segunda-feira, 7 de março de 2022

Celso Rocha de Barros O MBL vai acabar?, FSP

 O Movimento Brasil Livre (MBL) passa por sua maior crise desde que se destacou na organização das passeatas pelo impeachment em 2015-2016, quando Eduardo Cunha descobriu que Arthur do Val, o Mamãe Falei, era fácil porque era burro.

As coisas já não iam bem para o MBL antes mesmo de o deputado estadual paulista declarar sua intenção de explorar sexualmente a pobreza das refugiadas de guerra ucranianas.

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Poucas semanas antes, a principal liderança emebelista, o deputado federal Kim Kataguiri, foi severamente criticado por questionar a criminalização do nazismo. A proposta era imbecil, mas, além disso, a intensidade da reação contra Kataguiri mostrou outra coisa: o clima ideológico do Brasil de 2022 não é mais aquele em que o MBL floresceu.

Grupo de cerca de 20 pessoas caminha em estrada vestindo roupas com as cores do Brasil e carregando bandeiras
Marcha do MBL pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2015, em trecho da BR-060 em Goiás - Pedro Ladeira - 23.mai.15/Folhapress

O MBL cresceu em um ambiente político altamente tolerante com a "zoeira" de direita, um tipo de irreverência "politicamente incorreta" e "contrarian" que, para muita gente, pareceu charmosa durante a crise dos governos petistas.

Isso perdeu muito da graça depois que um presidente "contrarian" e politicamente incorreto matou mais de cem mil brasileiros por não acreditar em vacinas.

Aqui as lideranças do MBL poderiam dizer: bom, mas Bolsonaro é ainda mais repulsivo do que Mamãe Falei; Bolsonaro defende o Ustra, que, se fosse russo em 2022, introduziria ratos nas vaginas das ucranianas que pegassem em armas contra a invasão. E Bolsonaro continua aí, com o apoio de entre um quarto e um terço dos eleitores.

É verdade, mas isso nos ensina uma importante lição: não é fácil ser politicamente incorreto sem o apoio dos poderes constituídos.

O MBL rompeu com Bolsonaro. A direita brasileira não rompeu. No final de 2021, o MBL, em atitude elogiável, ajudou a organizar atos pelo impeachment. O público de 2015 não foi.

No fundo, a direita brasileira rompeu com o MBL porque não acha que ainda precise de manifestações de rua depois de ter recuperado o controle da máquina de Estado, seu orçamento e suas armas. Militância nas redes sociais, afinal, é coisa que se compra na Rússia.

O MBL vem tentando dar a volta por cima com a candidatura presidencial de Sergio Moro. De fato, se Moro for eleito, terá sido porque tomou a base eleitoral de Bolsonaro. Como apoiadores de primeira hora do ex-juiz, o MBL estaria em uma posição privilegiada para reconquistar sua influência.

Mas a candidatura de Moro vai mal. Na revista piauí deste mês, uma matéria de Ana Clara Costa mostra que o ex-juiz tem encontrado dificuldades seríssimas para organizar sua campanha. Falta dinheiro, falta apoio político, e a disparada nas pesquisas não aconteceu. Além disso, Moro disse que se recusa a dividir palanque com Arthur do Val, e o MBL, ao que parece, não o expulsará.

A crise do MBL suscita dúvidas sobre a longevidade dos movimentos sociais organizados a partir das redes sociais. Em 2015, Kataguiri e companhia demonstraram que eles podem ser politicamente eficazes. Mas será que conseguem se consolidar como forças políticas? Ou a lógica das redes favoreceria a criação e o descarte contínuos de grupos, marcas, símbolos e lideranças?

O fato é que, enquanto a turma de 2015 se autoimola em público, a direita brasileira volta para casa, volta para seu centrão e seus milicos.

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