quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Mauricio Stycer A cobertura medíocre de Record e SBT nos atentados em Brasília, FSP

 Os quatro anos de Bolsonaro na Presidência fizeram muito mal a algumas emissoras de TV aberta, em especial à Record e ao SBT. A adesão quase incondicional a um então presidente que desprezava a democracia e tem ojeriza ao trabalho da imprensa enfraqueceu o jornalismo e minou a credibilidade desses canais.


O jogo de esconde-esconde com a notícia e a má vontade com a eleição de Lula, em outubro do ano passado, culminou com a cobertura medíocre da tentativa de golpe de Estado ocorrida neste domingo (8).


Enquanto o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF eram vandalizados por bolsonaristas, Record, SBT e também a RedeTV!, de menor importância, permaneciam com suas programações normais, alheias aos acontecimentos.

Sim, esses canais exibiram alguns boletins informativos, extraordinários. Mas fizeram isso como se estivessem noticiando um engavetamento de veículos numa rodovia e logo voltaram à modorrenta grade dominical, como que dizendo que nada demais estava acontecendo.

Dadas a raridade e a gravidade do que se via em Brasília, todos os canais de televisão tinham a obrigação de permanecer no ar, de plantão, por toda a tarde de domingo. Era um ataque ao centro do poder do país —uma notícia absolutamente extraordinária.

Bolsonaristas em ataque golpista contra o Congresso em 8.jan.2023 - Evaristo Sá - 8.jan.2023/AFP

A desculpa de que no plantão de final de semana há menos jornalistas não convence. Em situação de emergência, profissionais são convocados para o trabalho. Imagens não faltavam. Pelo contrário. O golpe foi documentado pelos próprios agressores, com milhares de vídeos vindos de todos os cantos.

Leonardo Índio Bolsonaro, sobrinho de Jair Bolsonaro, faz selfie durante o atentado no domingo - Leonardo Índio Bolsonaro no Instagram/via Reuters

Havia farto material para manter a cobertura no ar. Bastava entender a importância e a gravidade da situação. Só Band e Globo fizeram isso.

A Band foi a primeira emissora a interromper a programação normal, por volta das 15h50, e a permanecer no ar por cerca de 20 minutos. Voltou depois em várias outras ocasiões.

Tela da BandNews durante cobertura ao vivo dos atentados em Brasília em 8 de janeiro de 2023
Tela da BandNews durante cobertura ao vivo dos atentados em Brasília em 8 de janeiro de 2023 - Reprodução

A Globo entrou com um primeiro boletim às 16h20, mas foi cautelosa e só derrubou, de fato, sua grade às 17h16. Foi a única a tomar essa atitude. Passou, então, a transmitir o sinal do seu canal de notícias, a GloboNews, até o início do "Fantástico".

O repórter Ricardo Abreu ao vivo durante os atentados em Brasília em 8 de janeiro de 2023
O repórter Ricardo Abreu, da GloboNews, ao vivo durante os atentados em Brasília em 8 de janeiro de 2023 - Reprodução de TV

Na TV por assinatura, os canais de notícias 24 horas não tiveram desculpas para esconder os acontecimentos. A forma como a ação dos golpistas foi apresentada é que chamou a atenção.

Por volta das 15h de domingo, imagens claras da violência que ocorria em Brasília já estavam disponíveis, ao alcance de qualquer emissora de TV. Talvez ainda não fosse possível afirmar que uma tentativa de golpe de Estado estava em marcha, mas não havia dúvidas de que algo extraordinário estava acontecendo na Praça dos Três Poderes.

Meia hora depois, às 15h36, a GloboNews já tinha informações suficientes para colocar na tela: "Radicais invadem o Congresso. Ato golpista de bolsonaristas em Brasília". Ao mesmo tempo, a CNN Brasil mantinha o pé no freio e dizia: "Manifestantes invadem Congresso Nacional".

Mais suave do que a palavra "manifestantes", só se a CNN caracterizasse os golpistas como "uma turma barulhenta fazendo arruaça em Brasília". O canal mudou o enunciado às 16h30 e passou a chamar os golpistas de "criminosos".

Aliás, pelas horas seguintes, a Record News e a Jovem Pan não mexeram nos seus enunciados. Para os dois canais, foram "manifestantes", sem vinculação com ninguém, que invadiram o Congresso, o Planalto e o STF.

O inquérito civil instaurado no dia seguinte pelo Ministério Público Federal para apurar a conduta da Jovem Pan na disseminação de "conteúdos desinformativos" com "potencial para incitar atos antidemocráticos" deve ter acendido um sinal de alerta no campo da comunicação.

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