terça-feira, 25 de outubro de 2011


O Copom ganhou a aposta
Coluna Econômica - 25/10/2011
No dia em que o Banco Central decidiu derrubar a taxa Selic em mero 0,5 ponto percentual, o mundo caiu.
Entre no Google e coloque as palavras “Copom 0,5 ponto analistas econômicos” e se verá a enormidade de previsões de que o BC teria cedido a pressões políticas, de que teria se desmoralizado definitivamente.
Não é necessário arte nem ciência para avaliar se neste instante está chovendo ou fazendo sol. O desafio do cenarista é tentar prever como estará o tempo da economia daqui a um, dois, seis meses. Senão, para quê cenários.
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Em geral, as estatísticas levam de 3 a 6 meses para refletirem a situação corrente. Foi assim em maio de 1995. Em março, o BC elevou as taxas para pornográficos 45% ao ano. Estancou o mercado de crédito.
Em maio havia sinais nítidos de quebradeira por todo o país. Mas os indicadores de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) mostravam a economia robusta – porque refletiam vendas efetuadas meses antes do tranco monetário.
Só em fins de junho, com os indicadores refletindo a crise, o então presidente Fernando Henrique Cardoso deu uma entrevista admitindo a gravidade da situação.
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A maneira como a Selic influi sobre a inflação é através da diminuição da chamada demanda agregada. A maneira de medir o impacto é através da previsão de desempenho do PIB (Produto Interno Bruto). Se o PIB está desacelerando, significa que está havendo menos pressão sobre preços.
Estudos macroeconômicos sérios relacionariam PIB e nível de inflação – especialmente quando ocorrem choques de oferta ou choques externos. Por aqui, o máximo que se faz é relacionar juros e inflação.
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Em geral, nos processos de inflexão da atividade econômica – quando começa a crescer, após uma fase de estagnação, ou quando começa a ceder, após uma fase de crescimento – os sinais aparecem, primeiro, lentamente. É um indicador aqui, outro ali. Com o tempo os sinais tornam-se mais nítidos. O grande analista é o que percebe os primeiros sinais e tem conhecimento suficiente do mundo real para fazer valer sua intuição, auxiliado por técnicas conhecidas como “indicadores de antecedentes” – que mostram quais indicadores se antecipam aos demais.
Quando o BC decidiu reduzir em meio ponto a Selic, havia os primeiros sinais de desaquecimento no ar, estoques maiores das montadoras, redução no crédito. Mas os analistas insistiam que o emprego continuava forte – como se fosse possível reduzi-lo simultaneamente à redução das vendas.
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Agora, todos os indicadores apontam para uma desaceleração da economia – comprovando o acerto da aposta do BC. Setembro registrou o pior desempenho do emprego formal desde 2006.
Ontem a pesquisa Focus mostrou que o mercado aposta na desaceleração da economia e da inflação.
Em 2008 o BC cometeu um erro fundamental, aumentando os juros em plena crise. Não mereceu uma crítica sequer desses terroristas que apontaram a redução de meio ponto como fim do combate à inflação.
O que acontecerá com quem errou nas previsões? Nada. Serão poupados para novos erros, desde que continuem defendendo juros altos.
IPC-S termina semana em alta de 0,31%
O IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor Semanal) apresentou variação de 0,31% na terceira semana de outubro, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). A taxa ficou 0,08 ponto percentual abaixo da registrada na última apuração (0,39%), e foi o menor resultado desde a segunda semana de agosto de 2011, quando ficou em 0,17%. Seis das sete classes de despesa reduziram seus resultados, com destaque para Alimentação, que passou de 0,17% para 0,03%.
IPCA tem leve redução, segundo Focus
Os indicativos para a taxa oficial de inflação em 2011 atingiram o teto da meta estimada pelas autoridades, segundo o relatório Focus, elaborado pelo Banco Central. Ao longo do período, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para o fim deste ano foi reduzido de 6,52% para 6,50%, enquanto os dados para outubro seguiram em 0,45%, e a variação de novembro ficou em 0,50% pela segunda semana. Os dados para 2012 passaram de 5,61% para 5,60%.
Governo do Japão sinaliza intervenção cambial
O governo japonês se prepara para intervir de novo no mercado cambial para desvalorizar o iene, segundo o ministro das Finanças, Azumi Isso, ressaltando a necessidade de se reagir à especulação. Contudo, a iniciativa tem feito o valor da moeda atingir recordes de alta, o que preocupa as autoridades japonesas, que temem que as exportações do país fiquem menos competitivas. No ano passado, as autoridades intervieram duas vezes no mercado cambial, mas isso não impediu a valorização do iene.
Saldo comercial tem déficit de US$ 304 milhões
A balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 304 milhões durante a terceira semana de outubro, com média diária negativa de US$ 60,8 milhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento (MDIC). Ao longo de cinco dias úteis, as exportações foram de US$ 5,277 bilhões, e as importações chegaram a US$ 5,581 bilhões. Com o resultado, o saldo comercial de outubro está superavitário em US$ 572 milhões, e o total no ano chega a US$ 23,607 bilhões.
Brasil quer retomar debate sobre câmbio
O representante do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), embaixador Roberto Carvalho de Azevêdo, defendeu a retomada da discussão sobre a taxa de câmbio nas reuniões do primeiro trimestre de 2012 da entidade, afirmando que "não existem dúvidas" de que alterações nas taxas cambiais geram impactos no comércio global, uma vez que o câmbio real tem um efeito forte no incentivo para alocação de recursos, e que a desvalorização pode ser importante para os países em desenvolvimento.
Dívida pública supera R$ 1,8 trilhão em setembro
A emissão de títulos e a alta do dólar fizeram a Dívida Pública Federal (DPF) subir 2,28% em setembro e chegar a R$ 1,808 trilhão, ante R$ 1,768 trilhão em agosto, segundo o Tesouro Nacional. Ao longo do período, a dívida pública mobiliária interna (DPMi) subiu 1,83%, passando de R$ 1,692 trilhão para R$ 1,723 trilhão, e a dívida pública externa subiu 12,44%, encerrando setembro em R$ 84,82 bilhões, contra R$ 75,43 bilhões registrados no mês anterior.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


