Os muitos que aterrissam no mercado financeiro encontram uma fauna problemática
É ótimo que a cultura de investimento no mercado financeiro venha se popularizando por aqui. Dez anos atrás havia mais brasileiros na prisão do que na Bolsa.
A tendência não arrefeceu com a crise. No meio da pandemia e do declínio dos juros, pessoas físicas continuam acreditando em ações. Já os estrangeiros fogem do Brasil, a despeito de o país estar uma pechincha.
A fauna à espera de quem aterrissa na Bolsa vai sendo recomposta após o meteoro das fintechs. Os grandes bancos sangram clientes para instituições que oferecem retornos maiores e burocracias menores. Quem vai investir tem alternativas.
Os que navegam entre essas opções são disputados por pessoas que distribuem recomendações. Gente por vezes autointeressadíssima, que tortura números e usa comparações sem sentido para propagar as teses mais convenientes. São torcedores não amadores. Quem os vê opinar sobre um ativo não sabe se estão comprados ou vendidos nele.
O chamado Fintwit, o quintal do mercado financeiro no Twitter, guarda vários desses perfis. Demonstram pouca afeição à crítica, abusam da linguagem agressiva e mantêm baixa consistência no discurso.
Quem acredita neles pode pensar que a recuperação virá num V de ângulo interno mínimo. O coronavírus expõe o discurso classista, que aparece até nas bocas mais razoáveis do mercado, fora do Fintwit. Parece normal, por essa ótica, fatiar o problema em dois: de um lado a curva de contaminação dos pobres e de outro a de infecção dos demais.
Não apenas os números estão entre as vítimas dessas pessoas. Torturam notícia também. O pedido súbito de demissão de Sergio Moro pegou algumas delas no contrapé, e o passo seguinte foi dizer que se tratava de fake news. Uma thread da Folha no Twitter expôs os envolvidos.
Desde a campanha de 2018, parte da Faria Lima é criticada pelo coração democrático atrofiado. O coronavírus mostra que há mais problemas espalhados pelo corpo.
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