Neste domingo (29), mais de 38 milhões de eleitores de 57 cidades, entre elas 18 capitais, vão às urnas escolher seu prefeito em segundo turno. Destas, São Paulo é a maior e talvez a mais simbólica.
Na capital paulista, Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) se enfrentam pelo cargo. Segundo a pesquisa Datafolha mais recente, o tucano tem 55% dos votos válidos, ante 45% do oposicionista.
Com respectivamente 40 e 38 anos, são os mais jovens a disputar o posto em segundo turno na cidade desde a redemocratização. Ao mesmo tempo, são representantes legítimos do que se convencionou chamar de política profissional.
Covas foi deputado estadual e federal, secretário, vice-prefeito; vem de linhagem tucana que teve em seu avô, Mário (1930-2001), o representante mais importante. Boulos tem anos de experiência em liderança de movimentos populares. Sua agremiação, o PSOL, é dissidência do PT, criado em 1980.
O bom nível que ambos mantiveram na campanha e a participação em debates, sabatinas e entrevistas são sinais auspiciosos.
Igualmente auspicioso é o refluxo na onda antipolítica que começou nas jornadas de 2013, passou pelos excessos da Lava Jato (que de resto prestou serviço inestimável no combate à corrupção) e culminou na eleição de um suposto outsider à Presidência em 2018.
A bem-vinda vitória da política, porém, não pode servir de pretexto para a acomodação a velhos vícios da vida pública nacional.
Será grave erro descontinuar o processo de aperfeiçoamento do presidencialismo brasileiro. Não menos importante, a credibilidade dos eleitos dependerá de respostas concretas aos desafios da governança em todos os níveis.
No que diz respeito às administrações municipais, trata-se de atender às demandas mais básicas da população, dos serviços de educação e saúde à zeladoria das ruas, da mobilidade às condições de moradia e saneamento.
A maior metrópole do país é uma amostra hiperbólica de tais problemas, agora agravados pela pandemia de Covid-19. A prefeitura desde já, e por considerável tempo ainda, terá de tomar decisões difíceis entre a urgência de reabrir atividades como o ensino público e a eventual necessidade de retomar restrições à circulação de pessoas.
Espera-se, aliás, que conveniências politiqueiras não afetem tais iniciativas, agora ou depois.
O caos da paisagem urbana demanda um conjunto multidisciplinar de medidas, incluindo a rediscussão dos subsídios ao transporte público, corredores de ônibus, limites à expansão imobiliária, acolhimento de moradores de rua e redução de danos das cracolândias. A adoção gradual de pedágios urbanos precisa ser debatida.
Que o vencedor da disputa paulistana prossiga no caminho da melhor política —de diálogo, respeito à divergência e busca de soluções negociadas a partir de estudos e da experiência acumulada. Que seus opositores façam o mesmo.
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