Nos últimos quatro anos, asfixiado pela presença pestífera de Bolsonaro, pensei em me mandar do Brasil. O problema era para onde. Conheço uma quantidade de cidades lá fora e tenho amor por muitas, mas não gostaria de morar nelas. Quando adotamos um país estrangeiro, tendemos a nos envolver com seus problemas como se fôssemos cidadãos. É um erro. Um lugar, para ser perfeito, teria de ser imaginário.
Manuel Bandeira queria ir embora para Pasárgada, onde era amigo do rei. Dorival Caymmi, para Maracangalha, onde podia usar chapéu de palha. E Olavo Bilac exigia o Parnaso, o paraíso dos dodecassílabos entre as nuvens. Pensei em Xanadu, aquele reino no norte da Ásia, e em Shangri-la, nas montanhas do Tibete, mas temi morrer de velhice antes de aprender a língua. Cogitei também El Dorado, lugar mitológico da Amazônia onde, como tudo é de ouro —ruas, prédios, roupas—, o ouro não tem valor. Seus habitantes não fazem outra coisa senão se gabar da cozinha local. Tudo bem, mas quem quer almoçar cinco vezes por dia?
Para Camelot, não iria de jeito nenhum —nunca entendi essa fixação pelo rei Arthur. E muito menos para Atlântida, com sua fauna de escorpiões marinhos, enguias vermelhas venenosas e um animal meio sólido, meio gasoso, o "praxa", que se alimenta de olhos humanos.
Cheguei a considerar Metrópolis, a cidade do Super-Homem, e Gotham City, do Batman, mas não me empolguei. Ocorreram-me então Mu, a terra do Brucutu, Oz, famosa pelo filme, e até mesmo a avícola Patópolis. Em último caso, iria para qualquer lugar, desde que longe do manicômio em que o Brasil se tornara.
Mas o jogo, enfim, virou. Voltamos à vida real, com seus problemas e soluções. Vou ficar. Mesmo porque os lugares que citei são os que agora devemos evitar. Estão abarrotados de malucos perigosos que vivem numa realidade paralela e só acreditam no que querem acreditar.
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