quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Tecnologia ‘rouba’ cada vez mais empregos

Estudo de professores do MIT mostra que muitos trabalhadores estão perdendo a corrida contra as máquinas

27 de outubro de 2011 | 0h 03
The New York Times
A crise econômica explica em grande parte a escassez de empregos nos EUA, mas a tecnologia cada vez mais avançada amplificou dramaticamente o impacto, mais do que é possível perceber, segundo dois pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
A crescente automação do trabalho outrora realizado por seres humanos é o tema central do livro eletrônico Race Against the Machine. "Em poucas palavras, muitos trabalhadores estão perdendo a corrida contra a máquina", afirmam os autores.
Os autores, Erik Brynjolfsson, economista e diretor do Centro de Negócios Digitais do MIT, e Andrew P. McAfee, diretor associado e chefe da equipe de cientistas do centro dedicados à pesquisa, são dois dos principais especialistas da nação em tecnologia e produtividade. O tom de alarme é o ponto de partida para os dois cientistas, cuja pesquisa anterior se concentrava principalmente nos benefícios da tecnologia avançada.
Na realidade, originalmente eles pretendiam escrever um livro intitulado The Digital Frontier, sobre a "cornucópia de inovações que estão ocorrendo", disse McAfee. Mas, como a situação do desemprego não melhorou nos dois últimos anos, os autores mudaram seu objetivo e resolveram examinar o papel da tecnologia na melhoria da situação dos desempregados.
Novas funções
Eles não são os únicos a destacar, nos últimos tempos, o desaparecimento do emprego por causa da tecnologia. Na edição atual do McKinsey Quarterly, W. Brian Arthur, professor convidado no Santa Fé Institute no Novo México, adverte que a tecnologia está rapidamente assumindo funções no setor de serviços, depois da onda de automação no trabalho agrícola e industrial. "Esse último repositório de empregos está encolhendo - no futuro, será muito menor o número de funcionários de nível executivo que desempenharão funções nas empresas - e aí está o problema", escreve Arthur.
A tecnologia sempre roubou trabalho e empregos. Ao longo dos anos, muitos especialistas advertiram - equivocadamente - que as máquinas estavam deixando os seres humanos para trás. Em 1930, o economista John Maynard Keynes alertou a respeito de uma "nova doença", que ele chamou de "desemprego tecnológico".
Mas Brynjolfsson e McAfee argumentam que o ritmo da automação acelerou nos últimos anos por uma combinação de várias tecnologias, como a robótica, máquinas controladas numericamente, reconhecimento de voz e comércio online. (Steve Lohr)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011



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Promotor quer parar Linha 5 do Metrô



Para Ministério Público, modelo de edital causou prejuízo de R$ 327 milhões; responsáveis devem ser processados por improbidade

