Tenho sérias dúvidas de que uma revolução teria feito mais pelo Nordeste do que os governos petistas.
Lula nunca fez segredo do seu projeto político. Via o pobre como parte da solução, não parte do problema. E, diante da enorme dificuldade em transformar democraticamente uma sociedade atrasada, tomou a decisão que lhe parecia mais viável para cumprir os seus objetivos.
Sem aumentar a carga tributária —que nos oito anos anteriores tinha passado de 26% para 32% do PIB—, Lula optou por redefinir prioridades e, nas suas palavras, "pôr os pobres no Orçamento da União".
Como a proporção de pobres era muito maior no Nordeste do que em qualquer outro lugar do país, deu-se uma mudança estrutural que nenhum especialista em desenvolvimento regional esperaria.
O Nordeste, tido pela elite econômica como o peso morto que atrasava o progresso do Brasil, ganhou uma projeção que, apesar de recentíssima, foi, de certa forma, naturalizada.
Cisternas, Luz para Todos (energia elétrica), Caminho da Escola (ônibus escolares), Reuni (universidades e institutos federais), Proinfância (creches e pré-escolas) etc. são algumas das iniciativas conhecidas.
As mais debatidas, contudo, pela escala, foram o Fundeb, o Bolsa Família e a transposição do rio São Francisco, ações das quais Bolsonaro tenta se apropriar.
Matar a fome e a sede de uma mãe e matricular seu filho na universidade passou a ser, no decurso de uma década, uma possibilidade concreta para milhões de famílias nordestinas situadas abaixo da linha de pobreza, enquanto as oportunidades de emprego e renda se multiplicavam em toda região.
Em 1º de abril de 2010, o Twitter do Bolsonaro pontuava: "o bolsa farelo (família) vai manter esta turma no poder". Pois durante a tramitação da PEC de prorrogação do Fundeb —que este governo boicotou o quanto pôde—, Bolsonaro resolveu pegar carona no limite extrateto da complementação da União para fermentar o programa Bolsa Família com a intenção declarada de mudar seu nome para Renda Brasil. Isso depois de comemorar a transposição do São Francisco, obra que recebeu praticamente pronta.
A colunista do UOL Thaís Oyama ouviu de um assessor militar do presidente que "o Nordeste é um campo fértil esperando que o governo faça a colheita" ("Bolsonaro, o pai dos pobres", 26/6/2020). Condizente com a visão do chefe, o militar acrescentou que as viagens não seriam a única ferramenta para a "colheita".
O homem que estima o peso de negros em arrobas e chama os nordestinos de "paraíba" há de receber uma resposta à altura da sua visão agropecuária da nossa gente.
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