Letícia Ginak, O Estado de S.Paulo
05 de novembro de 2020 | 05h02
Aumentar a presença das mulheres no mercado de trabalho e em cargos de liderança é o foco de duas startups que começam a despontar no cenário nacional. Vencedora do Startup Awards (premiação da Associação Brasileira de Startups entregue no fim de outubro) na categoria impacto social, a Se Candidate, Mulher tem apenas sete meses e surgiu como um projeto de mentoria e conteúdos gratuitos organizado por Jhenyffer Coutinho. A Women Leadership, criada por Isabella Quartarolli, também nasceu de um programa de educação e mentoria para mulheres, tornando-se startup há pouco mais de um ano.
O cenário nacional para a carreira feminina respalda a pivotagem feita pelas criadoras desses negócios. A participação feminina no mercado de trabalho (indicador que considera mulheres com mais de 14 anos que trabalham ou estão procurando emprego) ficou em 46,3% no segundo trimestre deste ano. Desde 1990, o índice não atingia valor tão baixo, quando ficou em 44,2%, segundo o IBGE. Além disso, no início da pandemia, 7 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho na segunda quinzena de março, segundo Pnad.
O conhecimento sobre os dados e a vivência no mercado de tecnologia impulsionaram Jhenyffer Coutinho a criar o Se Candidate, Mulher em abril. A administradora de empresas tinha acabado de se mudar para os Estados Unidos em um ano sabático, mas decidiu ajudar na recolocação de mulheres no mercado de trabalho compartilhando os conhecimentos que adquiriu em sua formação e na carreira, com passagem pelo Sebrae e atuando como gerente de gente e gestão na ABStartups.
“Por mais que eu desenhasse uma vaga pensando no público feminino, porque a quantidade de mulheres no setor de tecnologia é muito baixa, sempre se candidatavam homens”, diz. Outro dado que a motivou foi descobrir em um workshop que grande parte das mulheres se candidatam apenas se tivessem 100% dos pré-requisitos para a vaga, enquanto os homens fazem isso com 60% das competências exigidas (segundo dados compilados por uma pesquisa da HP).
“Decidi criar uma newsletter para passar dicas de como montar um bom currículo, um perfil no LinkedIn e como se portar em entrevistas”, conta. De forma orgânica e com a ajuda das redes sociais, ela diz que o projeto cresceu vertiginosamente e, em meados de julho, entendeu que poderia se posicionar como um negócio.
“Tenho essa bagagem de startups e percebi que sai da parte da ideação e tinha validado o problema. Então trouxe um time para trabalhar comigo”, conta. De acordo com a fundadora, até agora a startup contribuiu para a recolocação de 97 mulheres no mercado de trabalho e já mentorou mais de 150 profissionais femininas. São 3 mil membros na comunidade que criou nas redes LinkedIn, WhatsApp e Telegram, nas quais troca conhecimentos e dá mentorias.
Ganhar o Startup Awards em outubro foi uma surpresa para ela, segundo quem a premiação abriu espaço para a startup ser notada pelo ecossistema. “Recebemos convite de aceleradoras, investidores-anjo nos procuraram para entender o modelo, empresas nos procuraram para acessar nosso banco de dados e também para receber consultorias. Os holofotes se viraram para nós.”
O primeiro produto lançado no mercado foi uma aula sobre como construir o perfil no LinkedIn, o currículo e dicas para se sair bem na entrevista. A aula aconteceu em outubro, com 150 participantes. Jhenyffer e o time da startup, composto por 19 mulheres, planejam lançar mais produtos ainda neste ano. Sobre o futuro da empresa, Jhenyffer já planeja a volta para o Brasil, em janeiro, e pretende apostar no modelo bootstrap, em que a empresa se financia com os próprios recursos.
Treinamento para cargos de liderança
Há pouco mais de um ano no mercado, a Women Leadership também surgiu como um projeto antes de pivotar o modelo e se tornar uma startup. A ideia foi criada por Isabella Quartarolli, que trabalhava no hub de inovação curitibano How Education.
“Tive muito contato com o ecossistema de startups e percebi que havia poucas mulheres em cargos de liderança ou mesmo fundadoras de startups. Propus então criar esse projeto na área de educação para falar de liderança feminina”, conta.
Antes atuando por meio de eventos e bootcamps presenciais, toda a metodologia teve de ser adaptada para o online com a pandemia. Agora, com um curso de 20 horas divididas em quatro módulos, a CEO conta que já está na terceira edição e vê vantagens no novo modelo. “O online deu a possibilidade de eu aumentar o alcance e conseguir escalar. Já tive na turma uma mulher da Argentina e na próxima teremos uma da França e outra em Portugal”, diz.
“Ser uma edtech também foi positivo, é uma área que se desenvolveu bastante na pandemia porque as pessoas começaram a querer estudar e se capacitar. É um mercado que vai crescer muito daqui para frente e quem se consolidou na pandemia vai colher mais frutos”, completa. A metodologia conta com técnicas para desenvolver soft skills, mentorias com grandes nomes femininos à frente de empresas e startups no País e um módulo prático.
Atualmente atendendo nos formatos B2C e B2B, está nos planos de Isabella criar um modelo específico para o B2B para 2021. “As empresas já estão olhando para isso (diversidade de gênero), viram o quanto é importante e vão investir na capacitação do time”, acredita. As inscrições para a próxima turma, que acontecerá ainda este ano, estão abertas.
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