As pessoas que falam inglês são confusas sobre a ideia de "liberdade". Espero que vocês, no Brasil, não o sejam.
Ela vem da conquista normanda de 1066. Os francófonos tornaram-se os senhores, por isso. O inglês muitas vezes tem duas palavras para a mesma coisa —uma germânica, neste caso "freedom", e outra latina, no caso "liberty". O inglês tem centenas desses pares de palavras.
As duas palavras um dia significaram a mesma coisa, qual seja, "não ser um escravo". Depois, há cerca de um século e meio, a palavra germânica saiu da gaiola e começou a vagar por aí. A palavra latina na língua inglesa ainda conota não ter um senhor coercitivo. Mas, a partir dos anos 1880, a palavra germânica começou a também significar "ter renda para fazer coisas".
Você pode ver que os dois significados diferem entre si. Uma é uma palavra de status. Uma mulher liberta, ou livre, é uma que não é coagida por seu marido. A outra é uma palavra para renda. Mas nós já temos uma palavra para renda: "income".
O presidente norte-americano Abraham Lincoln falou, em 1863, sobre "um renascimento da liberdade", usando a palavra de origem latina "liberty" para significar a primeira vitória do liberalismo, a abolição da escravidão. Mas ele usou no discurso a palavra germânica para significar exatamente a mesma coisa: sem escravidão.
Quando o presidente Franklin Roosevelt, em 1941, falou em "quatro liberdades", ele misturou os dois sentidos. A liberdade número 1 era a "liberdade de expressão", retratada na famosa pintura do artista popular Norman Rockwell que mostra um homem discursando numa reunião pública. Um escravo não tem permissão para manifestar suas ideias.
Mas o sentido número 3 trazia o outro significado, "liberdade de carência" ["want"], sendo essa uma palavra um tanto incomum para significar "falta de renda, pobreza".
Norman Rockwell pintou a liberdade número 3 como uma família reunida em torno de uma ceia de Natal. Não ter um senhor coercitivo não é a mesma coisa que fazer uma refeição.
Acabo de resenhar um livro do economista Prêmio Nobel Joseph Stiglitz. Você poderia pensar, como escreve Joe, que "a pessoa que enfrenta carências extremas não é livre" (para comprar comida, por exemplo). Mas, se não mantivermos os dois significados separados, pensamos que a coerção do Estado para alimentar as pessoas é a mesma coisa que não ser um escravo.
Respondemos à pergunta sobre se a liberdade política ou a coerção estatal conduzem a riquezas, por definição. A coerção vence.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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