Uma oposição que se forma contra um presidente por se sentir desprestigiada, alienada do centro do poder. Essa é a história da Fiesp hoje, e da Fiesp 20 anos atrás.
Entre 1998 e 2004, a entidade foi presidida por Horácio Lafer Piva. Como Josué Gomes da Silva, destituído do comando por uma assembleia realizada nesta segunda (16), Piva vem de uma família tradicional da grande indústria. De um lado, Klabin, do outro, Coteminas.
Ambos, ao que tudo indica, mexeram em um vespeiro. Em sua gestão, Piva demitiu 4.000 pessoas (incluindo na conta Sesi e Senai), entre eles muitos apadrinhados de dirigentes sindicais que orbitam a Fiesp, segundo reportagens da época.
Em seu plano de modernização da entidade, em um período em que a indústria sofria uma reconfiguração diante da abertura comercial, Piva centralizou o poder, desmantelou departamentos e atacou regalias. Caminho que Josué parecia estar trilhando.
Mesmo em termos de personalidade os dois se parecem. Como Josué, Piva era visto como fechado e pouco habilidoso na política diária da entidade.
Entre os dois mandatos, apenas um presidente: Paulo Skaf –que não poderia ser mais diferente de ambos.
Skaf não é um empresário tradicional. Seus críticos, inclusive, gostam de destacar que se trata de um industrial sem indústria. O próprio gosta de contar sua história como uma narrativa de ascensão do underdog, à margem da elite do setor, que, não obstante, dominou a principal porta-voz da indústria no país.
Outro jeito de contar essa história, porém, é de um político habilidoso que soube reunir em torno de si os interesses de dirigentes de sindicatos de pouco peso, sintomas de uma indústria combalida, que vivem de e para a Fiesp.
Foi assim que Skaf conseguiu eleger-se pela primeira vez e, ao que tudo indica, é assim que ele busca voltar ao poder agora, embora negue oficialmente qualquer relação com a rebelião enfrentada por Josué.
Há, porém, uma diferença importante entre os dois momentos. À insatisfação miúda manifestada por sindicatos com falta de espaço em departamentos e conselhos e desprestígio soma-se uma oposição genuinamente política à mudança de posicionamento que o atual presidente implementava.
Nos 17 anos em que Skaf comandou a Fiesp, a entidade andou mais para a direita, a ponto de apoiar explicitamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Embora seja comum atribuir a Skaf a responsabilidade por esse deslocamento, ele já vinha ocorrendo, reflexo de um apequenamento da Fiesp. De fórum da grande indústria nacional em seus tempos áureos, a entidade foi se fragilizando no mesmo passo do setor.
Longe da caricatura do grande capitalista, boa parte do empresariado que frequenta o prédio da avenida Paulista hoje tem um perfil muito mais próximo da classe média. Lidera negócios pequenos e médios, frágeis, dependentes de afagos e favores. Vive da mão para a boca, como descreveu um grande industrial.
Skaf é, na verdade, tanto sintoma quanto parasita da desindustrialização. É este o cerne da crise de representatividade que se aplaca sobre a Fiesp há décadas.
Josué é um estranho no ninho, sobrevivente de uma elite contra a qual a massa de pequenos e ressentidos –em outras palavras, bolsonaristas– se volta.
A rebelião atual parece ser, finalmente, o esgotamento de um símbolo que se esvazia.
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