O silêncio do cardeal

Recolhido em SP, dom Paulo Evaristo Arns,
que enfrentou a ditadura
para defender direitos humanos,
faz 90 anos

Luciney Martins - 14.set.11/Divulgação

D. Paulo, durante missa por seus 90 anos celebrada na chácara onde mora

Um dos brasileiros mais homenageados em 2011 abandonou a vida pública por opção, vive recolhido numa chácara em Taboão da Serra, nos arredores da capital paulista, e se negou a romper o isolamento para comemorar seus 90 anos de idade.
Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo e maior ícone vivo da Igreja Católica no país, fez aniversário em 14 de setembro.
Apesar da insistência de amigos e religiosos, o cardeal que enfrentou a ditadura militar (1964-1985) em defesa dos direitos humanos recusou todos os convites para celebrar a data fora do retiro.
A atitude alimentou a volta de rumores sobre sua saúde, mas os poucos que convivem com ele asseguram que sua forma física e mental é invejável para a idade.
"Ninguém entende esta opção de se recolher, mas dom Paulo está muito bem. Suas graves doenças não estão nele, estão na cabeça das pessoas", brinca a franciscana Devani de Jesus, espécie de anjo da guarda do religioso.
Na lista de comemorações frustradas, estavam uma missa solene na catedral da Sé, um ato com discurso e plantio de árvore no largo de São Francisco e a entrega de uma placa comemorativa na Câmara Municipal. As duas últimas chegaram a acontecer, mesmo sem a presença dele.
"O pessoal fica meio decepcionado, mas compreende", conforma-se o coordenador da Pastoral Operária Metropolitana, Paulo Pedrini. Ao justificar a opção pelo silêncio, há quatro anos, ele disse a amigos que sairia de cena para não fazer sombra aos sucessores na igreja.
"Se eu continuar dando entrevistas, vou tirar o espaço de quem está em meu lugar", afirmou à jornalista Angélica Rittes, que passou 34 anos a seu lado na Arquidiocese.
O cardeal foi substituído pelo amigo dom Cláudio Hummes em 1998, mas continuava a aparecer em público, no rádio e nos jornais. Escreveu uma autobiografia e manteve a exposição dos tempos de arcebispo, quando desafiou generais em nome de bandeiras como o voto direto e a reforma agrária.
Na crise do mensalão, em 2005, declarou sua decepção com o ex-metalúrgico Lula, a quem visitou na cadeia e apoiou nas greves do ABC. A decisão de se retirar coincidiu com a ascensão de dom Odilo Pedro Scherer, da ala mais conservadora do catolicismo. O novo arcebispo assumiu em abril de 2007. Em dezembro, dom Paulo deixou a casa na zona norte de SP e foi para o "exílio" em Taboão.
Por escrito, dom Odilo afirmou não ver relação entre o afastamento e as mudanças na igreja. "Tenho grande apreço e relacionamento fraterno com dom Paulo", disse.
Ele sustentou que o recolhimento "é uma decisão de dom Paulo, que é arcebispo emérito e, portanto, não está mais diante de responsabilidades diretas na igreja". "Mesmo assim, ele tem toda a liberdade de se expressar, se achar que deve fazer isso." O teólogo Leonardo Boff, amigo desde os anos 50, vê outra razão. "Se ele se manifestasse, criaria conflitos. Acredito que ele decidiu se calar por isso", afirma.