26 de outubro de 2011 | 3h 04
Marcelo Godoy e Nataly Costa - O Estado de S.Paulo
O Ministério Público Estadual (MPE) vai pedir a suspensão dos contratos do Estado com os consórcios da Linha 5-Lilás do Metrô e a consequente paralisação das obras. O motivo é o suposto prejuízo de R$ 327 milhões aos cofres públicos causado pelo modelo de licitação que, mesmo sob suspeita de irregularidades, foi validado pelo Metrô.
Os responsáveis pela assinatura do contrato devem ser processados por improbidade pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social. O modelo de edital de licitação, segundo o MPE, fez com que as propostas ganhadoras dos sete últimos lotes fossem mais caras do que as de concorrentes que ofereceram valores menores. Isso só foi revelado depois da abertura dos envelopes com as propostas perdedoras para cada lote, determinada pela Justiça.
A suposta distorção ocorreu porque o edital previa que as empresas só podiam vencer um dos oito lotes em disputa. Isso significa que o ganhador do lote 1, por exemplo, não teria as propostas para os demais trechos abertas. Assim, mesmo que ele oferecesse uma proposta mais barata, ela estaria desclassificada porque a autora havia ganho o trecho anterior. O suposto prejuízo foi revelado pelo Estado em março.
Um exemplo dessa suposta distorção foi constatado no lote 2. A menor proposta foi a do Consórcio Constran/Construcap, de R$ 315 milhões. Mas o envelope com ela não chegou a ser aberto, pois as construtoras já haviam ganho o primeiro lote. O vencedor foi o consórcio Galvão/Serveng, com uma proposta 18% maior (R$ 386 milhões).
Uma investigação sobre a legalidade dos contratos foi aberta pelo MPE a pedido da Corregedoria-Geral da Administração do Estado. Esta enviou ao Ministério Público um relatório apontando possíveis irregularidades. Em agosto, a Promotoria fez uma recomendação ao Metrô para que cancelasse os contratos, mas não foi atendida.
Válido. O Metrô afirma que "a recomendação do Ministério Público Estadual foi analisada, mas a companhia tem plena convicção da decisão de continuar as obras". Quanto ao edital, o Metrô diz que o documento foi considerado válido e legal pelo "Conselho Superior do MPE, pelo Tribunal de Contas do Estado e por juízes e desembargadores. Em todas as análises, o edital foi considerado legal e válido".
O inquérito conduzido pelo promotor Marcelo Milani, no entanto, teria constatado outras irregularidades. O suposto prejuízo causado pelo modelo do edital seria suficiente para construir cerca de 3,5 km de metrô.
As obras da Linha 5-Lilás já foram paradas uma vez, em outubro de 2010, também por suspeita de ilegalidades na licitação. Foram retomadas em junho deste ano, mas só o primeiro lote está sendo executado: o trecho Largo Treze-Adolfo Pinheiro.
O MPE deve ingressar com ação na 9.ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, que já analisa outras supostas ilegalidades no caso. Além desses contratos, o Ministério Público Estadual abriu outro inquérito para analisar a contratação do projeto executivo da obra. Orçado em R$ 100 milhões, está a cargo da empresa italiana Geodata.    
CRONOLOGIA
Junho de 2009
Licitação
Sai o vencedor do 1.º lote e obras começam na zona sul
Outubro de 2010
Paralisação
Jornal Folha de S.Paulo divulga documento mostrando conhecimento antecipado do resultado da licitação
Junho de 2011
Retomada
Governo mantém o contrato e obras são reiniciadas

No SUS, máquina destrói câncer de pulmão sem cortes

Inédita na rede pública, técnica indolor chega ao Icesp para tratar pacientes que não podem passar pela cirurgia tradicional, oferecendo uma arma a mais contra o tipo de tumor que mais mata no País e no mundo

