O relógio trazido ao Brasil por dom João 6º em 1808 foi depredado por um manifestante que usava uma camiseta estampada com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a invasão do Palácio do Planalto no domingo (8).
Imagens do circuito interno de câmeras do Palácio do Planalto mostram o homem derrubando a peça da mesa na qual estava exposto. As imagens foram divulgadas pelo Fantástico, da TV Globo, no domingo (15).
A possibilidade de restauro da peça, segundo membros do governo federal, ainda é incerta, uma vez que se trata de uma peça única.
O relógio estava exibido no terceiro andar do Planalto, no mesmo piso onde está localizado o gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nas imagens, esse mesmo manifestante golpista anda livremente pelo andar e tenta desligar o disjuntor, para cortar a energia elétrica. Ele também busca extintores de incêndio e os usa para tentar quebrar a câmera de segurança que flagrou a sua ação.
Único exemplar da peça no mundo todo, o objeto foi dado de presente a dom João 6º pela corte de Luís 14, da França. A obra foi desenhada por André-Charles Boulle e fabricada pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot no fim do século 18, poucos anos antes de ser trazida ao Brasil.
Os ponteiros e números do relógio foram arrancados e uma estátua que enfeitava o topo da peça foi arrancada.
Relatório preliminar do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) que mapeia os danos ao patrimônio causados nos atos golpistas, divulgado na semana passada, aponta que as peças internas do relógio foram recolhidas e catalogadas "para futuro restauro" e que ele teve fragmentos separados de seu suporte.
O texto aponta ainda que o relógio está "fragmentado em toda sua extensão, apresentando fissuras, deformações e perdas".
O presidente do Iphan, Leandro Grass, afirmou à imprensa que há uma "indefinição" sobre a possibilidade de restauro da peça, algo já levantado pela ministra Margareth Menezes, da Cultura, também na semana passada.
"O relógio mesmo que foi quebrado, parece que não sabemos se vai ter condições de restaurar, uma peça única", afirmou Margareth na terça-feira (10).
"O próprio relógio que está lá no Palácio do Planalto, há uma indefinição, porque não existe hoje no Brasil, por exemplo, uma estimativa, uma percepção de que é possível restaurar ele aqui. Tudo isso vai ser aprofundado de acordo com orientações das diretorias de acervo de demais órgãos", disse Grass a jornalistas no último dia 12.
De acordo com publicação do site do governo federal, existem no mundo apenas dois relógios fabricados por Martinot. O outro está exposto no Palácio de Versalhes, na França, mas tem metade do tamanho da peça que foi destruída. O valor do relógio danificado é considerado fora de padrão, diz o texto.
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