terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Assembleia da Fiesp aprova destituição de Josué Gomes da presidência, fsp

 Fernanda Brigatti

SÃO PAULO

Assembleia extraordinária da Fiesp (Federação das Indústrias do estado de São Paulo) realizada nesta segunda-feira (16) aprovou a destituição de Josué Gomes da Silva da presidência da entidade. O resultado, no entanto, já é questionado por pessoas ligadas ao empresário, que afirmam que a decisão não tem validade.

A votação ocorreu à noite, após horas de assembleia —o encontro começou às 14h30. Votaram pela destituição representantes de 47 sindicatos, 2 se abstiveram e 1 votou contra, totalizando 50 votos. No início da reunião, havia 89 delegados de 80 sindicatos.

Ao todo, a Fiesp tem 116 sindicatos, dos quais 86 assinaram o pedido pela realização da plenária.

Josué estava entre os ausentes no momento da votação. Segundo participantes da reunião, ele deixou a assembleia por volta de 19h. A ausência de Josué e o quórum no momento da votação são vistos como problemas para a validade da decisão.

Já representantes dos sindicatos de oposição defendem que a plenária é válida. A oposição prevê registrar as atas em cartório nesta terça (17). Se a destituição for considerada válida, o estatuto prevê que o vice-presidente mais velho, Elias Miguel Haddad, assume o cargo interinamente até que a direção se reúna.

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Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) - Governo do Estado de São Paulo

Eleito com 97% dos votos, Josué assumiu a presidência da Fiesp em janeiro de 2022, substituindo Paulo Skaf, que ocupou o cargo por 17 anos. Há semanas o empresário enfrenta uma rebelião de sindicatos de oposição que criticam sua gestão à frente da entidade.

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Ainda no ano passado, as entidades enviaram a Josué uma relação de questionamentos que, na avaliação deles, justificava a realização da assembleia.

Entre os 12 pontos, haviam questões como o número de entrevistas concedidas por ele para falar da indústria e quantas visitas fez ao Congresso Nacional para debater pautas do setor. Em outro momento, os insatisfeitos pediam que Josué Gomes explicasse as atividades exercidas por algumas pessoas em órgãos ligados à Fiesp, como Sesi e Senai.

Segundo relatos de pessoas presentes à assembleia, um contrato da Fiesp com uma consultoria ligada ao ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho, que é conselheiro da federação, foi um dos pontos de discórdia entre o atual presidente e os sindicatos de oposição.

A composição dos departamentos e conselhos, apontados por aliados e opositores como uma fonte de tensão entre os sindicatos e Josué, também aparece no detalhamento do pedido. Para a oposição, Gomes deveria justificar a participação ou ausência dos sindicatos nesses espaços.

Os questionamentos dos sindicatos também incluíam o fato de Josué ter assinado, em nome da Fiesp, um manifesto pela democracia. Apesar de apartidário, o documento foi entendido como de oposição ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) –de quem Skaf foi aliado e apoiador nas eleições de 2022.

Já Josué é visto como próximo de Lula. Ele é filho do ex-vice-presidente nos mandatos anteriores de Lula, José Alencar (morto em 2011), e chegou a ser convidado para ser ministro da Indústria na gestão atual —o qual recusou.

Em uma de suas poucas entrevista a jornalistas, Josué fez críticas a Bolsonaro, marcando um novo momento político da entidade. No início de seu mandato, a Fiesp criticou o aumento da taxa básica de juros e defendeu a necessidade de "pensar além do Copom".

Participantes da reunião relatam que o clima foi ruim. Durante quase três horas, Josué se defendeu dos questionamentos que tinham sido apresentados pelos sindicatos que se opõem a ele e que solicitaram a realização da plenária. Ao fim, votaram se consideravam as explicações satisfatórias. O placar ficou em 24 votos a favor dos argumentos dele, e 62, contra.

Em uma tentativa de demonstração de força, o empresário recebeu na sede da federação nesta segunda o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Geraldo Alckmin (PSB), e o ex-presidente Michel Temer (MDB), para reunião da diretora da entidade.

Dirigentes da oposição, no entanto, viram o gesto como um sinal de fraqueza. Para um dirigente que votou pela destituição de Josué, a Fiesp sempre recebeu presidentes, ministros e secretários em sua sede. No ano de 2022, porém, critica o que teria sido a ausência dessas visitas e agendas, em uma das críticas feitas pela oposição à gestão de Josué.

A eleição do empresário para a presidência da entidade já havia sido conturbada. O grupo liderado por José Ricardo Roriz, da indústria plástica, acusou o processo eleitoral de ser atropelado, inviabilizando a formalização de sua chapa de oposição.

A participação de Skaf no pleito também foi disputada. No início de 2020, o então líder da entidade da indústria paulista começava a se movimentar para aprovar uma mudança no estatuto da federação que permitisse uma nova reeleição —que o levaria a um quinto mandato.

Desde sua primeira eleição, em 2004, Skaf havia aprovado duas mudanças no regimento da federação para poder se reeleger.

Depois da reação negativa quando a movimentação se tornou pública, Skaf acabou recuando e anunciou apoio a Josué. A escolha surpreendeu pelo perfil político dos dois.

Skaf estava à frente da Fiesp quando a federação instalou um gigante pato inflável em frente ao prédio da avenida Paulista contra a alta de impostos e o retorno da CPMF em 2015. O pato foi uma espécie de personagem no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Em 2019, já durante o governo Jair Bolsonaro (PL), Skaf se aproximou do então presidente. A Fiesp passou então a ser vista como uma entidade bolsonarista.

Josué, por outro lado, chegou a ser conhecido como o "menino do Lula". Em 2018, quando ainda era filiado ao PR, mesmo partido de seu pai, o empresário era disputado por partidos à esquerda e à direita, visto como um vice dos sonhos. Ciro Gomes (PDT) foi um dos que tentou atraí-lo para uma chapa.

Além de ter recursos próprios para financiar uma campanha eleitoral, Josué tem interlocução com o mercado financeiro e apoio em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. Na época, ele dizia que não seria candidato pois, à frente da Coteminas, passava muito tempo fora do Brasil. Em 2014, foi candidato ao Senado por Minas Gerais, mas não se elegeu.


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