18 de julho de 2020 | 21h00
As questões pioraram nos Estados Unidos à medida que a pandemia do novo coronavírus explodiu, mas há sinais no Brasil de um compromisso maior, embora possivelmente apenas temporário, antes das próximas eleições.
Nesse ponto, os detalhes dos ataques diários de Trump e a insistência anticientífica em relação a qualquer medida para garantir uma recuperação econômica em formato de V são de conhecimento universal. Qualquer chance de reeleição depende do retorno ao crescimento econômico e da diminuição das preocupações com a desigualdade racial.
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No Brasil, Bolsonaro tem voltado atrás nos esforços de ameaçar o uso da força militar para garantir a continuidade de sua rejeição a qualquer base científica para a epidemia. Em vez disso, se comprometeu a buscar crescimento econômico imediato, e o ministro Paulo Guedes voltou a conversar com o Congresso. O vice-presidente Hamilton Mourão presidiu um grupo concebido para evitar mais danos causados por incêndios na região amazônica. Cientistas esperam obter uma vacina nos próximos meses. Poucas vezes as agências de espionagem procuraram tão ansiosamente penetrar no sigilo da pesquisa em andamento em outros lugares. Todo país quer ser o primeiro a ter sucesso. Mas alguns já conseguiram se sair melhor do que EUA e Brasil em atenuar a pandemia e voltar à atividade econômica.
Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil os governos falharam em ter um papel positivo. Como as receitas federais diminuíram e o desemprego aumentou, as medidas compensatórias ocorreram tarde. A testagem adequada ficou bem atrás dos níveis necessários e, agora, até a distribuição de informações quanto aos casos foi impedida.
Quando a assistência federal ocorreu, foi direcionada a Estados governados por apoiadores. Pior, nos EUA, um governador proibiu que prefeitos exigissem o uso de máscaras, como um obstáculo à liberdade individual. Esse caso foi parar nos tribunais, que estão sob ataque nos dois países. Leis não são prioridades. Os resultados estritamente desejados, sim.
Há uma troca entre os esforços para buscar uma saúde pública eficaz e uma maior produção econômica. A primeira requer compromisso com a aquisição científica de informações e uma possível restrição à liberdade individual. A última busca a eficiência por meio de decisões baseadas principalmente no lucro. As sociedades devem escolher como ponderar as alternativas. As interpretações do direito constitucional permitem que sua importância relativa varie ao longo do tempo. Crises externas tornam as mudanças necessárias.
Vemos isso no crescente conflito interno que ocorre em todo o mundo. O papel diferencial da polícia é um componente essencial. Sua aplicação das leis não é mais considerada universalmente válida. Em vez disso, suas próprias ações desencadeiam oposição generalizada. Nos EUA, o assassinato de George Floyd foi o responsável pelo início de grandes manifestações. Essas se espalharam por outros países.
À medida que o número de pessoas reunidas aumentou, o mesmo aconteceu com o de policiais. O que há de diferente agora é a universalidade da internet. As imagens mostram histórias de violência e a resposta da multidão é imediata. Por sua vez, a polícia responde e as questões rapidamente ficam fora de controle. Em vários países, a direita se mobilizou em favor de uma presença policial maior, já a esquerda demonstrou mais abundantemente sua oposição, e edifícios foram incendiados.
Nem direita nem esquerda tendem a moderar. Elas desenham fronteiras nítidas, buscando a lealdade dos seguidores. Na ausência de um centro político comprometido com o diálogo, a batalha se torna contínua e nociva. Mas há um resultado mais otimista. O que ocorreu é uma oportunidade especial de avanço ou regressão. A decisão final depende de uma geração mais jovem, capaz e disposta a participar mais ativamente. Para os EUA, o desaparecimento de Trump parece cada vez mais provável, preparando o terreno para o progresso em várias dimensões sociais. Para o Brasil, um futuro semelhante é possível.
Nesse caso, todas as consequências dessa pandemia podem ser uma surpresa maravilhosa. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
ECONOMISTA E CIENTISTA POLÍTICO, PROFESSOR EMÉRITO NAS UNIVERSIDADES DE COLUMBIA E DA CALIFÓRNIA EM BERKELEY. ESCREVE MENSALMENTE
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