segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Resultado nas urnas aumenta cacife de partidos de centro para eleição de 2022, FSP

 Fábio Zanini

SÃO PAULO

Disputas municipais seguem lógica própria, mas as circunstâncias permitem enxergar neste pleito semelhanças com uma eleição de meio de mandato americana.

Nos EUA, a votação para o Congresso no segundo ano de governo de um presidente projeta o futuro e traz recados do eleitorado.

Os recados de agora no Brasil são muitos. O número de prefeituras, especialmente de capitais, ajuda a estabelecer o valor do passe para partidos quando são formadas alianças nacionais.

Desta vez, as siglas de centro, incluindo as que se notabilizam pelo fisiologismo (centrão), aumentaram seu poder de barganha.

O prefeito de Salvador, ACM Neto, e seu sucessor, Bruno Reis, ambos do DEM, celebram vitória em primeiro turno na capital baiana - Jefferson Peixoto/Futura Press/Folhapress

O DEM é um caso em destaque, porque pode ser o estofo para mais de uma candidatura de centro-direita: Luciano Huck, João Doria ou a opção por um nome próprio, Luiz Henrique Mandetta.

O ex-PFL fortaleceu-se, ao conquistar três capitais (Florianópolis, Curitiba e Salvador), número que pode crescer para cinco (Rio de Janeiro e Macapá). No total, fez 462 prefeitos, com 98,5% das eleições definidas.

O PSD, do eterno adesista Gilberto Kassab, é outro que sai em alta para negociações futuras, sobretudo porque criou seu próprio fenômeno eleitoral, o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil.

Kalil deve ser aliado cobiçado daqui a dois anos, especialmente se vier com força para disputar o governo de Minas Gerais. No cômputo geral, o PSD teve 652 prefeitos, terceira maior força.

Outros expoentes do centro, como PP e MDB, também elegeram prefeitos em profusão. Revigorada, a velha política poderá servir como um elemento novo a se esgueirar entre os polos do bolsonarismo e do petismo.

São as pontas do espectro político que saem machucadas. Contrariando a prudência e sua própria decisão inicial na campanha, o presidente Jair Bolsonaro não resistiu a seus instintos e enfiou-se onde não deveria.

Suas derrotas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife são simbólicas. Candidatos alinhados ao presidente tiveram algum sucesso apenas em Belém e Fortaleza.

Sem partido, ele pode aproximar-se de vez do Republicanos, que teve um bom desempenho, com 208 prefeitos eleitos e passagem para alguns segundos importantes, como São Luís (MA) e Campinas (SP).

O partido da Igreja Universal já abriga dois dos filhos do presidente. Outra hipótese é se juntar ao PTB, com 213 eleitos. Menos provável é voltar ao PSL, que teve 91 conquistas.

Na esquerda, o PT desidratou mais um pouco seu número de prefeituras, de 256 eleitas em 2016 para 178 agora. Mas o partido pode melhorar um pouco o desempenho caso saia vitorioso em parte das 15 cidades em que disputa o segundo turno.

Os próprios petistas lembram que o desempenho municipal desastroso há quatro anos não impediu que o partido chegasse ao segundo turno da eleição presidencial em 2018, e elegendo a maior bancada no Congresso.

Ainda na esquerda, Ciro Gomes (PDT) sedimentou a aliança de seu partido com o PSB. Juntos os dois partidos tiveram 562 prefeitos eleitos, pouco mais que o do PT. Isso pode dar gás ao velho sonho de se formar uma alternativa não-lulista de esquerda.

E há, claro, a grande surpresa dessa eleição, o PSOL, que sai vencedor em qualquer hipótese. Se Guilherme Boulos ganhar em São Paulo, os psolistas entram com cacife alto para uma futura frente de esquerda. Se perder, o próprio Boulos tende a ser candidato presidencial, desta vez não mais destinado a figurar como nanico.

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