domingo, 29 de novembro de 2020

O QUE A FOLHA PENSA Vez dos profissionais, FSP

 Neste domingo (29), mais de 38 milhões de eleitores de 57 cidades, entre elas 18 capitais, vão às urnas escolher seu prefeito em segundo turno. Destas, São Paulo é a maior e talvez a mais simbólica.

Na capital paulista, Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) se enfrentam pelo cargo. Segundo a pesquisa Datafolha mais recente, o tucano tem 55% dos votos válidos, ante 45% do oposicionista.

Com respectivamente 40 e 38 anos, são os mais jovens a disputar o posto em segundo turno na cidade desde a redemocratização. Ao mesmo tempo, são representantes legítimos do que se convencionou chamar de política profissional.

Covas foi deputado estadual e federal, secretário, vice-prefeito; vem de linhagem tucana que teve em seu avô, Mário (1930-2001), o representante mais importante. Boulos tem anos de experiência em liderança de movimentos populares. Sua agremiação, o PSOL, é dissidência do PT, criado em 1980.

O bom nível que ambos mantiveram na campanha e a participação em debates, sabatinas e entrevistas são sinais auspiciosos.

Igualmente auspicioso é o refluxo na onda antipolítica que começou nas jornadas de 2013, passou pelos excessos da Lava Jato (que de resto prestou serviço inestimável no combate à corrupção) e culminou na eleição de um suposto outsider à Presidência em 2018.

A bem-vinda vitória da política, porém, não pode servir de pretexto para a acomodação a velhos vícios da vida pública nacional.

Será grave erro descontinuar o processo de aperfeiçoamento do presidencialismo brasileiro. Não menos importante, a credibilidade dos eleitos dependerá de respostas concretas aos desafios da governança em todos os níveis.

No que diz respeito às administrações municipais, trata-se de atender às demandas mais básicas da população, dos serviços de educação e saúde à zeladoria das ruas, da mobilidade às condições de moradia e saneamento.

A maior metrópole do país é uma amostra hiperbólica de tais problemas, agora agravados pela pandemia de Covid-19. A prefeitura desde já, e por considerável tempo ainda, terá de tomar decisões difíceis entre a urgência de reabrir atividades como o ensino público e a eventual necessidade de retomar restrições à circulação de pessoas.

Espera-se, aliás, que conveniências politiqueiras não afetem tais iniciativas, agora ou depois.

O caos da paisagem urbana demanda um conjunto multidisciplinar de medidas, incluindo a rediscussão dos subsídios ao transporte público, corredores de ônibus, limites à expansão imobiliária, acolhimento de moradores de rua e redução de danos das cracolândias. A adoção gradual de pedágios urbanos precisa ser debatida.

Que o vencedor da disputa paulistana prossiga no caminho da melhor política —de diálogo, respeito à divergência e busca de soluções negociadas a partir de estudos e da experiência acumulada. Que seus opositores façam o mesmo.

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