Em missão pelos EUA, o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, se surpreende com a penetração de marcas brasileiras no país, mas quer alavancar uma política comercial que faça do Brasil um fornecedor permanente de insumos e de manufaturados, aproveitando-se da rivalidade oriunda da disputa geopolítica dos EUA com a China.
Em entrevista ao Painel S.A., Viana afirma que os gigantes de alimentos, como JBS e BRF, já dominam 35% do mercado norte-americano e os jatos da Embraer respondem por um terço dos voos regionais no país.
Em crítica a Gol e Latam, ele afirma que o presidente Lula não entende porque somente a Azul compra Embraer para destinos no interior do país.
China e EUA mantêm uma disputa geopolítica. Como a promoção comercial do país se posiciona diante dessa rivalidade?
As duas nações são amigas e os dois principais parceiros comerciais, mas os negócios estão à parte. Não vamos repetir o posicionamento político do governo Bolsonaro. O governo Lula faz uma diplomacia presidencial. Vamos aprofundar a parceria com os EUA, sem esquecer a China, nosso maior comprador.
O México se aproveitou mais da brecha deixada pela China na pandemia como fornecedor de insumos para os EUA. Perdemos essa oportunidade?
Ainda há possibilidades para o Brasil e é por isso que estamos aqui [em missão oficial]. Temos uma cadeia de biocombustíveis, soluções para a transição energética na indústria automobilística. Nossas empresas já estão muito presentes nos EUA. JBS, BRF, Marfrig e Minerva, os gigantes da proteína animal, já possuem 35% de participação no mercado norte-americano. O suco de laranja, 70%. Estamos conversando com a turma do vinho, máquinas e equipamentos. A Embraer já vendeu mais de 1.000 aeronaves e os aviões estão presentes em um terço das rotas regionais. O presidente Lula até reclamou que Gol e Latam não compram nossos aviões para usar em rotas regionais. Só a Azul. A Embraer já vendeu mais de US$ 7 bilhões para os EUA e está aqui conosco em uma nova rodada com investidores.
O que vocês pretendem, efetivamente, fazer em relação aos EUA?
Creio que, em um mês e meio, a gente consiga anunciar o que estamos chamando de Mapa da Atração de Investimentos. Queremos definir claramente onde estão as oportunidades de negócios no Brasil e para brasileiros nos EUA, mas não será uma coisa de governo. A ideia é que seja de empresário para empresário, uma coisa mais prática.
Os EUA são nosso segundo maior comprador [a China é o maior], mas é o maior investidor direto no país. Cerca de 23% de quase US$ 1 trilhão investido por estrangeiros no Brasil nos últimos anos partiu de empresas norte-americanas. Queremos desenvolver uma estratégia de país com os EUA. Se conseguimos exportar para a Ásia, a despeito de todas as nossas dificuldades logísticas, temos condições de nos colocarmos como parceiros na oferta de insumos e produtos com maior valor agregado.
Raio-X | Jorge Viana
Engenheiro florestal formado pela UnB (Universidade de Brasília), Jorge Viana foi prefeito do Acre entre 1993 e 1996, duas vezes governador do estado (1999 – 2006) e senador pelo PT entre 2011 e 2018. Ocupa a Apex desde janeiro de 2023.
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