OS EMBATES

As discordâncias com colegas de batina não são novidade na trajetória do cardeal, que fez críticas públicas a João Paulo 2º e travou embates com o colega Joseph Ratzinger, hoje papa Bento 16.
Em 1973, ele surpreendeu a igreja ao vender o Palácio Episcopal por US$ 5 milhões para financiar núcleos comunitários na periferia. Na cruzada contra a repressão, denunciou a tortura, visitou presos políticos e foi a Brasília protestar com o presidente Emilio Garrastazu Medici. Segundo o relato do cardeal, o general deu um murro na mesa e o enxotou gritando que seu lugar era "na sacristia". Em 31 de outubro de 1975, dom Paulo abriu a Sé para um culto multirreligioso em memória do jornalista Vladimir Herzog, morto nos porões. O ato entrou para a história como marco inicial da luta pela redemocratização do país.
O engajamento político rendeu retaliações do Vaticano. Em 1989, sua diocese foi dividida em cinco, numa medida para esvaziar seu poder.
O cardeal não se fez de rogado. Três anos depois, estava na linha de frente pelo impeachment de Fernando Collor, acusado de corrupção.
Criado numa família de 14 irmãos em Santa Catarina, dom Paulo leva vida metódica e de hábitos franciscanos. Acorda antes das 6h30, reza missa às 7h, lê dois jornais e sai para caminhar. Toma um copo de suco de lima da pérsia às 10h, faz sua oração pessoal e almoça ao meio-dia.
À tarde, divide-se entre leituras em vários idiomas -ele prefere a Bíblia em grego. Faz novas caminhadas, brinca com sua pastora-alemã e encerra o dia com rezas e música clássica. O próprio cardeal escolhe os CDs; seu compositor predileto é Mozart. Em janeiro, dom Paulo precisou extrair a vesícula. Teve infecção pulmonar e passou 19 dias internado. No hospital, chamou o bispo emérito de Blumenau, dom Angélico Bernardino, e repetiu seu lema: "Esperança sempre!"
Foi só mais um susto para quem já sofreu um infarto, retirou a próstata, venceu um câncer no olho esquerdo e sobreviveu a um grave acidente de carro aos 71 anos.
No dia em que chegou aos 90, ele voltou a exibir disposição e bom humor ao receber convidados para sua missa na chácara, única celebração da qual aceitou participar.
Lá, arrancou risadas ao contar como virou arcebispo, após recusar três convites do papa Paulo 6º. "Fui chorar junto a São Pedro, em Roma, e [depois] comecei a ser bispo em São Paulo. E não sabia que era tão bom!", disse.
Em outra ocasião, emocionou o jornalista e amigo Ricardo Carvalho ao descrever sua fase atual: "Estou preparando minha passagem". O religioso, que perdeu a irmã Zilda Arns no terremoto que devastou o Haiti em 2010, voltou a conviver com a morte semana passada, quando a irmã Olivia faleceu aos 91 anos. "Estou conformado porque é a vontade de Deus", disse a freiras que o consolaram.
Ao ser questionado sobre o assunto, dom Paulo gosta de responder de forma leve, porém espirituosa: "Estou preparado. Não tenho medo, mas também não tenho pressa."
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Reportagem por BERNARDO MELLO FRANCO DE SÃO PAULO

