Quanto mais avançada é uma democracia, menos importantes são os resultados eleitorais. O paradoxo tem uma explicação. Para o regime funcionar bem, isto é, para que a alternância se dê de forma pacífica, é preciso que os custos para o grupo que deixa o poder sejam mínimos.
Para tanto, é necessário que a troca de comando não produza resultados irreversíveis nem mesmo muito dramáticos. Não é que a democracia rejeite mudanças, mas elas precisam vir em doses moderadas, para que não seja mais tentador para quem perde a eleição agarrar-se ao poder pela força do que ir para a oposição e depois voltar pelo voto.
Os EUA são uma democracia avançada, mas, ao contrário da maioria dos pleitos anteriores, o resultado de hoje faz enorme diferença. O que está em jogo não é apenas a possível alternância entre um programa mais à esquerda e um mais conservador, mas sim entre um candidato que sempre se pautou pelas regras da democracia e outro que, no poder, passou os últimos quatro anos testando seus limites. Pior, um candidato que se recusa até mesmo a comprometer-se em aceitar os resultados da eleição se estes não lhe forem favoráveis.
E não foram apenas valores da democracia que Trump procurou erodir ao longo de seu mandato. Ele também sabotou a moralidade e a própria decência, fomentando a polarização entre os americanos, misturando seus interesses pessoais com a administração pública e se recusando a gestos praticamente obrigatórios para um presidente, como condenar o racismo.
A maioria dos americanos se deu conta de que Trump não merece confiança e deve rejeitá-lo nas urnas. Há poucas dúvidas de que perderá por boa margem no voto popular. As idiossincrasias do sistema eleitoral americano, contudo, permitem antever cenários em que ele saia vitorioso ou, pelo menos, possa causar celeuma para deixar o posto --o que apenas confirmaria sua vocação antidemocrática.
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