Sei que muita gente vai ficar melindrada com o que vou escrever, pois se há algo que não é comum nas pessoas, sobretudo nas que atuam na política, é reconhecer as próprias fraquezas.
Não é questão de se fazer nenhuma mea culpa, mas dar mais clareza para a leitura de conjuntura, fundamental para definir estratégias políticas e que poderá ser muito útil ao governo do presidente Lula.
Isso não transformará o bolsonarismo em algo palatável, pois é intolerável o fascismo e ele deve ser considerado sempre como um inimigo a ser combatido. Mas existe um aspecto nestes quatro anos de desgoverno do genocida que deve ser analisado com muito carinho e a Frente Ampla, que se transformou no Governo do Coalizão, deve saber lidar com esta nova realidade e, por que não dizer, aprender com eles. Neste quesito, eles caminham anos-luz na dianteira dos democratas brasileiros.
Nosso governo insiste em fazer de conta que este mecanismo não existe e não admitir que Lula só ganhou a eleição, de maneira heroica, pelo seu gigantesco carisma, reconhecido internacionalmente, e por que o discurso de ódio dos fascistas não conseguiu penetrar nas classes mais vulneráveis, nos assalariados em geral, nas periferias das grandes e médias cidades, no Nordeste brasileiro, sobretudo nas mulheres e na classe média mais esclarecida. Este foi o eleitorado que permitiu a terceira eleição do presidente. Basta fazer uma análise banal dos resultados que saíram das urnas para se entender a que me refiro.
A chamada esquerda subestima, com bastante imprudência – e por que não dizer com um que de arrogância, esta nova tendência da vida moderna ditada pelo chamados algoritmos.
Ouso dizer que a direita opera esta máquina de manipulação de massas com muito mais eficiência e, muitas vezes, transforma os próprios quadros da centro-esquerda (o núcleo duro do governo Lula) em seu operador.
Neste aspecto, por soberba ou teimosia, o nosso campo insiste em não reconhecer a fragilidade nesta área e não se preocupa muito em construir uma rede semelhante a que os fascistas possuem. Nisso eles nos superam.
Como explicar, por exemplo, como a máquina bolsonarista conseguiu obter resultados tão significativos, nas últimas eleições, elegendo os principais governadores de Estado, principalmente no Sul e no Sudeste do país, controlando um território que engloba São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, Distrito Federal, só para ficar em alguns exemplos, além de ter eleito os principais senadores nestas localidades, e um exército de deputados federais? Eles elegeram Sérgio Moro, Damares, Astronauta, Romário, Mourão etc. Mas de onde vieram estes votos, que não eram tão evidentes e eram risíveis para a nossa compreensão, inicialmente?
É claro que a força da derrame do dinheiro público, através do chamado Orçamento Secreto, pesou muito para eleger quadros fiéis a Bolsonaro. Mas é importante notar que seus eleitores também se tornaram muito suscetíveis ao discurso operado pela máquina de propaganda das redes sociais do fascismo. E nisso, nós do Governo de Coalizão, continuamos correndo atrás.
Como explicar que o bolsonarismo não apenas quase ganhou as eleições presidenciais usando esta máquina ignorada pelos democratas, como também conseguiu colocar milhares de senhores e senhoras, de todas as idades, em acampamentos nas portas dos quartéis ou dentro dos ônibus para tentar efetuar um golpe fracassado, através de um quebra-quebra, na Praça dos Três Poderes, no centro nervoso do poder do Brasil?
Não bastou oferecer a eles um churrasquinho, uma quentinha gourmet ou um choppinho para levá-los à Brasília. Todos eles, sem exceção, estavam com a cabeça feita pela máquina de manipulação de Bolsonaro. Agiram sem pensar, como autômatos, recebendo ordens de um comando que nada tem de celestial.
É o chamado whatszapp, cretino, ouso dizer! É isso que eles conseguem ter a mais do que nós. Infelizmente, só continuamos falamos para a própria bolha, para os iniciados. Mas não se consegue penetrar nos evangélicos, no tiozão do pavê ou na senhorinha assanhada que saiu defecando nos bens públicos. A gente só consegue olhá-los com preconceito, com desprezo, com ironia, e nada mais. Não tentamos convencê-los e mostrar-lhes o quanto se prestam a papel ridículo (e agora perigoso), depois dos atentados de 8 de janeiro.
Nós, da centro-esquerda, como disse antes, muitas vezes chegamos a servir aos propósitos do bolsonarismo. Sempre nos divertimos com as coisas ridículas deles, criando memes engraçadinhos, cuja eficácia fica devendo. Não disputamos com eles o chamado local de fala, não disputamos a narrativas. Eles são apenas ignorantes, avaliam.
Não basta fazer tic tocs de humor sobre o gado bolsonarista. É preciso construir a narrativa, nossa rede de convencimento, além de ter mais cuidado com a nossa mídia pública, que deve sim ter investimentos e estar nas mãos de quadros confiáveis.
Vou pegar um exemplo bem besta e atualíssimo. Estão sendo quebrados os sigilos de 100 anos do cartão corporativo do Bolsonaro. Nele constam gastos estapafúrdios, como compra de 9 mil reais em pãezinhos e de 54 mil quentinhas em um restaurante popular de Roraima. Aí não se para de fazer “piadianhas” ou memes sobre isso. É óbvio que é engraçadinho. Todo mundo ri. Alivia a alma. Mas só fala para a bolha centro-esquerdista e não atinge o outro lado do muro. Se for bolsominion, sequer vai entender as piadas. Mas a gente se farta em divulgá-las, mantendo viva a chama do bolsonarismo, mas não compartilhamos nossas mensagens, aquelas que a gente considera chatas.
Lula acertou ao destinar a chefia da Secretaria de Comunicação ao deputado Paulo Pimenta, um jornalista preparado para o exercício desta função nevrálgica de governo. O então deputado gaúcho domina bem a linguagem que deverá ser desenvolvida pela gestão. Foi, para orgulho da nossa categoria de jornalistas, um dos principais defensores do diploma em jornalismo, cuja derrocada abriu o flanco para a mediocrização da mídia.
Comunicação, bem sabe o nosso querido ministro, é investimento.
É necessário, portanto, investir na criação mais atenta das nossas redes sociais e nos nossos veículos de Comunicação, como a TV Brasil, a EBC, entre outras.
Precisamos falar para fora da nossa bolha, da nossa igrejinha.
É uma questão de sobrevivência do governo Lula.
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