26 de outubro de 2011 | 7h 40
Mariana Lenharo - Jornal da Tarde
SÃO PAULO - Eliminar tumores de pulmão sem nenhum corte ou dor para o paciente já virou realidade no Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). A tecnologia, inédita no Sistema Único de Saúde (SUS), foi testada com sucesso ao longo deste ano em sete pessoas e, agora, é aplicada em indivíduos com contraindicação para a cirurgia tradicional, considerada um procedimento delicado, de recuperação dolorosa.
No procedimento novo, cuja denominação técnica é radioterapia estereotáxica extra-crânio (SDRT, na sigla em inglês), feixes finos e precisos de radiação elevada provocam a necrose das células tumorais. Três sessões de pouco mais de uma hora, aplicadas com intervalo de dois dias, são suficientes para destruir o câncer de pulmão, o tipo de neoplasia que mais mata no Brasil e no mundo, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
As sessões de radiocirurgia não provocam dor e o paciente pode sair direto para suas atividades cotidianas. Por enquanto, a técnica só é indicada para pacientes que não têm condições de passar por uma cirurgia tradicional, de acordo com o protocolo adotado internacionalmente para esse tipo de tratamento. Além disso, o tumor deve ter até 5 centímetros de diâmetro e estar afastado de regiões vitais, como o coração.
Enquanto a radioterapia convencional fraciona a radiação e oferece um tempo para o tecido saudável se recuperar, a nova técnica extermina o tecido atingido. “É como se fosse um tiro de bazuca no tumor”, diz o médico Rafael Gadia, radioterapeuta do Icesp. Daí a importância de que o tiro seja certeiro, o que só é possível graças às novas tecnologias. Uma desvantagem apontada pelo profissional é a impossibilidade de fazer uma análise detalhada sobre o tumor, já que suas células são completamente destruídas.
Nova aplicação. O princípio da radiocirurgia já era usado há mais tempo para tumores no crânio. O problema é que, em outras partes do organismo, ao contrário do que ocorre no crânio, eles tendem a se deslocar com o movimento natural do corpo, como o da respiração. E qualquer imprecisão na técnica pode destruir tecidos saudáveis e órgãos importantes próximos ao tumor.
Os médicos conseguiram aplicar a técnica no pulmão, mesmo com o movimento constante do ar entrando e saindo, graças ao recurso de radioterapia guiada por imagem (IGRT, na sigla em inglês). A física chefe do Icesp, Gisela Menegussi, explica que o primeiro passo do procedimento é a criação de um “paciente virtual” no computador, por meio de um software especializado.
A imagem desenvolvida é baseada em exames de imagem precisos: tomografia e PET-CT. A partir daí, a equipe multidisciplinar faz um estudo para cada paciente com o objetivo de encontrar as melhores rotas para a entrada dos feixes de radiação, que não devem passar por órgãos importantes. O software calcula, para cada rota simulada, o quanto de radiação que cada órgão envolvido receberá. “A gente sabe que cada órgão pode receber uma quantidade máxima de radiação. Trabalhamos dentro desses limites.”
A técnica também pode ser aplicada em casos de oligometástase no pulmão – quando o paciente apresenta um número limitado de recorrências isoladas do tumor. Atualmente, estuda-se a aplicação, com finalidade curativa, da técnica contra o câncer de próstata e, com fim paliativo, para outros tipos de metástase.
O risco a ser considerado é a proximidade do tumor com outros órgãos vitais, que podem receber radiação. Por causa da pouca experiência com a técnica, ainda não se sabe como esses órgãos evoluirão em longo prazo.
Método é restrito na rede particular. Na rede particular de saúde de São Paulo a aplicação da radiocirurgia para câncer de pulmão é restrita. O procedimento é oferecido pelo Hospital Sírio-Libanês, mas segundo a instituição, por se tratar de um procedimento novo, não conta com a cobertura de seguradoras de saúde. É realizado, portanto, apenas na modalidade particular. O hospital não informou o valor cobrado pelo tratamento.
O Hospital Israelita Albert Einstein também aplica a radiocirurgia contra tumores de pulmão. Mas o “procedimento ainda não é difundido e não existe uma tabela de valores”, segundo o médico Eduardo Weltman, radio-oncologista da instituição e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia.
Também no Einstein, por enquanto, esse tipo de procedimento é indicado apenas quando o paciente não pode passar pela cirurgia convencional, já que ainda não foram concluídos estudos científicos comparando a eficácia de uma técnica em relação à outra.
Weltman diz que, na prática, tem observado um controle da doença semelhante ao obtido com a cirurgia convencional, com a vantagem de se tratar de uma técnica não invasiva. Após a aplicação, o paciente deve ser submetido a tomografias de controle a cada três meses no primeiro ano. “Temos visto resultados muito bons.”
CIRURGIA ANTIGA
link Alguns fatores interferem na contraindicação para a cirurgia tradicional usada contra o câncer de pulmão, com abertura torácica, que é de grande porte e com dolorosa recuperação. Alguns deles são:
link Função cardiopulmonar muito comprometida, quadro frequente em tabagistas (o público mais propenso a esse tipo de tumor)
link Enfarte recente, histórico de angina, isquemia, alguns tipos de arritmia, entre outras doenças
link Idade e condições clínicas gerais podem ser outros impeditivos
‘Saí da cirurgia e fui direto para uma festa’
A aposentada Sônia Sanches Ramos, de 72 anos, passou pela radiocirurgia para eliminar um câncer de pulmão há pouco mais de um mês. Segundo conta, ela saiu da maca robotizada do Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) direto para uma festa.
O método, garante Sônia, é completamente indolor. “Não senti nada, nenhuma dor. Nem aflição”, diz. Foram três sessões que, contando com o tempo de preparação, duraram cerca de três horas cada. “Tem de ter paciência, demora um pouco e tem de ficar quietinha, sem se mexer.”
Desde a radiocirurgia, Sônia tem sido monitorada pelo Icesp e a avaliação preliminar, feita na última sexta-feira, demonstrou que a radiação não afetou nenhum órgão adjacente ao tumor.
O câncer que estava no pulmão de Sônia foi detectado precocemente quando ela fazia um exame de imagem para avaliar outro tumor, que estava em estágio mais avançado, localizado no reto. O diagnóstico da doença foi dado no fim do ano passado e, em março deste ano, após algumas sessões de rádio e quimioterapia, ela passou por uma cirurgia para retirar o tumor no reto.
Avaliada pelos médicos do Icesp, a aposentada foi identificada como uma potencial candidata à radiocirurgia para a retirada do tumor no pulmão. Fez uma série de exames e o procedimento foi marcado. Hoje, totalmente recuperada, ela garante já ter retomado todas as suas atividades, inclusive um trabalho voluntário. “Estou a mil por hora”, conta.