quinta-feira, 30 de julho de 2020

Marcia Barbosa Cérebros fogem do país enquanto fundo de ciência tem R$ 5,2 bi em caixa, FSP


Ao fim de um webinário, ouço a pergunta de um participante: a ciência vai nos salvar? Como pesquisadora, sei que a ciência já salvou minha vida inúmeras vezes. Se vivesse na Europa de 1800, minha expectativa de vida seria de 34 anos, e eu provavelmente não teria chegado aos meus 60 atuais.

Não foi um milagre ou uma conjunção de astros que aumentou a expectativa de vida da população, foi a ciência. Ela ampliou a produção e a segurança alimentar, criou medicamentos e vacinas, inventou tecnologias para tornar o trabalho mais seguro e dinâmico e estabeleceu que diversidade e cooperação são instrumentos de eficiência.

E aqui no Brasil? A ciência gera desenvolvimento não só na formação de recursos humanos. Ela é responsável pela melhoria da produção agrícola, pelo desenvolvimento do etanol na produção de energia, pela criação da insulina humana recombinante, pela compreensão dos processos educacionais e pela estruturação das cidades em países em desenvolvimento.

Mas a produção do conhecimento, como todo relacionamento, requer investimento. E, apesar dos recursos disponíveis para isso, o governo opta por desacreditar o conhecimento. Não pensem que é por falta de grana; as verbas para financiar a ciência de forma regular e ininterrupta existem. São provenientes de impostos específicos administrados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Hoje, enquanto jovens pesquisadores brasileiros vão para outros países em busca de oportunidades, o FNDCT mantém R$ 5,2 bilhões em caixa e apenas R$ 600 milhões liberados para investimento.

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O governo age de forma irresponsável, como se fosse um trabalhador que guarda o salário no banco em vez de alimentar a sua família. Sim, a ciência vai nos salvar, mas só se investirmos nela.

Este texto foi escrito para a campanha #CientistaTrabalhando.

Marcia Barbosa

É professora da UFRGS, diretora da Academia Brasileira de Ciências e membro da Academia Mundial de Ciências. Em 2020, foi escolhida pela ONU Mulheres como 1 das 7 cientistas que moldaram o mundo.

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