quinta-feira, 20 de outubro de 2011


115 mil km de tubulações disputam espaço sob as calçadas paulistanas

Sabesp tem atualmente a maior rede subterrânea de serviços, com 34 mil km; detalhamento vai facilitar o planejamento de obras
Publicado em: 17/10/2011
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No subterrâneo da capital, cabos e tubulações formam uma rede de 115 mil quilômetros dos mais variados serviços. Esse universo de fios equivale a três viagens de ida e volta entre São Paulo e Tóquio, no Japão.

Sob os pés de quem caminha pelas calçadas, concessionárias de água, esgoto, luz, telefonia e gás travam uma disputa silenciosa - e às vezes perigosa - por espaço.

No total, a Telefônica é a campeã de ligações, com 38 mil km de cabos, mas só 6.500 km enterrados. Nesse quesito, quem ganha é a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), com 34 mil km, todos no subsolo. Os dados ainda mostram que, por enquanto, o uso de gás encanado está restrito ao centro expandido, enquanto as ligações de telefone se espalham por todos os distritos.

O raio X das grandes avenidas revela que a Paulista está tomada por todas as redes de serviços, com destaque para as novas ligações de telefonia, que preveem acesso a internet e TV a cabo. A mesma característica é encontrada na Avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona sul. A semelhança é explicada pela concentração de torres de escritórios em ambos os endereços.

Para o geólogo Edilson Pissato, do Instituto de Geociências da USP, o banco de dados digital foi criado tardiamente. "Mas é bem-vindo, claro. O conhecimento das redes é muito importante na prevenção de acidentes em escavações subterrâneas ou ao ar livre, como aberturas de valas, e na execução de sondagens mecânicas", diz.

Expansão. Pissato também afirma que organizar o território subterrâneo é imprescindível diante do crescimento da quantidade de redes. "Algumas, como a elétrica, têm sido transferidas para o subsolo. Outras estão em ampliação, como a de gás. Isso tudo tem de ser organizado para que uma não interfira na outra nem no espaço subjacente."

Esse espaço subterrâneo é explorado de formas distintas de acordo com o serviço ofertado e a característica da rua. Atualmente, métodos construtivos menos invasivos permitem a realização de obras sem abertura de grandes valas.

Segundo o Departamento de Controle de Uso de Vias Públicas (Convias), a tubulação de esgoto, na média, é a mais profunda: tem cerca de dois metros. A explicação, de acordo com a Sabesp, está no método utilizado para a coleta. "Ela é feita por gravidade. Por isso, a tubulação tem de ser projetada para atender o maior número possível de imóveis", diz Amarildo Miguel, gerente de manutenção do centro expandido.

É a partir do banco de dados do Convias que os pontos de monitoramento de áreas contaminadas são instalados na cidade. O departamento usa o mapa digital para liberar ou não a instalação desses equipamentos, uma vez que eles também precisam dividir o subsolo com outras redes já instaladas.

Áreas contaminadas. Segundo a Prefeitura, o número de pedidos para instalação de pontos de monitoramento vem aumentando. Em 2010, foram dez solicitações - neste ano, já são 14.

Atualmente, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) lista 1.190 endereços com algum tipo de contaminação, como o solo do shopping Center Norte, na zona norte.

Em quantidade, os postos de combustíveis lideram a lista. As informações relativas ao subsolo contaminado ainda não estão disponíveis no GeoConvias. Em breve, a previsão é de que todos os pontos autorizados e solicitados sejam ilustrados no mapa digital, que hoje é apenas interno. A Prefeitura, no entanto, estuda publicar os dados na internet, para consulta pública.

Para a arquiteta e urbanista Lucila Lacreta, do Movimento Defenda São Paulo, o mapa das redes é imprescindível para o crescimento planejado de uma cidade. "É a mesma coisa que fazer diagnóstico de paciente. É preciso realizar todos os exames para saber se a saúde dele está boa. Agora será possível melhorar esse trabalho."
Fonte: O Estado de São Paulo – 16/10 - ADRIANA FERRAZ