O mercado não tem coração, os ricos devem pagar mais impostos, e os empresários só ganham dinheiro porque seus empregados trabalharam. As três declarações foram dadas por Lula em eventos e entrevistas nos últimos sete dias. Nenhuma é inédita ou foge à cartilha tradicional do PT, mas a escolha das palavras oferece um termômetro das motivações políticas do presidente.
Lula fez campanha em 2022 com uma plataforma voltada para a população mais pobre. Vitorioso, ele reforçou o compromisso com essa agenda e acentuou em seu discurso uma dose de antagonismo em relação ao empresariado e o mercado financeiro. Agora, ele agrega essa retórica à sua rotina como presidente.
O atrito com grupos economicamente influentes é parte de um rol de convicções antigas dos petistas. A insistência de Lula nessa ideia, porém, não se dá apenas como parte de um resgate ideológico, mas como ferramenta de governo, com funções de curto, médio e longo prazo.
O petista testou os efeitos imediatos desse embate ainda na transição. Quando investidores reagiram mal a declarações do presidente eleito sobre regras fiscais, Lula respondeu com ironia, dizendo que o mercado ficava "nervoso à toa". A ideia é manter essa rixa como uma vacina capaz de atenuar os impactos políticos das variações negativas da Bolsa.
Numa perspectiva de médio prazo, as alfinetadas no andar de cima também devem ser lidas como um aceno ao andar de baixo. Enquanto o governo busca dinheiro para cumprir sua agenda, Lula tenta sinalizar para sua base que tem disposição de enfrentar grupos poderosos, em especial aqueles que podem frear gastos prometidos na campanha.
Esse mesmo embate seria útil para corrigir, no futuro, o que os petistas classificam como um erro histórico do partido: a perda de conexão com certos segmentos de baixa renda, principalmente nas classes trabalhadoras das cidades. Lula atua para retomar o vínculo com esses grupos ao martelar uma oposição aos privilégios de algumas elites.
Nenhum comentário:
Postar um comentário