Banir o TikTok das lojas de aplicativo poderá fraturar a internet
Em 2018, escrevi aqui na coluna que o aplicativo daquele ano era o TikTok. Estava errado. Ele é o aplicativo de 2020.
Durante a pandemia, a rede social de vídeos consolidou sua posição como um dos apps mais baixados do planeta. No primeiro semestre de 2020, teve o melhor desempenho de um app na história: 315 milhões de downloads. No segundo trimestre, competiu apenas com o Zoom em número de downloads.
O resultado é que mais de 2 bilhões de pessoas já baixaram o app. Com as pessoas trancadas em casa, o app mostrou-se um bom companheiro. Isso se reflete no tempo que as pessoas gastam nele.
Em média, toda vez que um usuário abre o TikTok, fica lá por 294 segundos. Como base de comparação, o tempo gasto no Instagram por sessão é de 144 segundos, em média, e, no Twitter, de 114 segundos.
A explicação está no fato de o TikTok ter sido construído para otimizar o consumo de vídeos no celular. Quando alguém abre o TikTok, ele já começa a exibir vídeos na hora, que ocupam a tela toda do aparelho. Ele não tem um “feed”, como têm o Facebook ou o Instagram.
Em outras palavras, a comida é servida diretamente, sem que o usuário precise olhar o cardápio. Além disso, o TikTok não se importa se você criou uma conta ou não, nem se você tem muitos ou poucos seguidores (o chamado “social graph”).
Além disso, ele dá a oportunidade de viralização tanto para quem é grande quanto para quem é pequeno. Se o conteúdo é bom, a inteligência artificial da plataforma vai testando-o sucessivamente para públicos cada vez maiores, ampliando seu alcance se ele continuar a “performar”.
Além disso, o TikTok adotou um modelo agressivo de parcerias com celebridades. Há rumores de que a plataforma chegou a pagar influenciadores para postar lá.
Investiu também pesado em publicidade. No início de 2019, 13% de todos os anúncios exibidos no Facebook eram do TikTok. A plataforma chegou a gastar US$ 3 milhões por dia com anúncios. Os gastos foram praticamente zerados a partir de abril de 2019. Não era preciso investir mais. O jogo já estava ganho.
Com grande sucesso vêm grandes responsabilidades. O TikTok é produto da chinesa Bytedance. A empresa é considerada hoje a startup mais valiosa do planeta. E uma das mais ágeis. Além do TikTok, já tem produtos na área de música (Resso) e mensagens (Feiliao), para competir com o Spotify e o WhatsApp.
Neste exato momento, o TikTok está sob ataque. Vem sendo acusado de coletar dados exorbitantes dos usuários. Há também ameaças de que possa ser banido nos Estados Unidos, por alegado risco à segurança nacional. Se isso acontecer, a decisão não será fácil.
Banir o TikTok será equivalente a colocar fim ao sonho da internet enquanto rede para a qual ninguém precisa pedir permissão (“permissionless”). O banimento seria o oposto de toda a ideologia do Vale do Silício, de uma rede aberta.
Se for exigido que ele seja retirado das lojas de aplicativos, a decisão poderá fraturar a internet. Terá sabor de ponto final em uma certa inocência da rede que conhecemos até agora.
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