O leilão do projeto do trem de média velocidade que vai ligar São Paulo a Campinas, que ocorreu nesta quinta-feira (29), permitirá no futuro desafogar o sistema Anhanguera/Bandeirantes, que apresenta lentidão cotidiana na chegada de veículos à capital, e é visto como o primeiro passo para a retomada de trens regionais no país.
A avaliação é de Joubert Fortes Flores Filho, presidente do conselho administrativo da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos) e de Vicente Abate, presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária).
Para os executivos, o surgimento do novo trem vai impulsionar as atividades do setor, que sofreu muito durante a pandemia —caso do transporte de passageiros— e com a ociosidade e falta de pedidos para as fabricantes nacionais —situação da indústria ferroviária.
Com proposta única, o leilão foi vencido pelo consórcio C2 Mobilidade Sobre Trilhos. O grupo ofereceu um desconto (deságio) de 0,01% no pagamento de R$ 8 bilhões que o Governo de São Paulo terá de fazer, saindo vencedor do certame na sede da B3, na capital.
Liderado pela Comporte, holding brasileira ligada à família Constantino, fundadora da Gol, o consórcio foi formado em parceria com a gigante CRRC, empresa estatal chinesa que é a maior fabricante de suprimentos ferroviários do mundo. A concessão será de 30 anos e feita via PPP (parceria público-privada).
"A gente espera que seja o passo de uma retomada, para que a gente possa voltar a ter o transporte regional, transporte de intensidade, no Brasil. É difícil a gente entender num país do tamanho do nosso que a gente praticamente abandonou desde a década de 70 [as ferrovias] e agora, no momento em que se preza pela questão de sustentabilidade, é melhor a gente tentar resgatar isso", afirmou Flores Filho.
Ele afirmou esperar que essa retomada comece a acontecer a partir desse projeto e que ele impulsione inclusive os outros previstos para São Paulo, ligando a capital às regiões de Sorocaba, São José dos Campos e Santos.
"A linha São Paulo-Campinas é a que tem uma demanda mais intensa, então tem uma viabilidade maior e, na medida que ela tem sucesso, pode servir de paradigma para outras linhas no próprio estado de São Paulo."
O executivo disse que as operadoras de trens e metrôs no país ainda não recuperaram totalmente o fluxo de passageiros pré-pandemia de Covid-19 e que dificilmente isso acontecerá, devido a questões como a adoção do home office em ao menos um dia da semana nos grandes centros urbanos. Hoje, o setor transporta perto de 80% dos passageiros levados diariamente antes da pandemia.
A concessão do trem entre a capital e Campinas envolverá três serviços. Além do trem de média velocidade, o edital inclui a implementação de um "trem parador" conectando Jundiaí a Campinas e a concessão da linha 7-rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
O fato de ser de média velocidade é visto por Abate como essencial para que o projeto prospere.
"O trem a 140 km/h é bem mais que a média de um trem do metrô, por exemplo, correndo a 60 km/h ou 80 km/h, e eu diria que 10 ou 12 anos atrás, quando se pensou em alta velocidade [Trem Bala], a gente talvez não tivesse a maturidade que tem hoje. Nada melhor que um trem de média velocidade para impulsionar, no futuro, o de alta velocidade. Talvez lá atrás a gente não estivesse preparado para isso", afirmou o dirigente da Abifer.
Abate disse ainda que o leilão é um marco por conta do resgate do transporte de passageiros em São Paulo, essencial para o desenvolvimento do interior paulista a partir da segunda metade do século 19.
"Tivemos um transporte nos anos 60 e 70 para 100 milhões de passageiros por ano e isso se exauriu. Espero agora que os trens [envolvidos no projeto] sejam fabricados no Brasil. Ninguém tem, naturalmente, garantia sobre isso, mas há movimentos da própria empresa chinesa de se instalar no Brasil."
Previsto no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o trem terá 101 quilômetros de extensão e ligará a estação da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, ao centro da maior cidade do interior, com parada apenas em Jundiaí.
As obras devem durar cerca de sete anos, com as primeiras viagens das linhas paradoras em 2029, enquanto o trem expresso deve estrear dois anos depois.
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