"Queridos amigos da Deutsche Welle: aqui do sul, meio compartimentado e no meio de uma chácara, há mais de vinte dias sem sair, porque sou velho, porque tenho problemas imunológicos, porque estou "perto da cova" e porque amo a vida, e não quero tornar mais fácil para a foice me levar.
Por tudo isso, tive tempo de ler, quanto analista anda por aí ganhando a vida. E isso me surpreende. Há pessoas que estão vendo que há uma falta de liderança, particularmente no mundo rico, que estamos numa era globalizada. Esse vírus é a coisa mais globalizada que já foi vista. Não deixa um fantoche com cabeça: países ricos e pobres, o que for.
Por tudo isso, tive tempo de ler, quanto analista anda por aí ganhando a vida. E isso me surpreende. Há pessoas que estão vendo que há uma falta de liderança, particularmente no mundo rico, que estamos numa era globalizada. Esse vírus é a coisa mais globalizada que já foi vista. Não deixa um fantoche com cabeça: países ricos e pobres, o que for.
Que não temos ferramentas e que não podemos coordenar políticas comuns do ponto de vista mundial. Mas a falta de liderança não é porque homens e mulheres sejam inferiores. É porque o poder, há muito tempo, a essência do poder, não está mais na representação necessária dos governos. Os governos correm para trás. A essência do poder está na concentração fenomenal da riqueza e, aparentemente, não está na questão.
Aqueles que parecem ter poder político num determinado momento, têm cada vez menos. Então, primeiro assunto. Segundo assunto: muitos anos criticando o Estado, porque, por um lado, havia um modelo estatista do tipo soviético, que acreditava ter resolvido tudo com o Estado. E, por outro lado, surgiram os ultraliberais, que no fundo não são liberais porque se abraçam a qualquer ditadura; que acreditam que o Estado tem que se reduzir ao mínimo.
E quando as batatas queimaram, como agora, todos se voltam ao Estado: que me deem, que exija disciplina, que isso, que o outro. Mas passamos bombardeando o Estado em vez de lutar, para começar a entender, uns e outros, que as sociedades modernas são cada vez mais complexas e que renunciar ao Estado é impossível. Então, a verdadeira luta é que precisamos lutar para ter o melhor dentro do Estado. Porque, na realidade, é o valor coletivo que temos e necessitamos. E por que procurar o Estado? Porque o mercado não pode consertar isso.
Porque precisamos de políticas globais. Porque alguém tem que tomar decisões, certas ou erradas. Porque temos que respeitar essas decisões. Porque temos que nos mover como coletivo, e não que cada louco faça o está de acordo com seus interesses, etc., etc., etc. Acho que alguma coisa de sabedoria temos que aprender com essa crise.
Mas não pensemos que após esta crise virar a esquina, que depois de amanhã, voltaremos a um mundo perfeito, onde nos reuniremos, nos abraçaremos, nos beijaremos, etc. etc. etc. etc. Reuniremos multidões num campo de futebol e algo assim, mas provavelmente por muito tempo, estamos expostos a esse perigo. E o mundo não será igual. Teremos que aprender a funcionar de uma forma diferente. Mas quanto isso vai nos custar, e o preço que vamos pagar, até o dia em que a ciência nos der um conjunto de respostas que hoje está longe de estar ao alcance da mão. Também pode servir para que o sapiens seja um pouco mais humilde e que aprenda que a natureza deve ser acompanhada e respeitada."
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