s mudanças climáticas causam efeitos cada vez mais visíveis, como as enchentes no Rio Grande do Sul ocorridas em maio. Outro exemplo são as ondas de calor: em 17 de março, a sensação térmica no Rio de Janeiro chegou a 62,5°C, recorde histórico local. Quatro meses antes, uma jovem havia morrido após exaustão térmica no show da cantora Taylor Swift na cidade.
Pesquisas recentes mostram que todas as cidades precisam cortar suas emissões de gás carbônico até meados do século para limitar a alta da temperatura global a 1,5 ºC e evitar os piores impactos das mudanças climáticas. Com mais da metade da população mundial em áreas urbanas, elas são o epicentro da mudança de paradigma necessária para conter o aquecimento global e proteger a população de eventos extremos.
Mas quais medidas as cidades estão adotando para atingir esses objetivos? Esta série de reportagens do Estadão procurou as respostas mais variadas: tem cidade que nomeou um “secretário de calor” ou que estão fazendo muralhas para conter o avanço do mar, outras ainda adotaram o orçamento climático e algumas copiam a natureza para tentar evitar tragédias.
Uma dessas soluções são os jardins de chuva ou sistemas de biorretenção. Como o próprio nome indica, são espaços instalados nas ruas para absorver parte das chuvas, diminuindo impactos dos grandes volumes. A água que costuma se acumular no asfalto – o escoamento superficial - permeia o solo e segue para uma rede de drenagem subterrânea. É como se fosse um reservatório para o excesso de água.
Algumas cidades já construíram barreiras artificiais para conter o aumento no nível do mar. Em Santos, a região da Ponta da Praia pode ser inundada como consequência do aumento no aquecimento global a 1,5ºC. Se a temperatura global subir 3ºC praticamente todas as praias e parte da área urbana santista ficariam sob a água. A prefeitura instalou uma barreira de geobags – grandes sacos de material geotêxtil cheios de areia – para evitar que as ressacas avancem sobre a área urbana na Ponta da Praia. No local estão dispostos 49 sacolões, em uma extensão de 275 metros. O processo, iniciado em 2018, será expandido às praias do Embaré e da Aparecida, em parceria com a Autoridade Portuária, que administra o Porto de Santos.
Londres, por sua vez, adotou zonas de emissão baixa e ultrabaixa, que abrangem a maior parte da região metropolitana e cobram uma taxa diária de £12,50 (cerca de R$ 85) pela circulação de veículos poluentes. As zonas são válidas 24 horas por dia e 7 dias por semana. Miami criou o cargo de “chief heat officer”, espécie de secretário de calor. Outras seis cidades do mundo já adotaram essa medida. O ocupante desse cargo tem a função de sensibilizar a população sobre riscos de temperaturas altas, identificar as comunidades e bairros mais vulneráveis e melhorar o planejamento e a resposta às ondas quentes.
Entre as medidas, a capital norueguesa eletrificou sua rede de transporte público e ampliou a malha cicloviária. Também tem investido na produção de biogás na usina de Klemetsrud. A ideia tem sido trabalhar com objetivos de curto prazo para os cortes de emissões, de forma a conseguir resultados mais amplos. No Rio, uma das iniciativas é a criação de parques urbanos, como o Rita Lee. Outra, para tentar reduzir as emissões referentes aos resíduos orgânicos, foi criar a Fábrica Verde, centro de reciclagem de diversos materiais inaugurado em abril em um prédio de 6 mil m² na zona norte. Um dos produtos transformados na fábrica é o coco verde, cujo consumo é comum na orla – a unidade tem capacidade para processar até 80 mil quilos do produto por mês.
Reportagem: Fabio Grellet, Gonçalo Junior, José Maria Tomazela e Juliana Domingos Lima; Editora de infografia: Regina Elisabeth Silva; Editores-assistentes de infografia: Adriano Araujo e William Mariotto; Designer multimídia: Lucas Almeida.
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