terça-feira, 26 de outubro de 2010

Incineração: tecnologia de ponta transforma o lixo em energia

Do site Ecocidades

Nossos resíduos podem ter um destino mais interessante - foto: Justin Ritchie
Hoje, existem 650 usinas que queimam resíduos para produzir energia no mundo. Só na Europa são quase 400 com a  tecnologia Waste-to-energy, (algo como   Do Lixo à Energia, veja vídeo explicativo), em expansão em países como Dinamarca, Alemanha e Holanda. Por aqui, algumas cidades pretendem investir nesse setor e em Minas Gerais, no município de Unaí, já há um projeto em desenvolvimento.
Devido à emissão de poluentes liberados com a combustão,  a incineração de resíduos urbanos é bastante polêmica  e  foi combatida por décadas pelos ambientalistas. Além disso, alguns acreditam que esse tipo de procedimento não seja compatível com a política de desperdício zero e possa desestimular a reciclagem, já que, para transformar lixo em energia, seria preciso que houvesse um excedente desse material para abastecer as usinas.
Mas o desenvolvimento tecnológico favorecido o waste-to-energy. Na Dinamarca, por exemplo, foi adotado um novo tipo de incinerador que, graças a dezenas de filtros e à destilação de gases nocivos, emite menos poluentes do que todas as lareiras  e as churrasqueiras da região juntas. O país, de 5.5 milhões de habitantes, conta com 29 usinas que servem 98 municípios e já tem planos para construir outras 10 delas. O curioso é que a Dinamarca apresenta uma das taxas mais altas de reciclagem do mundo. Só o material que não pode ser reaproveitado é mandado para os incineradores. O mesmo ocorre com a Alemanha, que também investe nesse setor.
Em agosto deste ano, o Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) começou a elaborar a proposta de implantação de uma usina a lixo na estação do Caju, no Rio de Janeiro. Pesquisadores calculam que a unidade poderia gerar 500 megawatts de potência instalada e, se fossem aproveitadas todas as 9 mil toneladas de lixo produzidas por dia pela cidade, seria possível abastecer 1,5 milhão de residências, com consumo médio de 200 quilowatt/hora por mês.
Essa, no entanto, não será a primeira experiência de tratamento térmico do lixo no país. O município de Unaí, no noroeste de Minas Gerais, construiu uma usina que, por meio do aquecimento, transforma os detritos em produtos para a utilização industrial. Todo tipo de lixo – exceto o hospitalar -  é submetido à temperatura de 800oC, sem contato direto com as chamas. Os resíduos de origem vegetal e animal são transformados em carvão. Os de origem mineral não sofrem deterioração e são encaminhados à reciclagem. Não se descarta nem o chorume. Ele é vaporizado, tratado e devolvido à forma líquida.
Além do carvão, são produzidos com esse processo o óleo vegetal, alcatrão líquido, lignina e água ácida, posteriormente comercializados. Mas os planos em Unaí vão além da venda desses materiais. Para aproveitar o carvão produzido na usina, está em construção uma termoelétrica para abastecer a região de energia.
Embora o caso mineiro ainda desperte certa desconfiança, especialistas concordam que, hoje em dia, a incineração de resíduos é segura e proveitosa, desde que associada à coleta seletiva.
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2 em 1 – novo sistema solar aquece e gera energia elétrica

Concentradores solares da Zenith aquecem a água e produzem eletricidade
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A nova onda da energia solar é usar espelhos para concentrar a luz. Uma recém-criada empresa israelense, a Zenith Solar, está usando a tecnologia e afirma que vai revolucionar a indústria de energia renovável, produzindo simultaneamente e por preços irrisórios energia térmica e elétrica.
Israel é um local propício à utilização da energia solar. Além do clima, depende da importação de energia. Desde a década de 70, com os choques do petróleo, as residências locais passaram a usar coletores solares para aquecer a água. Na década de 90, virou lei e todos os edifícios residenciais passaram a ser obrigados a usar o sistema que, hoje, abarca mais de um milhão de residências, gerando 4% da energia total consumida no país.
A Zenith acha que esse número pode subir para 16% usando seus novos coletores. Os sistemas solares tradicionais de produção de energia elétrica usam células fotovoltaicas baseadas em silício. O material é caro e pouco eficiente. De toda a energia que recebe converte apenas pouco mais de 10% em eletricidade. Algumas células feitas de arsenieto de gálio conseguem chegar a índices próximos de 30%, mas seu custo altíssimo viabiliza o uso apenas na indústria aeroespacial.  Para piorar, a demanda crescente por energia renovável fez o preço dos materiais tradicionais subir dez vezes.
Eis que surge a tecnologia de concentração da luz através de pequenos espelhos. Ela consegue multiplicar por 1.000 vezes a energia reunida em uma pequena célula fotovoltaica de 10×10 centímetros. Dessa forma, segundo a empresa, a terceira geração do coletor converte em energia 72% da luz que recebe usando uma célula pequena e, assim, barata. A empresa foi criada em 2006 e já tem um projeto inaugurado no kibutz Yavne, onde foram instalados 86 coletores com 7 metros de circunferência,  que produzem um terço da energia consumida pelas 250 famílias que lá residem. Essa energia é fornecida em parte como eletricidade e, de quebra, aquece a água dos moradores. Na realidade, a água quente é um subproduto do processo de resfriamento dos coletores e também pode, através de vapor comprimido, mover turbinas que geram mais energia elétrica.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um benefício da fidelidade

Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo
Do ponto de vista evolutivo, o número de descendentes deixados por cada indivíduo é a única medida de seu sucesso. A razão é simples. Se na média esse número for menor que um, a espécie se extingue; se for maior, ela se expande. Todas as espécies compartilham esse objetivo numérico, mas a estratégia utilizada para atingi-lo varia. Algumas, como os camarões, produzem milhões de ovos, que são abandonados ao sabor dos mares na esperança de que alguns sobrevivam. Em outras espécies, a fêmea se responsabiliza por garantir a sobrevivência dos poucos filhotes, enquanto o macho busca fertilizar o maior número possível de fêmeas. Em algumas, pai e mãe trabalham juntos para garantir a sobrevivência da cria. Quando há colaboração entre os pais, é fácil entender a motivação: o filhote transmite para gerações futuras os genes de cada progenitor.

Mas como explicar que em algumas espécies irmãos e tios ajudam a criar um recém-nascido? Eles não deveriam se preocupar em deixar seus próprios descendentes, passando seus genes para a próxima geração? Esse aparente paradoxo, resolvido em 1964 pelo biólogo e matemático W. D. Hamilton, justifica o aparente altruísmo de tios e irmãos e explica o surgimento de agrupamentos sociais entre animais. Hamilton propôs que tios e irmãos, ao ajudarem a criar os parentes, aumentam as chances de seus próprios genes passarem para as gerações seguintes. Isso porque irmãos e tios carregam parte dos genes presentes nos filhotes que ajudam a criar. Afinal, eles compartilham os mesmos pais ou os mesmos avós com os filhotes nos quais investem seus esforços.
Mas, se a explicação de Hamilton está correta, é de se esperar que um irmão "prefira" cuidar de irmãos gerados pelos mesmos pais, com os quais compartilha 50% do genes, que de um meio-irmão. Se um dos pais é infiel ou promíscuo e o filhote é somente um meio-irmão - e, portanto, compartilha somente 25% dos genes -, o "incentivo" para ajudar a criá-lo é menor. Com base nesse raciocínio, Hamilton propôs que a colaboração na criação dos filhotes deveria ser muito mais frequente em espécies em que ocorre a fidelidade conjugal. Agora, um estudo detalhado em 267 espécies de pássaros confirmou a teoria de Hamilton.
Para cada uma das 267 espécies, foi estudado o comportamento do grupo na criação dos filhotes. Em algumas, somente o pai ajudava a mãe. Em outras, irmãos e tios também ajudavam a alimentar os filhotes no ninho. Nos casos extremos, como os Corcorax melanorhamphos, os filhotes simplesmente morrem de fome se os pais não forem auxiliados pelos parentes. De uma forma ou de outra, em aproximadamente 10% das espécies de pássaros os pais contam com a ajuda dos parentes.
Além de determinar o comportamento social de cada espécie, os cientistas fizeram testes de paternidade por DNA nas famílias de cada espécie para determinar o grau de fidelidade conjugal. Espécies nas quais todos os filhotes, mesmo de diferentes ninhadas, possuíam os mesmos pais foram classificadas como fiéis. Quando a porcentagem de filhotes de pais diferentes aumentava, a espécie era classificada em grupos de promiscuidade crescente.
Finalmente, os cientistas puderam correlacionar o grau de fidelidade de cada espécie com a sua estrutura social. Essa comparação, feita nas 267 espécies, demonstra que, à medida que aumenta a infidelidade, diminui a quantidade de ajuda que os pais recebem dos parentes na criação dos filhos. Isso significa que fidelidade e ajuda da família estão correlacionadas e provavelmente têm uma relação causal.
Quando uma espécie adota a fidelidade conjugal, os parentes passam a ter uma vantagem reprodutiva se ajudarem a criar os filhotes. Por outro lado, ao abrir mão do direito de procriar com diversos machos, a fêmea está colocando todos os seus ovos na mesma cesta: se o macho tiver genes piores, eles estarão em todos os seus filhos. O equilíbrio entre a estratégia da fidelidade, na qual a fêmea conta com a ajuda dos parentes, mas sacrifica a liberdade sexual, e a estratégia promíscua, na qual a fêmea possui a vantagem da diversidade de machos, mas sacrifica a ajuda da familiar, é tênue. Tanto assim que as duas estratégias são amplamente utilizadas pelos pássaros.
O interessante é que esse mesmo comportamento, disfarçado e encoberto pelas convenções sociais, pode ser observado nas sociedades humanas. Basta lembrar das malvadas madrastas retratadas em muitas histórias infantis.
BIÓLOGO

MAIS INFORMAÇÕES: PROMISCUITY AND THE EVOLUTIONARY TRANSITION TO COMPLEX SOCIETIES. NATURE, VOL. 466