“Como diz um adágio polonês, ‘um pessimista não é senão um otimista bem informado’. Eu sou moderadamente pessimista em relação ao futuro. Não acredito que a sobrevivência da democracia esteja em risco na maioria dos países, mas não vejo o que possa nos tirar da presente onda de descontentamento. [...] A crise não é só política; ela tem raízes profundas na economia e na sociedade. É isso o que considero agourento.” Essas são as observações finais de Adam Przeworski em “Crises of Democracy”, seu mais recente livro.
Pelo lado otimista, vale destacar que Przeworski não compra a tese, cada vez mais popular, de que democracia está com os dias contados. Embora a comparação com o surgimento dos fascismos nos anos 20 e 30 na Europa seja frequente, o autor mostra que existem diferenças que tornam uma repetição da história improvável.
Uma delas diz respeito à ideologia. No século passado, tanto a direita (nazistas e fascistas) como a esquerda (comunistas) eram contra a democracia. Hoje, não são mais. Mesmo a direita que nos assombra não pretende substituir as eleições por outro sistema de escolha de governantes. É uma direita que age contra as instituições, mas que não se opõe a ouvir população.
E isso nos leva para o lado pessimista. Para o autor, uma série de desenvolvimentos no campo econômico e na forma como nos relacionamos uns com os outros criaram essa situação em que pluralidades de eleitores escolhem líderes cujas políticas desgastam a democracia. Falamos aqui de fatores difíceis de mudar, como aumento da desigualdade, polarização e deterioração de sindicatos e partidos políticos.
E não venham com aquele papo de que devemos radicalizar a democracia para resolver tudo. Para Przeworski, a democracia não tem poderes mágicos. É apenas uma forma prática de resolver conflitos, que se realiza quando quem perde a eleição deixa o poder. Nem mais, nem menos.
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