja gerada. É por isso que os jovens tendem a ser os mais inovadores em todos os campos, como na física e na música.
Trata-se de um livro cativante e inspirador que revela a criatividade mais como um potencial do que como um sinal de rara inteligência. Lehrer conclui com um apelo por métodos que “aumentam a criatividade coletiva”. Ele sugere uma maior permissão à imigração, maior abertura a riscos e mais possibilidades de apropriações e adaptações culturais (ao cortar pela raiz a enxurrada de patentes e pedidos de copyrights vagos). Ele também adverte que o trabalho toma muito tempo, suor e persistência. Ou, como disse Albert Einstein: “a criatividade é o resíduo do tempo desperdiçado”.
Deus está nos detalhes
Na Amazônia, o grande desafio é valer-se de imensos territórios cobertos de floresta que abrigam uma abundante biodiversidade, riquezas, em sua maioria, ainda desconhecidas na sua utilidade e no seu valor, para promover o desenvolvimento. Um desenvolvimento que produza e reproduza, em fluxo permanente, riqueza, renda, bem-estar, qualidade de vida e preserve as raízes culturais e a identidade dos povos que construíram a história de cada lugar. Em resumo, é preciso integrar desenvolvimento e sustentabilidade num processo único.
A solução põe-se como o enigma da esfinge de Tebas: “decifra-me ou te devoro”. Ela é sempre especifica, própria a cada território. Aos que não acharem o caminho justo restará o ônus do conflito entre a ambiciosa empresa humana e os limites da natureza. Está claro que os caminhos, as opções de resolução, dependem das relações sociais específicas de cada lugar, mas sempre no contexto mais amplo das assimetrias da realidade brasileira.
A essa discussão subjaz a questão prática: qual a estratégia para fazer o desenvolvimento econômico, sem predação dos recursos ambientais e, especialmente, sem avançar na fronteira de desflorestamento para que se reduza, sistematicamente, a taxa de desmatamento?
Na Amazônia Ocidental, estão em curso três experiências diferenciadas. O estado do Amazonas aposta no desenvolvimento de uma economia urbana-industrial, por meio da zona Franca de Manaus, com efeito multiplicador em toda a economia estadual. Garante a preservação dos ecossistemas, mas produz um enorme desequilíbrio espacial.
Rondônia alicerça seu desenvolvimento no agronegócio e na agroindústria que resultaram em efeitos destrutivos nos recursos naturais. Certamente, esbarrará em limites ambientais intransponíveis. O Acre optou por uma saída equilibrada que harmoniza desenvolvimento econômico, conservação dos recursos florestais, inclusão social, equilíbrio territorial, valorização da cultura e identidade locais, que tem raízes na sua história e em suas populações tradicionais.
Todas as dimensões da estratégia são importantes, porém duas são determinantes: a economia e a cultura. O desafio é fazer crescer o produto econômico com o incremento da produtividade no conjunto da economia. Expansão econômica e produtividade são as variáveis essenciais da equação do desenvolvimento. Aliás, desenvolvimento econômico, conceitualmente, manifesta-se fundamentalmente como aumento da produtividade da economia.
A industrialização, que cria oportunidades para elevação do padrão tecnológico, é a opção mais eficaz para aumentar a produtividade que permite o aumento do produto interno, com redução ampla e significativa do crescimento da produção extensiva. O crescimento da produção industrial será acompanhada pela agregação de valor à pequena indústria, ao extrativismo, à produção agrícola familiar, à pecuária e, de modo geral, aos pequenos negócios.
A elevação da produtividade da agropecuária nas áreas abertas resultará na substituição da produção extensiva pela intensiva. O que significa maior produção na mesma área de terra. Com a mudança, será possível evitar desmatamento e aumentar a produção, ao mesmo tempo. A intensificação da produção nas áreas já desmatadas é a saída tecnológica para garantir aos agricultores familiares espaço para produção e tornar residual o desflorestamento.
Desenvolver a produção florestal, pelo manejo sustentável dos recursos, valorizando os ativos florestais, é também uma forma de evitar desmatamento. De fato, aumentar a produtividade supõe o emprego de novas tecnologias: a mecanização do preparo do solo, a calagem, a mecanização da colheita, o uso de fertilizantes, a rotação de culturas com leguminosa, enfim um manejo racional dos cultivos e criatórios.
Ocorre que uma apreciável fração desses solos experimenta processo de degradação. Não haverá desenvolvimento agrícola no Acre sem recuperação das áreas em processo de degradação. Para isto, além da aração, gradagem e rotação de culturas com leguminosas, uma prática é imprescindível: a calagem. A correção da acidez pela aplicação de calcário à terra.
É um detalhe, aparentemente trivial, no conjunto das operações de cultivo. Os ingleses sugeriram que “o diabo mora no detalhe”. É um jeito negativo de perceber o mundo.
Conta-se que Ricardo III, na guerra contra Henrique - Conde de Richmond, em batalha que decidia o trono da Inglaterra, ordenou ao cavalariço que buscasse o seu cavalo. A batalha ia começar, o inimigo avançava. Mas faltaram pregos ao ferreiro para pregar a última ferradura do cavalo. O cavalariço insistiu que tinha pressa, não podia esperar, que fizesse com o material disponível. O ferreiro o fez, ressalvando que a ferradura cairia. Foi o que aconteceu. O cavalo e o rei caíram no momento decisivo da batalha. O rei, desesperado, gritava: um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo! Ricardo III perdeu a batalha e o trono. À falta de um prego, perdeu-se a ferradura. À falta de uma ferradura perdeu-se um cavalo! À falta de um cavalo perdeu-se uma batalha. Perdida a batalha, perdido o reino. O despretensioso prego fez ruir um reino.
O significado essencial da história, não o relato descritivo, faz-nos lembrar a viagem recente do governador Tião Viana ao Juruá. Na oportunidade entregou às lideranças das comunidades de agricultores familiares 4.000 toneladas de calcário. Não fosse pela montanha mostrada na mídia, o fato passaria certamente despercebido. “Deus está no detalhe”. Na aparência, detalhe de escassa relevância.
O governo vai entregar, e incorporar ao solo 2t de calcário por família de agricultores, para plantios de 1,0 ha, nos municípios de Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves e Mâncio Lima. Com este procedimento, estima-se um aumento de produtividade de 50 por cento e um ciclo de reposição do calcário de 6,0 anos. Era uma reivindicação reiterada dos trabalhadores rurais do Juruá, que lavram terras de fraca produtividade, em estágio avançado de degradação.
O aporte deste corretivo ao solo tem efeitos profundos e abrangentes. Tem impacto no paradigma de desenvolvimento do Estado.
Aplicação de calcário e leguminosa gera redução de acidez do solo e disponibilidade de nutrientes. Calcário e leguminosa geram maior fertilidade do solo. A fertilidade aumenta a produtividade. O aumento da produtividade propicia o crescimento vertical da produção.
Produção vertical significa maior produção na mesma área. Maior produção na mesma área evita desmatamento. Isto leva à redução drástica da taxa de desflorestamento. A consequência é a conservação da floresta. E esta é determinante para o desenvolvimento sustentável.
O uso do calcário, que parece um detalhe do gerenciamento da produção, constitui-se em fator determinante da mudança do paradigma de desenvolvimento. É o detalhe que suscita, por trás da irrelevância aparente do fato, a descoberta, a criação, para a solução como resultado de uma inspiração divina. Como afirmava Ludwing Mies Van Der Rohe, um dos grandes mestres da arquitetura moderna, “Deus está nos detalhes”.
José Fernandes do Rêgo, secretário de Estado de Articulação Institucional
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