Uma das estratégias mais comuns de um candidato em segundo turno é buscar reduzir sua rejeição no eleitorado e, tanto quanto possível, potencializar a do adversário. Assim procederam, em entrevistas à Folha, Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL), que travam em São Paulo a disputa mais vistosa das eleições municipais.
Em busca da reeleição, o prefeito tucano afirma que a cidade “vai vencer os radicais”, sem nominá-los. Ao mesmo tempo, associa Boulos, um líder do movimento dos sem-teto, e o PSOL ao PT: os dois partidos teriam “a mesma matriz ideológica” e “atuação conjunta”.
Covas explora, claro, o antipetismo encontrado em amplas proporções entre os paulistanos. Em outubro, segundo o Datafolha, 54% dos eleitores da cidade declaravam que não votariam em um nome apoiado pelo ex-presidente Lula.
O psolista, que moderou o discurso na campanha, procura responder a questionamentos sobre suas promessas de gastos vultosos e, em especial, sobre a declaração desastrada em que apontou a contratação de mais servidores como meio de elevar a arrecadação previdenciária do município.
A tarefa seria mais fácil se o PSOL —originado de uma ala dissidente do PT que se recusou a apoiar a reforma da Previdência proposta por Lula em 2003— não tivesse um histórico de apoio a teses temerárias do ponto de vista fiscal.
Do lado tucano, a fragilidade mais evidente é ninguém menos que o governador João Doria, de quem Covas foi vice e cujo apoio sua campanha trata de minimizar.
Como aponta Boulos, Doria suscita ainda mais rejeição do que o líder petista na capital, no limite da margem de erro da pesquisa Datafolha. Nela, 60% rechaçavam a hipótese de votar em um candidato endossado pelo governador.
Este abandonou prematuramente o mandato na prefeitura, que usou como trampolim para conquistar o governo do estado —e sua ambição notória é, de fato, a Presidência. Na campanha de 2018, esforçou-se para vincular seu nome ao de Jair Bolsonaro, hoje seu rival.
“Covas é o candidato da continuidade, ele é sócio de Doria nesse projeto”, diz Boulos. Para incômodo do prefeito, nem mesmo se vê projeto claro ou uma marca da gestão a ser apresentada na campanha. O pacote de privatizações perdeu o protagonismo de quatro anos atrás, e as esperadas melhoras na zeladoria não se fizeram notar.
Permanecem os múltiplos problemas da metrópole, ora agravados pela pandemia, que já desafiaram direita, esquerda e centro. Na busca pelo volátil voto paulistano, o recurso não raro é apresentar-se como a alternativa menos ruim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário