quinta-feira, 13 de junho de 2024

Hélio Schwartsman - Avanços extremistas, FSP

 O centro foi o grande vitorioso nas eleições para o Parlamento Europeu, mas a extrema direita obteve avanços importantes em vários países, notadamente a França. É difícil avaliar o alcance exato dessa votação. Eleições para o Parlamento Europeu costumavam ser uma ocasião privilegiada para o voto de protesto. Nelas, o eleitor podia mostrar sua insatisfação para com os governantes nacionais sem arriscar bagunçar muito a política local.

É um pouco com isso que conta o presidente francês, Emmanuel Macron, ao dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas antecipadas. Seu cálculo é que, diante da perspectiva real de a extrema direita obter maioria na Assembleia, os eleitores de esquerda, centro e da direita republicana se mobilizarão para evitar tal desfecho. Foram "cordons sanitaires" como esse que asseguraram as duas vitórias de Macron contra Marine Le Pen nas presidenciais.

A ultradireitista francesa Marine Le Pen, cujo partido Reunião Nacional (RN) obteve um grande resultado nas eleições para o Parlamento Europeu - Sarah Meyssonnier - Reuters - REUTERS

Se vai funcionar de novo é outra questão. Apesar de a extrema direita ter sido derrotada anteriormente, ela não deixou de crescer na preferência do eleitorado e não há lei de ferro que a impeça de triunfar no pleito de junho/julho. A jogada de Macron tem lógica, mas é arriscada.

O avanço da extrema direita na Europa me leva a duas constatações, uma mais tranquilizadora e outra bastante inquietante. Pelo lado menos negativo, como já observou Adam Przeworski, a direita radical da Europa Ocidental é de uma variante menos tóxica do que suas congêneres das Américas e da Europa Central. É uma direita nacionalista, anti-UE, anti-imigração e anti-Islã, mas que, ao contrário de Trump, Bolsonaro e Orbán, não viola as regras básicas da democracia.

Do lado mais preocupante, o crescimento global da extrema direita está calcado no voto jovem. Nós fizemos algo de bastante errado se não conseguimos convencer as novas gerações de que o pacto liberal-democrático é algo em que vale a pena apostar.

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