23.nov.2020 às 23h15
Eduardo Paes já age como prefeito eleito. A cinco dias do segundo turno, confiante no resultado das pesquisas que lhe dão ampla vantagem, ele ligou o modo ziriguidum, telecoteco, balacobaco.
Paes se deu ao luxo de faltar a um debate na CNN para ir ao aniversário da pastora Surica, no palco do Portelão, em Madureira. Estava em seu ambiente —ou o ambiente com o qual gosta de ser identificado, não necessariamente pertencendo a ele. Um “pinto no lixo”, para usar a expressão com que o filósofo Jamelão definiu a alegria de Bill Clinton em sua visita à favela de Mangueira.
No debate a que resolveu comparecer, o da Band, chegou com a estratégia e a tirada pronta. Na primeira oportunidade, chamou Marcelo Crivella de “pai da mentira” —o que é verdade. O oponente sentiu o golpe e apelou, tratando Paes como “mãe da mentira”. No fim do espetáculo, o eleitor continuou sem conhecer o programa das candidaturas. De propostas para o Rio, bulhufas. Só ataques pessoais.
Ardiloso e debochado, mas com disposição para o trabalho, o ex encarna o que o carioca tem de melhor e de pior. Mas parece não entender que o tempo das gordas vacas olímpicas passou. O triunfo implicará em ter de volta nas mãos uma cidade bem diferente daquela que administrou durante oito anos: convalescente no pós-pandemia e, com o tombo nas receitas e a fuga de investimentos, sem dinheiro para torrar como antes. Chegou a hora de Paes inventar um novo personagem. O Nervosinho não cola mais.
Com o atual, não há jeito. É-lhe impossível encarnar outra figura que não a dele mesmo: um boneco entrevado. Como sinônimo de rejeição, os dicionários registram repulsão, antipatia, aversão, asco, fastio, desamor, enjoo, ojeriza e, a partir destas eleições, Crivella. A humilhante derrota será um duro golpe no projeto de poder do bispo Edir Macedo. E um alívio para os cariocas.
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